A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quarta-feira, 3 de março de 2010

Da res publica pessoana - Uma colagem de fragmentos

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por Catarina Inverno

“Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos – porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos – de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regímen a que, por contraste com a monarquia que o precedera, se decidiu chamar República.”

Contrária ou não à Monarquia, a República surgiu como uma nova forma de organização do poder, abafando-se a questão hereditária nos princípios republicanos de eleição directa ou indirecta da cara do poder de decisão. A expulsão do soberbo Tarquínio em 509 a.C. em Roma, como tantos outros exemplos que a História guarda nos seus alfarrábios, desenha a República numa expectativa «ciceriana» de ênfase do bem comum relativamente aos interesses particulares numa associação de direitos que devem espelhar a vontade popular. Da citação fragmentária transcrita de Fernando Pessoa enfatiza-se do mesmo modo a caracterização dos homens que se revelaram com o regímen – são os “bandidos da pior espécie” que, “pessoalmente, bons rapazes e bons amigos” se duplicam em alguma dose de “ideal verdadeiro” em “grandes patriotismos íntimos” num país que então considera preparado para a anarquia, mas não para o republicanismo.
Para Pessoa, a República teria vindo muito cedo – não por falta de organização ou porque o republicanismo se tivesse “organizado numa orientação má”, mas porque não suficientemente nacionalizada: o partido “era insuficientemente português, posto que insuficientemente republicano”. Apela assim o poeta nos seus escritos (não poetizados) sobre a República à criação de “um novo partido adequadamente apto a compreender, integrar e representar” o que de regenerador existia em Portugal e ao desdenhar do tumulto do progresso impensado promotor de degenerescência e debilidades sociais. Esses homens capazes, quase messiânicos, que aguardava – não na timidez dos patriotismos íntimos de outros que critica, mas publicamente – não eram os missionários do período revolucionário que a História denominou nas suas páginas, mas os que se poderiam revelar-se verdadeiramente construtores de uma nação no futuro.
Para Pessoa, “a monarquia havia abusado das ditaduras” e os republicanos legislariam em ditadura leis - como a lei do divórcio ou as leis da família – não submetidas a qualquer espécie de cortes; a monarquia desperdiçara dinheiros públicos e os republicanos haveriam multiplicado “os escândalos financeiros da monarquia”, assim como o estado revolucionário que acreditava alimentado por esta; a monarquia havia unido revolucionários anarquistas e republicanos e a acção republicana haveria então revolucionado republicanos e tornado revolucionários (alguns) monárquicos, instituindo também assim “a desordem múltipla”.
Pessoa critica: “não melhorámos em administração financeira, não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade”; e num tom escabroso vê na alma embandeirada do republicanismo português o vermelho-sangue derramado e o verde de que, “por direito mental, [os republicanos]devem alimentar-se”. Mas o autor de Mensagem, num colorido irónico quase queirosiano, em considerações pós-revolucionárias encontra benefício no momento nacional como o entende: “ainda bem que isto vai mal, porque isso é a nossa salvação”, até porque “o estado de cousas social não muda de momento”, mas se começa a exercer “sobre ele obscuramente a influência de uma outra corrente” purificadora que “lentamente vai alterando esse modo-de-ser social”.
Pessoa afirma: “destruir a Monarquia não é só retirar o Rei: é também , é sobretudo substituir os tipos de mentalidade governantes por outros tipos de mentalidade”, pelo que sugere a governação por meio de classes “até ali não experimentadas como governantes” – em vez dos “políticos de profissão” passariam a governar os comerciantes ou os industriais por exemplo; mas, quando em prática uma “pseudo- -reforma, viu logo o país que a abolição da Monarquia não tinha abolido a política monárquica, (…) viu logo o país que o problema cultural ficava na mesma, (…) viu logo o país que a política contra o capital redundou em prejuízo dos consumidores, em detrimento do comércio, em hesitação para a indústria – e, assim, o país se virou contra os homens da República, porque “supunham os portugueses que uma revolução traz benefícios; e supunham bem; mas supunham que os traz logo no dia seguinte” quando “o que se segue a uma revolução é a anarquia (…)” e “só depois de ter passado o período anárquico da revolução é que lentamente chega o período das reformas, para o qual, afinal, a revolução foi instintivamente feita”.
Reconhece no seu presente Pessoa que “trinta e um anos durou o período revolucionário da Monarquia Constitucional portuguesa”, “oitenta e um anos durou a República Francesa”, “quarenta e oito durou o da Monarquia Constitucional da Inglaterra”.
Na História de hoje o que se enfatiza em Portugal é a celebração no presente ano do centenário da República nacional numa res publica de voto para mulheres e homens – cidadãos nacionais, europeus e de um mundo tão global como se sem fronteiras. Hoje é assim.