A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ainda sobre Saramago

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Um Labutador ou um Provocador?

J. Jorge Peralta


“Defendeste a pátria? Cumpriste o teu dever.
A Pátria foi ingrata?! Fez o que costuma fazer.”
(P. Antônio Vieira)


1. Um Homem Paradoxal

O aguilhão de Saramago talvez nos faça falta. Poderemos não concordar com ele, em algumas de suas diatribes polêmicas, no entanto, não podemos negar sua coerência de homem livre. Por outro lado, ele carregou consigo um grande mérito: Suas posições políticas, como cidadão, não interferiram em sua obra: não fez literatura partidária.

Politicamente, no entanto, teve atitudes, para muitos, abomináveis. Ninguém é perfeito... Até dos seus erros podemos tirar ensinamento.

Saramago com sua vida e obra, com seus defeitos e virtudes, estará no Panteão da Lusofonia, quer queiramos quer não.

No Panteão da Lusofonia não cabem ódios nem rancores. Saramago não colocou ódios ou rancores na sua obra. O tempo o absolverá de seus erros políticos. Restará sua obra. Esta o elevará.

Acredito que está na hora de Portugal redescobrir Saramago, sem preconceitos, como um de seus filhos amados, apesar dos pesares.


2. Saramago foi um homem e um artista que teve como seu grande mérito, o seu esforço por acordar a sociedade de certa letargia: provocou as pessoas para que refletissem, em busca da consciência do ser. A rejeição que ele teve faz parte dessa tomada de consciência...

A incredulidade que ele tanto propagava, acredito que faz parte de seu processo de provocação à sociedade para que sua fé não seja em decorrência de uma tradição formal, da inércia e de uma vontade de ser igual e de não destoar do meio em que convive.

Talvez uma afronta, subconsciente, ao “pensamento único” e “inquestionável” que move ações e atitudes, mas não move corações, convicções e sentimentos coerentes, e conscientes.

Não move o espírito.

Suas polêmicas acordaram muita gente. Ribombaram como trombetas...

Mas as pessoas não gostam de ser “perturbadas”, como os homens não gostam de ir ao médico.


Mesmo quando acusou Deus e todas as religiões, por todos os males e misérias do mundo, por todas as guerras e maledicências, provocando um grande terremoto de agressões e contestações e constrangimentos, acredito que foi mais um ato provocativo de bom resultado. Fez as pessoas pensarem e reagirem. Despertou consciências.

Acordou os que estavam sonolentos, “estagnados”, no átrio das igrejas.

Ajudou a curar a cegueira de muitos...

Até o seu último romance, “CAIM”, com todas as suas inconsistências, foi uma obra que, socialmente, deixou um saldo positivo. Provocou uma grande corrida à Bíblia, para conferir os textos originais...


3. Sejamos Críticos, mas não Injustos

Podemos e devemos ser críticos, mas não injustos. Não podemos demonizar as pessoas.

Podemos não concordar em tudo o que Saramago agitou, mas não podemos deixar de reconhecer o valor de sua lealdade a princípios, até quando abala alguns dogmas da Igreja. Até quando venerou o “bezerro de ouro” do poder despótico e deletério de seu país, que nos causa repugnância.

Naturalmente podemos discordar de muitas de suas posições, mas não podemos deixar de dar valor à sua bela história humana.

Tanto política como literariamente, Saramago foi um homem coerente. Nunca temeu perder leitores com suas atitudes. Isto ninguém pode negar. Foi um homem de coragem. Ao contrário de muitos que o criticaram...

Saramago foi um homem simples. Um homem dedicado à sua obra.


4. Vai-se o homem, fica a obra. Devemos perdoar-lhe (?!) alguns de seus eventuais desvios, mas não podemos de deixar de apreciar o difícil percurso, seguido por um homem humilde de nascimento, que conseguiu subir todos os degraus da fama e encantar milhões de pessoas, com mérito e qualidade. Saiu do anonimato, para se projetar na história, como um vencedor que, com sua obra literária, deixou o mundo mais belo.

Acredito que não vendeu sua alma ao diabo... Se vendeu, recuperou-a.


Já vi pessoas lendo Saramago nos lugares mais inesperados, como em praias do Brasil, em banco de praça e nos metrôs de Lisboa... etc, etc.

Foi um grande escultor da frase e um genial contador de histórias.

Diz uma grande crítica literária brasileira:

“Com ele, a Língua Portuguesa readquiriu, ao mesmo tempo, a majestade de um Vieira, o humor de um Eça de Queirós e a beleza poética de Pessoa prosador” (Leyla Perrone-Moisés).

Chico Buarque fala de Saramago como “um ser humano admirável, um escritor imenso, um zelador apaixonado da Língua Portuguesa”.


