A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Por um patriotismo trans-patriótico e universalista. Oito considerações para um Outro Portugal



1. A milenar tradição contemplativa e meditativa (transversal às diferentes religiões e espiritualidades, também laicas) e os progressos contemporâneos da microfísica e das neurociências (que hoje se aproximam numa convergência histórica, como nas experiências realizadas no MIT, em Massachusetts, e nos encontros anuais Mind and Life) parecem indicar não ser possível encontrar, quer na constituição da chamada matéria, quer na da chamada mente, ou seja, nisso cujo conjunto designamos por realidade, uma mínima entidade que exista em si e por si e que permaneça idêntica a si mesma, ou seja, que tenha características próprias. Todas as dimensões da chamada realidade parecem obedecer assim a duas leis fundamentais, a de interdependência e a de impermanência, que se resumem na sua ausência de características ou qualidades intrínsecas. Como se pode constatar na mínima experiência perceptiva e como a observação científica confirma, sujeito e objecto constituem-se mutuamente e interagem num dinamismo e numa metamorfose constantes, como meros fenómenos recíprocos, sem essência própria. O conceito de identidade parece ser assim uma abstracção desadequada para expressar o real, sem outro fundamento senão o de ser uma ficção convencional e funcional, que serve o reproduzir de uma tradição fortemente entranhada nos hábitos culturais, psicológicos e sociais do senso comum humano.

2. O conceito de identidade nasce, como o seu correlato, o de alteridade, de uma experiência ingénua e irreflectida, na qual, devido a tendências e hábitos inconscientes, o sujeito se crê distinto do objecto, o eu do não-eu, o mesmo do outro, o idêntico do diferente, ao mesmo tempo que esses termos da experiência se crêem reais e existentes em si e por si, com características e qualidades próprias, positivas, negativas ou neutras, que nunca são mais do que projecção da percepção inconscientemente condicionada. Este estado, que se pode chamar de ignorância dualista, origina três tendências da experiência mental-emocional na relação sujeito-objecto: 1 – o fascínio e o desejo-apego, caso o objecto seja percepcionado como atraente e positivo; 2 – o medo e a aversão, caso o objecto seja percepcionado como repulsivo e negativo; 3 – a indiferença, caso o objecto seja percepcionado como neutro. Qualquer destas experiências resulta em conflito e sofrimento, primeiro interno e depois externo, indissociável de uma extrema vulnerabilidade perante todas as vicissitudes da vida, pois a mente dominada pelo apego e pela aversão não pode assegurar de modo algum a posse do que deseja nem a exclusão do que rejeita, devido à lei da impermanência e metamorfose constantes de tudo, sujeitando-se assim constantemente à carência do que deseja ou ao medo de o perder, bem como à ameaça do que rejeita ou ao medo de o não evitar. Por outro lado, a indiferença é uma falsa alternativa, que apenas gera a experiência de solidão, de entorpecimento mental e despotenciamento vital.

Da ignorância dualista e da combinação das três tendências referidas resultam as pulsões emocionais inerentes a todos os actos e omissões, mentais, verbais e físicos, que as tradições ético-espirituais, teístas ou não-teístas, religiosas ou laicas, designam como actos negativos, faltas, pecados ou toxinas mentais, como hoje alguns preferem: desejo possessivo, ódio e cólera, inveja e ciúme, orgulho e arrogância, avidez e avareza, torpor mental e tristeza, entre muitas outras. Em qualquer dos casos, antes de lesarem os outros, estas pulsões lesam a mente do próprio sujeito a partir do primeiro instante em que nela surgem, distorcendo a percepção da realidade, gerando ignorância, insensibilidade e tormento interior e desarmonizando a circulação da energia vital, o que tem também efeitos somáticos e predispõe o organismo para todo o tipo de doenças. Por isso são objectivamente negativas, independentemente de qualquer doutrina moral ou revelação religiosa.

