ANTÓNIO TELMO E TOMÉ NATANAEL, OU A CONTEMPLAÇÃO DE SI
Risoleta C. Pinto Pedro
A Literatura Portuguesa está repleta de manifestações em
que os poetas revelam a sua divisão interior. Atribui-se este estado de ser à
perseguição feita aos judeus na Península, convertidos à força, a partir do
século XVI, sacrificados nas prisões e nas fogueiras. Mas talvez tal condição
seja prévia a este contexto temporal e já estivesse escrita na história, na
epigenética, nas múltiplas perseguições, nas múltiplas conversões. Desde o princípio.
Por alguma razão, uma das entrevistas fictícias que António Telmo escreve é à
revista Princípio, que pretensamente entrevista Tomé Natanael,
anagrama de António Telmo.
Ao longo de toda a linhagem da nossa escrita literária,
está patente a bipartição, a cisão do eu, a dilaceração da alma de um povo, a
ferida profunda na identidade, a duplicidade, mas não só: o próprio antagonismo
interior, a violência da partida, o êxodo e a saudade...