CELINA PEREIRA:
INTÉRPRETE DA CABO-VERDIANIDADE E DA UNIVERSALIDADE
Elter Manuel Carlos
A memória é intemporal (…) Coisas intemporais que são a construção do alicerce da memória de um país que é muito jovem, Cabo Verde, que também tem memórias lusas, porque a nossa mestiçagem vem do português e do escravo africano e de outros povos. (Celina Pereira, Entrevista à RTP).
Celina Pereira (1940, Cabo Verde/ 2020, Portugal) foi
condignamente apelidada, não raras vezes, de embaixadora da cultura
cabo-verdiana na diáspora. Ainda que esta palavra pareça bastante “vulgar” pela
forma como repetidamente é utilizada em diversos contextos, acontece que a
grandeza do empreendimento artístico, estético, social e cultural cunhado pela
nossa homenageada é digno deste nome. O seu elevado esforço de estudo, criação
artística, educação, comunicação e celebração dos horizontes da cultura de Cabo
Verde na identidade e universalidade é indesmentível.
Cantora, escritora, educadora, contadora de histórias,
pesquisadora das tradições orais cabo-verdianas, Celina Pereira, desde muito
jovem, soube serenamente escutar e dar voz a alma cabo-verdiana nas suas mais
diversas e genuínas formas de participação, comunicação e comunhão. Por isso, a
sua voz que, dolorosa e fisicamente silenciou-se nos últimos dias de 2020,
continuará bradando para ser retomada no curso da temporalidade da cultura e
pensamento cabo-verdianos, como voz de infinitas harmonias...
(excerto)