3. Um olhar desapaixonado e realista sobre o processo e a história da civilização humana, desde os seus primórdios até hoje, não pode deixar de constatar que tudo – a organização social, a ciência, a técnica, a política, a economia, a cultura, a educação e a religião - tem sido predominantemente movido pela ignorância dualista, o apego, a aversão e a indiferença, bem como por todas as suas combinações possíveis, com o resultado evidente, em termos gerais, de a humanidade até hoje sempre ter obtido precisamente o que mais rejeita, o sofrimento, e sempre haver falhado aquilo a que mais aspira, a felicidade: prova evidente de que o desejo-apego e a aversão resultam precisamente no contrário do que buscam. As únicas excepções a esta monumental ilusão e a este grandioso fracasso histórico colectivo, habitualmente camuflado com os nomes de “progresso”, “evolução”, “desenvolvimento”, etc., são os seres que despertam e se libertam da ignorância dualista e das suas consequências mentais e emocionais: aqueles que as várias tradições designam como sábios, santos, etc., e que são considerados mestres espirituais quando à libertação individual acrescentam o amor e a compaixão de continuarem a agir, interior e exteriormente, para o bem e a libertação dos outros.

4. Aplicada à questão das sociedades, das culturas, das nações e das pátrias, esta visão constata que nenhuma delas existe em si e por si, com uma identidade e características permanentes e irredutivelmente próprias. Todas, pelo contrário, apesar de apresentarem complexas singularidades em devir, nascem, vivem e morrem ou metamorfoseiam-se de acordo com as leis fundamentais de interdependência e impermanência que abrangem todas as dimensões do real. Com efeito, quem pode, por exemplo, pensar o que é Portugal separando a sua história e cultura das de todos (ou quase) os povos europeus, africanos, sul-americanos e orientais, sem rejeitar que no plano da língua e da mesma história e cultura existem afinidades mais imediatas com as nações lusófonas? O conceito de identidade nacional é pois, tal como o de identidade pessoal - sobretudo se pensado de forma essencialista ou substancialista, como algo que em si e por si pré-exista ou exista fora de um devir interdependente com todas as formas de alteridade - , uma mera abstracção que em última instância apenas funciona na lógica da ignorância dualista que predomina na mente humana.

5. Tal como acontece quando se extrema a bipolarização eu-outro, o extremar da suposta identidade cultural ou nacional como uma essência única, permanente e independente das demais, conduz as mentes ao nacionalismo ou ao patriotismo ensimesmado que potenciam essa ignorância dualista e esses complexos de apego ao que parece ser próprio e de indiferença ou aversão ao que parece ser alheio, o que já vimos serem as causas fundamentais de insensibilidade, sofrimento e conflito para quem por elas se deixa dominar e para quem lhe sofre as acções daí decorrentes. O nacionalismo ou patriotismo comum, levando a amar a sua cultura, nação ou pátria acima das demais, é pois injustificável e condenável em termos espirituais, sapienciais e éticos, sendo incompatível com qualquer projecto de emancipação da consciência e de serviço do bem comum a todos os homens e a todos os seres.

