Cavaco é decerto uma pessoa estimável e, se a Presidência da República fosse uma espécie de “prémio de carreira”, ele seria das pessoas que mereceria mais esse prémio – pela sua dedicação à causa pública, independentemente de todos os erros que cometeu como Primeiro-Ministro.
Simplesmente, a Presidência da República não é, ou não deve ser, vista como um “prémio de carreira”, como de facto tem sido vista. Para mais, numa altura como esta, de profunda crise do país, em que se exige, mais do que nunca, acção e determinação.
A esse respeito, o mandato de Cavaco Silva não pode senão ser visto com profunda decepção. Tal como Jorge Sampaio – outra pessoa decerto estimável –, que assistiu impotente ao descalabro do Governo de António Guterres, também Cavaco Silva nada fez para evitar o descalabro ainda maior do Governo de José Sócrates, que tudo parece fazer para entregar de novo o país ao FMI (Fundo Monetário Internacional).
É certo que foi dando avisos disso – falando de uma situação “explosiva” e “insustentável”. Mas de um Presidente espera-se certamente muito mais do que avisos. Espera-se acção e determinação. Se ele, de facto, sabia que o país caminhava para uma situação “explosiva” e “insustentável”, deveria, em tempo útil, ter demitido este Governo e, caso não houve outra alternativa, assumir o ónus de um Governo de iniciativa presidencial.
Mas não. Cavaco Silva, escudando-se numa interpretação minimalista dos poderes presidenciais, nada fez, tendo-se limitado a assistir.
Hoje, no anúncio da sua recandidatura, disse que os portugueses “sabiam o que podiam esperar dele”. Isso é verdade. Cinco anos depois, sabemos que não podemos esperar nada. A não ser avisos...
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