Mas mais que uma junção de elementos, o estilo gótico é afirmação de uma nova filosofia. A estrutura apresenta algo novo, uma harmonia e proporção inovadoras resultado de relações matemáticas, de ordens claras impregnadas de simbolismo. Suger, que é fortemente influenciado pela teologia de Pseudo-Dionísio, o Areopagita, aspira uma representação material da Jerusalém Celeste. A luz é a comunicação do divino, o sobrenatural, é o veículo real para a comunhão com o sagrado, através dela o homem comum pode admirar a glória de Deus e melhor aperceber-se da sua mortalidade e inferioridade. Fisicamente a luz vai ter um papel de importância crucial no interior da catedral, vai-se difundir através dos grandes vitrais numa áurea de misticismo e a sua carga simbólica vai ser reforçada pela acentuação do verticalismo. As paredes, agora libertas da sua função de apoio, expandem em altura e permitem a metamorfose do interior num espaço gracioso e etéreo.
O espaço é acessível ao homem comum, atrai-o de uma maneira palpável, que ele é capaz de assimilar e compreender, o templo torna-se o ponto de contacto com o divino, um livro de pedra iconográfico que ilustra e ensina os valores religiosos e que vai, a partir deste momento, continuar o aperfeiçoamento da mesma.
Nas primeiras páginas de Horóscopo de Portugal, António Telmo define o Mosteiro dos Jerónimos como uma "Oração de Pedra". Interrogado sobre o sentido dessa oração nos dias de hoje, afirmou que ela continua com o mesmo sentido e com a mesma voz. «A oração está tão viva como então; a forma como ela é escutada depende sempre é das pessoas...Vejo o estilo gótico como uma oração; e o próprio manuelino possui o espírito gótico. Por exemplo, as janelas ogivais são como mãos postas em oração.» Obviamente que António Telmo considera existir uma linguagem inerente à arquitectura: «A arquitectura permite a ligação entre a Terra e o Céu - a boa arquitectura é claro. Depois há a arquitectura titanesca, como a americana, que assalta o Céu com violência; não tem um princípio metafísico ou divino a animá-la; ela tem o princípio da Torre de Babel.»
Em 1977 publica História Secreta de Portugal. Desde então: «Começou-se a publicar muitos estudos sobre arquitectura, que seguiram espírito análogo ao livro. Houve a valorização do manuelino, que até então era considerado um estilo ornamental, como me ensinaram na Faculdade de Letras. Diziam que era o gótico final. O meu livro vem dizer que o estilo manuelino é um estilo arquitectónico português.»
(...)
«Não podemos esquecer Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa, Sampaio Bruno, Álvaro Ribeiro, José Marinho, Agostinho da Silva, e muitos outros. Mas, se é a Filosofia Portuguesa que tem o segredo dessa espiritualidade, os mais novos é que têm o segredo da transmutação. Se os jovens forem na corrente actual, então está tudo perdido. Nota-se, de facto, muitos jovens interessados no pensamento português. Se daqui resulta algo, só Deus é que sabe. Nós temos é de fazer as coisas.»
Entrevista de Sérgio S. Rodrigues & Miguel Campos-Reis
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