A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ainda sobre Pascoaes

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Pascoaes: Portugal, a Guerra e a Europa
Pedro Baptista

Que Teixeira de Pascoaes se sente no seu reduto quando dirime nas páginas da centenária “A Águia” não é de espantar, pelo seu lugar de fundador e de proeminência maior na direcção da revista, mais ou menos explícita, nas suas várias fases.
É todavia curioso verificar que, para responder a um inquérito de Mário Salgueiro a propósito da Guerra, em 1915, Pascoaes, à altura co-director de “A Águia” com António Carneiro, se tenha esquivado a responder em as páginas de “O Mundo” e tenha afirmado que “quem possui casa própria não anda pela dos vizinhos”, além de que, “o homem só é sincero debaixo das suas telhas” pois não gosta “de tomar a “atitude constrangida que a etiqueta nos impõe diante de estranhos”. Demais, Pascoaes não pretende misturar-se com os respondentes de “O Mundo”, que se autotitulam “Intelectuais portugueses”, porque não se considera intelectual nem o quer ser, antes se assume como “um provinciano macambúzio, com taras agoirentas de mocho, que canta melancolias remotas quando a sombra o embebeda” a modos que um “João Moleiro Maluco” que soletra “etéreos disparates nas estrelas” !
É pois em “A Águia”, o seu espaço religioso de estar e de dormir desenhado pelas suas próprias mãos, capela da liberdade e da autenticidade, que responde, à sua maneira, ao inquérito, não tanto às perguntas que lhe colocam, antes aos problemas que entende que se devem colocar ao abordar a questão da Guerra, a correr o seu primeiro ano.
Pascoaes não se coarcta de tomar partido, de forma radical, aos vários níveis, a favor dos Aliados e contra a Alemanha. Fá-lo na linha de quase todos os renascentes e de grande parte da intelectualidade portuguesa, caindo num certo maniqueísmo em que a França se identifica com Deus e a Alemanha com o Diabo, desenrolando a lista imensa das virtudes franco-britânico-russas, sem esquecer as belgas e as italianas, que elevam a espiritualidade da humanidade, sobretudo as gálicas, reduzindo a Alemanha a uma caterva pavorosa de tecnocratas e industriais apostados em reduzir o género humano à dimensão mais básica da bestialidade e do interesse. Mesmo na ciência e tecnologia, há que distinguir a criação desinteressada da ciência nova por Lavoisier, dos alemães que investigam “o processo mais eficaz de matar, fazendo da Ciência o que os inquisidores fizeram da lei de Cristo”. Numa palavra e grosso modo, Pascoaes distingue a Raça Latina, constituída por “povos quixotescos, nossos irmãos na loucura”, no sentido cultural que sempre dá a “raça” e que lhe permite uma imensa abrangência que vai de S.Francisco de Assis, Balzac e Dante, a Shakespeare, Maetterlink e Tolstoi , tudo muito superior a “todos os romancistas, poetas e dramaturgos alemães” o que é de um sectarismo e de um simplismo para com a pátria de Goethe, Holderin e Scheller para nós, hoje, incompreensível, mas que era a fruta da época, correspondendo também ao discurso de um Leonardo Coimbra, decorrente da prática da beligerância a que poucos espíritos republicanos se terão conseguido furtar, destacando-se entre estes o de Aquilino Ribeiro ou o de Newton de Macedo.
Inconscientemente, habilidosamente ou por alguma razão que não explicita e de cuja existência somos forçados a duvidar, Pascoaes, nesses tempos em que o pensamento francês vinha de ser dominado pelo neo-kantismo, evita falar dos filósofos germanos onde se teria de confrontar com a “bestialidade” de um Kant, de um Hegel, de um Fichte, de um Schelling, de um Max Stirner, ou de um Feuerbach ou Nietzsche.

Mas o mais importante e interessante neste texto de Pascoaes, publicados que estavam já “O Espírito Lusitano”, “O Génio português…”, a “Era Lusíada” e a “Arte de ser português”, é a continuação da identificação da nação com o volsgeist, o espírito do povo, em particular nós os portugueses cujo “grande erro é não atingirmos a vida patriótica. Glosando as teses já apresentadas nas obras citadas recentemente publicadas, Pascoaes avança conceptualmente afirmando que “ a nossa miopia só nos permite ver as formas de governo”, dependendo da nossa opção governativa as nossas posições em relação à nação, mutatis mutandis, é o nosso republicanismo ou monarquismo que define o beligerante a apoiar.
Se amamos a França não é pelas verdadeiras razões, apenas por ser republicana e sermos republicanos. Se amamos a Alemanha, ou melhor, nas palavras pascoalinas, se somos germanófilos, é por sermos monárquicos, com algumas excepções, não porque conheçamos ou amemos o povo alemão.
Como haveria ser de outro modo se nem sequer a Portugal conseguimos amar? Quadro negro. A politização dos portugueses tomou-os no pior sentido, no sectário. Por isso há apenas políticos, Portugal não existe, existem unicamente os partidos. Se a vitória da França assegurasse o retorno da monarquia todos os monárquicos seriam francófilos E vive-versa.
Toda a miséria moral em que se vive, explica esta nossa posição utilitária – trapaceira, mesmo – perante a guerra.
Quando o importante seria definir as relações que devem unir Portugal e França, revelando “o ideal português” e, para lá dele, “o ideal latino” que, sem prejuízo da personalidade das pátrias irmãs, “lhes desse uma unidade superior e forte”.
Paradoxalmente, é também pela via da decorrência desta identificação romântica de um propalado “espírito do povo” com toda a nação que Pascoaes, como tantos outros, à época, conclui globalmente contra a Germânia, sem ser capaz de distinguir o alemão, do boche, o alemão pacífico, do alemão autoritário e agressivo - o alemão de guerra. Distinção necessária, de resto, em todos os outros povos.
Afinal, é assim, a guerra. A paz o seu contrário: na Europa de hoje, sem guerra nas suas centralidades há 65 anos, a paz chama-se União e tem por centro, precisamente, o eixo franco-alemão.