EUGÉNIO DE
ANDRADE OU O ATO DE CRIAÇÃO DA MEMÓRIA
António José
Borges
URGENTEMENTE
É urgente o amor
É urgente um barco
no mar
É urgente destruir
certas palavras,
ódio, solidão e
crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar
alegria,
multiplicar os
beijos, as searas,
é urgente descobrir
rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos
ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é
urgente
permanecer.
De As
Palavras Interditas – Até amanhã, 2012
Haverá poema mais adequado e oportuno ao Zeitgeist que atravessamos do que este que nos fala da urgência de
construir e destruir como duas faces de um mesmo processo na procura de um
mundo melhor?
No ano do centenário de Eugénio de Andrade (Fundão, 1923 – Porto, 2005),
como não referir a biobibliografia de um poeta deste jaez? Porém, como a
referir? Aproveitamos essa convenção para a contextualizar e mais adiante
evocar o poeta com a leitura de mais um significativo poema seu. Uma leitura,
mesmo...