A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ALEXANDRE HERCULANO E O BRASIL

DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA COELHO


No ano do 2º centenário do nascimento de Alexandre Herculano (1810-2010) abordemos as ideias que o introdutor do romance histórico em Portugal tinha acerca da grande nação irmã.

Servem-nos de referência dois artigos escritos pelo autor de O Monge de Cister nos dois primeiros números da Revista O Panorama, datados dos anos de 1837 e 1838.

Pioneiro do intercâmbio entre Portugal e o Brasil, Alexandre Herculano abordando esta problemática, escreve o seguinte no primeiro número da Revista Panorama, de 1837:

Ainda que hoje vasto império, separado de Portugal, forme por si uma nação independente por todos os títulos, não deixam contudo os brasileiros de ser irmãos dos portugueses.”

Explicando a separação entre as duas nações, o autor das Lendas e Narrativas argumenta do seguinte modo:

“Porque uma grande família não pode viver reunida, segue-se, por ventura, daí, que os membros de que ela se componha, sejam entre si estranhos? Se um filho chegado à idade viril, saiu de sob a tutela materna, deverá sua mãe, amaldiçoá-lo por isso? Neste caso está o Brasil, a sua idade viril tinha chegado. Mais rico do que Portugal; com uma civilização sempre progressiva; produzindo génio, e homens extraordinários, era absurdo ou antes impossível que os seus habitantes deixassem de conhecer que Portugal não tinha jus a tratá-los como colonos. A consciência desta verdade, causou a Revolução do Brasil e a revolução era justa. Nós tentámos a sorte das armas porque o orgulho nacional fora ofendido; mas a sorte das armas nos foi contrária e a independência do Brasil foi reconhecida.”

Depois de explicada a separação entre os dois países, Alexandre Herculano não se coíbe de enunciar os caracteres que unem as duas nações irmãs:

“Esses acontecimentos pertencem já à história; os ódios recíprocos estão extintos e os dois povos ligados por laços de sangue, falando a mesma língua, seguindo a mesma fé; habituados a usos e costumes mui semelhantes, nada mais devem ser do que aliados fiéis e amigos sinceros. A razão, a política, e até a religião aconselham estes sentimentos a ambas as nações.”

De seguida, o autor de O Bobo denuncia algumas atitudes nocivas para Portugal:

“O nosso povo não conhece isto inteiramente [as vantagens da aproximação entre os dois países]; ainda não percebe até que ponto a fraternidade com os seus irmãos de além-mar lhe pode ser vantajosa. Afiguram muitas pessoas o Brasil como um país ainda inculto e bárbaro; crêem que a civilização, as artes e os cómodos da vida são apanágio só dos europeus. Erro miserável que cumpre derrubar pelo pé.”

E as atitudes a tomar para combater essas mesmas atitudes:

“Importa fazer saber ao povo a verdade e destruir preocupações vãs que só servem de transviar o espírito público do que lhe pode ser proveitoso. Nós, pela nossa parte trabalharemos nisto com ânimo sincero de ser úteis aos nossos compatriotas; e das pessoas ilustradas do império brasileiro receberemos quaisquer notas ou rectificações, que tiverem a bondade de nos comunicar, sobre o que escrevemos acerca do seu país.”

Alexandre Herculano enuncia então, os sectores de actividade (agricultura, comércio, navegação e indústria) em que a antiga colónia portuguesa se mostra de uma grande fortaleza:

“O Brasil é uma terra de esperanças. As produções quase espontâneas do seu extensíssimo solo, regado por tantos rios caudais que facilitam o trato do comércio, o tornam independente dos outros povos, ao passo que estes dele carecem para muitos objectos que se têm convertido em necessidades da vida. À sombra de boas leis, e se alcançar a tranquilidade interior, aquele império crescerá cada vez mais em navegação e em indústria; assim o horizonte do seu futuro brilhante não é fácil: (difícil) de compreender.”

Como afirmámos atrás, Alexandre Herculano dedicou um segundo artigo à nação irmã, publicado no nº 2 da Revista O Panorama, em 1838, intitulado “População carácter, usos e costumes dos habitantes, produtos”. Assim, começando por caracterizar o povo brasileiro, escreve:

“Se entre eles se considerarem individualmente os homens das raças diferentes e até opostas, de que a Nação é formada, dificultoso empenho será fazer uma ideia apurada do carácter nacional, cujos principais toques são a vivacidade e a agudeza juntas a certa leveza, que nem sempre a reflexão alcança moderar. Têm comummente os brasileiros notável aptidão para o estudo das ciências e das boas letras e é de esperar «que de futuro venham por esta parte a servir de modelo do Novo-Mundo»”.

É de realçar que, muito antes de Stefan Zweig e outros intelectuais que defenderam que o Brasil seria o líder do Novo-Mundo, já Alexandre Herculano entrevia que o país irmão era a nação do futuro, ao mesmo tempo que, chegava ao ponto de caracterizar os comportamentos de alguns habitantes de regiões significativas como, o paulista, o mineiro, o sergipano e o pernambucano.

Saliente-se que Herculano baseava os seus juízos no livro do bispo de Pernambuco, Azeredo Coutinho, intitulado Ensaio Económico sobre o Comércio de Portugal e suas Colónias, e onde se combate a tese de Montesquieu em que o filósofo francês defende a falta de habilidade e de carácter dos povos de países quentes.

Alexandre Herculano defende os brasileiros, salientando a não existência de racismo no Brasil, quando escreve:

“(…) em nenhuma região do Novo-Mundo são mais bem tratados os pretos; e cumpre notar que as distinções que nascem da cor da pele são no Brasil menos sensíveis do que em qualquer outra parte.”

O conhecimento do autor da História de Portugal acerca do Brasil é de tal modo específico que, termina o artigo que vimos referindo, enunciando as várias produções do subsolo brasileiro:

“ (…) pedreiras de granito nas vizinhanças do Rio de Janeiro; pedreiras de pedra calcárea, de pedra de afiar e de amolar, de lousa, de amianto; pedreiras de mármore no distrito de Sabará; pedras preciosas em Minas Gerais e outras partes do Brasil [mas] tem menos valor que as da Índia Oriental. Platina na Serra de Mendanha; chumbo no Rio de S. Francisco, zinco em Tocayos.”

Relativamente ao ferro, Herculano seguindo as informações do Barão de Eschwege, escreve:

“(…) o ferro é tanto em Minas que teria sido suficiente para abastecer todo o mundo, sem que nunca ali se esgotassem as minas dele.”

Antes de terminar o artigo, Herculano refere sumariamente as espécies vegetais com características medicinais e as que servem para construções:

“(…) é grande a abundância de madeiras para navios, transportes e construções de todo o género”

ao mesmo tempo que, cita a importância da pecuária,

“cria-se naquela região maravilhosa [Pernambuco] grande cópia de gado, sendo o vacum tanto que se matam centenas de bois só para lhes aproveitar o couro”

e da pesca:

“Pelos mares e rios do Brasil vivem cardumes de peixes e as pescarias da Nação podem chegar a grande apuro.”

A finalizar, diremos que, Alexandre Herculano ao escrever estes dois artigos sobre o Brasil, revela uma agudeza de espírito e uma capacidade de previsão, que apenas é exclusivo dos grandes génios. Pensamos assim, que esta é a melhor homenagem que podemos fazer ao Homem, ao Intelectual e ao Historiador, na passagem do segundo centenário do seu nascimento.