A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
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Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quinta-feira, 18 de março de 2010

Giambattista Vico e a Filosofia da História Portuguesa

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DALILA PEREIRA DA COSTA

As linhas de força do pensamento deste filósofo italiano de Seiscentos, expostas na sua grande obra Scienza Nuova, como filosofia da história, se mostrarão de grande fecundidade para uma sua possível aplicação e abordagem hermenêutica na história de Portugal: e agora, mais do que nunca, nestes nossos dias actuais, de urgente consciência da identidade nacional. Pois, misteriosamente, essas linhas de pensamento de Vico, estarão em sintonia perfeita com as que estruturam nossa história, – desde os arcanos que as criaram, primigénios.
Releve-se, entre outras, a do Providencialismo, como nossa mais peculiar e fecundante, da filosofia da história, criada na Alta Idade Média, precisamente no século V, pelo galaico Paulo Orósio, e ainda herdada de seu mestre, Santo Agostinho. Providencialismo ao qual se poderá ligar a própria afirmação do próprio Vico: que o homem não é essencialmente o autor da História, mas sim, desde o transcendente, o “Senhor da história”, Deus. Autor assim da história comandando-a e dela independente. Uma muito visível abertura informa seu humanismo, construído para além dos limites do imanente, definidos pela visão antropocêntrica do humanismo renascentista.
Aqui e ainda, a figura soberana de D. Afonso Henriques, surgindo como exemplo desses fundadores carismáticos das pátrias, de que nos fala Vico; e na realidade portuguesa, marcada ainda pela mão dessa providentia, como agente sobre a terra da vontade do “Senhor da história”. Na Nação portuguesa, seu Fundador recebendo em Ourique um mandato pelo próprio Cristo Crucificado, que iria no futuro, por si, sua descendência e seu povo, tecer, organizar e justificar toda a história dessa Nação, à medida universal: como missionária sobre a terra inteira, unindo toda a humanidade sob uma só fé.
Se atentarmos ainda na eleição que o filósofo napolitano concedeu à poesia, como via privilegiada do conhecimento, nesta sua função, ela aclarará em muito o conhecimento da história pelos humanos: veremos assim um dos vectores que teceram este conhecimento em relação a nossa história pátria: e muito em especial posto em relevo e usado por dois de seus maiores historiadores; Garcia de Rezende e Oliveira Martins.
Na grande actualidade da filosofia da história de Vico, haverá como um especial convite, agora premente, aos portugueses, na sua função noética: formulado há três séculos, e agora tão actual, nestes nossos dias de fins de tempos e começos de outros novos, nos quais a humanidade surge em queda livre, de ritmo acelerado, levando a uma sua possível animalidade. Queda, tal como Vico poderia dizer: na sua inconsciência se sobrepondo à consciência da humanidade e tendo como fim o fim das histórias.
Será notável exemplo, justamente neste século de Descartes e seu racionalismo extreme, conquistando em toda a força o pensamento ocidental (e até nossos dia), que, contemporaneamente, surja Vico, com seu pensamento tão aberto e aceitante de funções gnoseológicas ultra-racionais; valorizando assim a imaginação, a intuição, o sentimento. E se atentarmos, que todo o pensamento e vivência dos portugueses trabalhou em preponderância por essas vias primevas e na forma fenomenológica peculiar, tal como já apontada pelo nosso rei filósofo, D. Duarte e por ele usada: tal afinidade entre o pensamento de Vico e dos portugueses, partilhando uma mesma axiologia no campo noético e existencial, deverá agora ser tema de meditação para nós: utilizando o ensino de Vico para um nosso auto-conhecimento.
Atentemos que foram essas vias ultra ou transracionais, que os portugueses utilizaram no seu conhecer e sua acção, do mundo e no mundo; e que a razão iria desenvolver conjuntamente, explicitando e organizando; vias próprias que Vico designou e esperou como aquelas do homem fantástico do futuro. E teria já sido esse homem, que, a partir da imaginação foi primeiro em busca das ilhas paradisíacas na rota do ocidente: iniciando assim sua obra universal da Descoberta: e para a humanidade, iniciando seu novo ciclo histórico, como Idade Moderna.
Nesta escolha de vias gnoseológicas por Vico, elas tão dissemelhantes às do racionalismo então reinante nesse seu século, teremos para nós, portugueses, um enfoque útil a usar agora para nossa filosofia da história. Serão as luzes de sua modernidade, como dum percursor de tantos valores da actual teoria do conhecimento, que agora nós devemos usar para vários enfoques novos de nossa história, levando-nos a vislumbrar e construir o que o próprio Vico chamaria por si, a história ideal eterna de Portugal.
E será ainda esta história, construída entre poesia e teologia, a que o Conde de Barcelos, D. Pedro e Frei Bernardo de Brito, concederam à sua pátria.
Numa dimensão desde as descendências bíblicas, passando pela Grécia, Roma e Idade Média: através de vários ciclos históricos, em nascimentos e mortes sucessivas, como fins das histórias e das nações, até seus ressurgimentos: no dizer do próprio Vico.
Ainda nesta amplitude da história, se virá inserir por Vico, porque fiel discípulo de Platão, a valorização do mito, como em si contendo as verdades essenciais e fecundantes da história.
Portugal, surgindo através de seus tempos criado em tessitura unida e inseparável de mito e história (ou a história como criação do mito) – tudo agora e ainda, se afigurará aos portugueses vital no ensino de Vico; como repto para decifrarem as raízes de sua própria história. E finalmente não valorizarem como só possível aquela história vista e descrita nos moldes unicamente historicistas. Mas sim, história fazendo-se no tempo, mas ao tempo transcendendo, na sua origem e fim: que nela, foi sempre teleológico. Manifestando-se no tempo da terra mas a ele subindo desde as raízes secretas do mito preexistindo na eternidade.
Aqui e agora, porque tudo nestes nossos dias se ligando ao perigo iminente dum fim da humanidade, haverá a atentar na afirmação suprema de Vico: que os homens enlouquecem ao desaparecer em si a substância espiritual, sustentáculo de sua vida em comum. Ao elanguescimento e frenético ser do homem actual, urgirá pôr fim; e urgentemente, in extremis, dar-lhe a força espiritual que contrabalance e se una à força material: hoje desencadeada e usada imprudentemente em toda sua violência, pelo orgulho do homem actual, na sua imaturidade. Perfazendo-se assim o necessário equilíbrio humano e cosmológico, hoje ameaçado de morte; se o homem não quiser precipitar-se de vez numa catástrofe apocalíptica, tal como essas do seu longínquo passado, marcando o fim duma era. Será para evitar esta possível catástrofe e para o evento dum tempo novo, para o qual o ensino de Vico nos pode conduzir.