Sei que estas ideias são uma reviravolta naquilo que muitos pensam em Portugal sobre Saramago.

Precisamos repensar sempre nossos conceitos, quando surgem novas luzes. Não nos fechemos à luz, como as ostras.


5. Saramago no Brasil

José Saramago tinha profunda estima pelo Brasil, que muito admirava.

No Brasil tinha e tem muitos milhares, talvez milhões de admiradores. Aqui veio muitas vezes. Sentiu o coração do Brasil palpitar no ritmo e com a força do coração português. Era e é o autor mais vendido da etiqueta literatura estrangeira. Aqui falou sempre bem de Portugal.

Do Brasil dizia:

“Somos gente da mesma família,

de uma mesma língua,

de uma mesma cultura que é, embora diferente, a mesma”.

Para ele, o Brasil e Portugal estavam fadados a viverem unidos.

Saramago sempre se sentiu muito bem, entre os brasileiros, que retribuíam com grande carinho. O Brasil é um novo Mundo.

No Brasil encontrou o céu em vida. Foi muito amado, aqui. Porque ele era muito bom. Mas nem todos souberam ver o que ele nos oferecia...

Em Portugal Saramago foi muito antipático. Isto é questão circunstancial; não diminui o valor de sua obra e de sua vida.

Precisamos apreciá-lo com certa objetividade, desapaixonadamente, para não sermos atropelados pela história. Saibamos que a realidade tem muitos ângulos, e não só um.


6. Saramago vai ao Paraíso

Até Deus Pai, lá do Céu, quando Saramago chegou, foi recepcioná-lo à porta, junto com São Pedro, o homem das chaves.

Deu-lhe as boas vindas, com um grande abraço. E ele encabulado... sem dizer nada...

Tinha aqui na terra, falado muito mal de Deus e do seu Cristo! O Pai logo atalhou: filho, eu ausculto os corações... Quando falavas mal de mim, criticavas o que eu não era e não a mim. Criticavas porque amavas o que eu sou. Eu sou justo e generoso. Sou a Sabedoria.

Muito do que fizeste, às vezes por caminhos tortuosos, fez as pessoas pensarem e acertarem suas vidas. Tiraste muita gente da monotonia e da inércia.

As pessoas te criticavam mordazmente e com razão; mas fizeste-as pensar. Já te deram a pena que mereceste.

Vem comigo. Também aqui terás por missão provocar, em todos, um sorriso largo, com teu humor e teus paradoxos. Precisamos inovar sempre... Precisamos despachar mais sinais de esperança para teus irmãos, lá na terra de onde vens.


7. O Grande Legado de Saramago

A vida e a obra de Saramago, o segundo Prêmio Nobel da Língua Portuguesa, têm algo de monumental que apela à nossa consideração.

[Nosso primeiro Prêmio Nobel foi o Médico, Dr. Egas Moniz, (1949). Um grande homem.]

Quaisquer que sejam as nossas apreciações, Saramago é um imortal, em dimensões de literatura universal.

Saramago saiu da vida e entrou na história.

Na história ele continua vivo, em outra dimensão. Ninguém conseguirá tirar-lhe o que lhe pertence. Os méritos são dele.

Seus críticos vão e ele fica.


Agora cabe a nós fazermos a nossa lição de casa, sem preconceitos e sem simplismos.

Compete a cada um de nós detectar onde está os melhores tesouros que nos legou.

Se soubermos olhar, apesar dos percalços, o saldo é muito positivo. Merece o nosso apreço e a nossa consideração.

A posteridade, apagados os erros de percurso, saberá lhe fazer justiça, enaltecendo a sua imagem.


Não podemos repetir o que o país tradicionalmente fez com as pessoas que mais se destacavam no seu povo. Estas, de praxe, são renegadas por seus contemporâneos. O P. Antônio Vieira, um dos maiores ou talvez o maior sábio do século XVII denunciou este costume execrável, de que ele quase foi vítima.

É de Vieira esta frase constrangedora:

“Defendeste a pátria?

Cumpriste o teu dever.

A Pátria foi ingrata?!

Fez o que costuma fazer.”

Lembremo-nos de que Camões, se não fosse a dedicação de seu escravo, teria morrido de fome. E que Pessoa também foi rejeitado por muitos, no seu tempo. Vieira, se não fosse tão sagaz, teria sido queimado pela Inquisição, e foi uma das maiores inteligências da História de Portugal e do Brasil, de todos os tempos.

Aguardemos o que o futuro dirá de Saramago. Ele ainda está muito vivo. Como estará daqui a 50 anos? Se ele merecer a glória, glória terá.