"Nessa altura já Salazar estava doente, morreu acho que um ano depois de eu estar em Portugal e aparecer por aí. Já estava governando, ou já estava governando ou tinha tomado uma parte do governo ou qualquer coisa assim, Marcello Caetano, com quem eu tinha tido um encontro pouco amistoso na Universidade da Bahia, e um amigo aqui ficou muito aflito e foi perguntar se não havia inconveniente em eu vir até Portugal e ele deu a resposta inteligente e certa - "Vocês julgam que eu sou algum selvagem?". E eu vim, não houve atrapalhação nenhuma, a não ser, a não ser... Eu ignorava uma coisa qualquer da lei portuguesa que obriga a dar o endereço da pessoa, a que se chega a Portugal do estrangeiro. Então, como eu não tinha dado o endereço, veio a polícia política, não, foi a outra, mas percebia-se que fosse a polícia política porque era ela que estava encarregada do serviço de fronteiras, de maneira que ela veio à minha procura como polícia de fronteiras e não polícia política. Bem, fui dar a explicação, realmente tinha-me esquecido, não sabia, mas ficou a coisa perfeitamente elucidada e me deixaram quieto e tranquilo a assistir a todas aquelas mudanças."
Agostinho da Silva, inédito
Consulte outros textos on-line em:
www.agostinhodasilva.pt