“Nada há mais lisonjeiro para os amadores do génio do que conceber o génio como todo-poderoso senhor da vida dos homens. Mas quem zela mais a verdade do que os senhores homens de génio sabe que o génio ou é espírito ou nada é. Se é espírito, ele não pode conduzir, dirigir, guiar, coisas estas que o espírito ignora (o espírito verdadeiro mostra, não conduz). Muitos homens puseram, certamente, o seu génio a servir as próprias ambições. Eles quiseram conduzir, dirigir, guiar, acabaram por ser conduzidos, dirigidos, guiados para o que muitas vezes não esperavam, e não poucas vezes para a morte ou para a ignomínia. Os séculos volvem uns atrás dos outros e os homens de espírito vão atraiçoando a sua missão continuam a pregar que conduzem, que dirigem, que guiam. Ora quando todos os homens compreenderem o não-sentido disto e se convencerem de como cada um cumpre guiar-se a si mesmo, convicção que não seja mera convicção externa, mas que traga consigo o sentido da necessidade de transmutação profunda dos valores do sentir, saber e julgar nela implicados, o sentido do esforço pessoal e de incomunicáveis resultados a realizar para atingi-lo, começará a vida sobre a terra. Até isso só poucos vivem, até lá está-se na fase de preparação da vida, não na vida.”
|José Marinho, “Sociedade e rebanho”, in Ensaios de Aprofundamento e Outros Textos, INCM, 1995, pp.123-124.
Publicado por Paulo Feitais no blogue da ENTRE:
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