"O Povo, como os animais, pressente certas grandezas, invisíveis aos olhos sujos de tinta de letra impressa. Os camponeses, os passarinhos e as árvores, são frutos ainda intactos, que sabem à terra que os criou. Neles brilha a Verdade natural; essa Verdade que, em nós pobres criaturas racionais, se oculta em artifícios. Ai de nós! Que iluminamos e definimos um pequeno espaço da Existência, e imaginamos, por isso, que mais nada existe para além. Pobre ciência, feita de ignorância e vaidade! As almas dos campónios e os passarinhos ignoram a luz que define. Vivem na noite indefinida; e os seus olhos, habituados à sombra natural, descortinam a imagem das cousas como ela é, muito embora indecisa... Vêem o esboço da Verdade; e nós não vemos mais que o nítido desenho da Mentira"
- Teixeira de Pascoaes, Os Poetas Lusíadas, Lisboa, Assírio & Alvim, 1987, p.122.
Esta é a herança de Pascoaes que não se deixa instrumentalizar em rapinas ideológicas, patrioteiras e lusomaníacas do seu legado. Esta é a herança incómoda, que não alimenta discursos legitimadores da vontade de poder. Esta é a herança que nos desarma e despe de ilusões, deixando-nos nus de nós mesmos, em contacto com a verdade do Céu e da Terra. Este é o Pascoaes universal, que há-de falar aos homens mesmo quando Portugal e a Lusofonia já não existirem.
Saúde, Irmão!
Sem comentários:
Enviar um comentário