6. Há todavia a possibilidade de se conceber e praticar uma outra forma, não de nacionalismo, mas de patriotismo, o patriotismo trans-patriótico e universalista, que, sem se desenraizar da realidade mais concreta e imediata num transnacionalismo ou universalismo vazio e abstracto, apenas preze, cultive e promova, numa determinada tradição histórico-cultural e numa determinada nação ou pátria, aquilo que na sua singularidade houver de melhor, ou seja, a sua aspiração ao e contributo para o bem comum universal, não só dos homens, mas de todos os seres. O patriotismo trans-patriótico e universalista é o que em última instância aspira a orientar as energias ético-espirituais, culturais e sócio-político-económicas de uma dada nação ou pátria para que se superem tanto quanto possível as fronteiras e barreiras, primeiro mentais e afectivas, e depois institucionais e territoriais, entre todos os povos e culturas, de modo a que a comunidade humana possa expressar o mais possível, sem prejuízo das diferenças inerentes à sua constituição plural e complexa, a natureza e as leis fundamentais da própria realidade: ausência de id-entidades substanciais com características intrínsecas, interdependência, impermanência. O patriotismo trans-patriótico e universalista é o que aspira a converter muros em pontes e a romper o círculo vicioso e infernal em que tem decorrido e decorre a história da civilização humana, devolvendo a humanidade e o mundo ao Paraíso – ou seja, à paz, sabedoria e liberdade primordial - que no seu íntimo encobrem. O patriotismo trans-patriótico e universalista é o único que está de acordo com a milenar tradição sapiencial da humanidade e com a ciência contemporânea, convergindo para a verdadeira evolução que é a da consciência e para o verdadeiro progresso e des-envolvimento que é o ético-espiritual, entendendo por tal o despertar da dualidade que permita ver e sentir o outro como a si mesmo e assim contribuir para a emancipação mental, cultural, social, política e económica de todos os homens, bem como para o respeito da harmonia ecológica e do direito à vida e ao bem-estar de todos os seres sencientes.

7. Este patriotismo trans-patriótico e universalista é o que encontro no melhor da ideia de Portugal e da comunidade lusófona que – depurada do lastro de muitos condicionantes - interpreto em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, para apenas referir os mais destacados. Foi ele, embora ainda informulado e sem a fundamentação aqui apresentada, que inspirou o Manifesto da Nova Águia e a Declaração de Princípios e Objectivos do MIL – Movimento Internacional Lusófono. Foi o desvio desta amplitude de desígnios e a sua redução ao que interpreto como um mero neonacionalismo lusófono que me levou a demitir-me de presidente deste último movimento e a redigir o Manifesto “Refundar Portugal” (umoutroportugal.blogspot.com). É apenas à luz do patriotismo trans-patriótico e universalista, como projecto fundamentalmente ético-espiritual e só a partir daí cultural, cívico, social, político e económico, que considero possível uma mudança fundamental nos rumos sombrios do actual fim de ciclo civilizacional. Não parece haver possibilidade de real transformação do mundo que não se enraíze primeiro numa profunda transformação da mente que o percepciona. A grande Revolução presente e futura, cada vez mais emergente em todo o planeta, é a união inseparável dessa transformação mental – a que alguns chamam “meditação” - e de todas as esferas da actividade humana, incluindo a económica e a política. Quando digo “transformação mental” refiro-me ao simples treino da mente para ver as coisas como são, transcendendo a dualidade, os conceitos e os juízos, o apego e a aversão, o medo e a expectativa, o passado, o presente e o futuro, na experiência do aqui e agora de cada instante, iluminada pelo amor e pela compaixão. Nada de necessariamente religioso, místico, esotérico ou exótico e que não vem do Oriente porque a mais profunda cultura ocidental, clássica ou cristã, sempre o conheceu. É a redescoberta disso, mais do que qualquer ideologia laica ou religiosa, a grande novidade que cresce hoje como bola de neve em todo o mundo.

8. Exorto a que divulguem, discutam e enviem sugestões para aperfeiçoar o Manifesto “Refundar Portugal”, de modo a que possamos praticar estas ideias e trazer desde já para a nossa vida quotidiana essa diferença que consideramos essencial para o mundo: abertura, clareza e paz da mente e do coração, capacidade de diálogo e compreensão, amor aos homens e aos seres vivos - para além das diferenças de nação, língua, etnia, cultura, religião, ideologia e espécie - , promoção e pedagogia dos valores mais benignos e universais das culturas lusófonas em diálogo com os de todas as culturas planetárias, intervenção cívica, cultural e social que afirme estes valores na esfera pública, política e económica.

umoutroportugal.blogspot.com

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