“Quando só houver Europa, depois de abolidas as fronteiras e, sobretudo, depois da unificação da moeda, terá de pôr-se o problema da homogeneização das línguas, porque, dada a prometida livre circulação das pessoas e do trabalho, se todas mantiverem os mesmos hábitos linguísticos, será o caos da comunicação social. Não chegará a escolha do inglês, do francês ou do alemão para os actos oficiais. Será necessário que todos, desde a Rússia até Portugal, falem a mesma língua. O espírito que congrega os homens serve-se de dois agentes: o dinheiro e a palavra, que formam o seu duplo aspecto tenebroso e luminoso./ No século passado, a babilónica inteligência secreta, que trabalha para a homogeneização da Humanidade, não teve, então, a astúcia de principiar pelo económico ou, se teve, guardou-a para melhor oportunidade. Começou logo pelo fim, pela unificação linguística. Mas o esperanto foi um fracasso. Se os dois extremos da cadeia são o dinheiro e a palavra, antes de tentar pôr os povos a falar uma única língua será necessário dissolvê-los, desligando as pessoas da consciência singular de pertencerem a uma Pátria.”
In “O génio da língua portuguesa”, in O Portugal de António Telmo, org. de Rodrigo Sobral Cunha, Renato Epifânio e Pedro Sinde, Lisboa, Guimarães, 2010, p. 181.