Fitando a negritude noturna, um menino enamorou-se da Lua. Tornou certo para si que teria de ir ao encalço daquilo que emaranha a alma na mente em um misto de idéia e quimeras.
Quando se tornou um homem, libertou-se das amarras que o atavam ao chão. Por noites a fio a seguiu radiante sem se negar a doações. Mas, os constantes movimentos de transformação em todo o universo refletiram a rápida passagem do tempo no homem. Mesmo velho, ainda amava a Lua.
Deitado sobre a grama, sentindo o mundo inteiro embaixo de si, descobriu que era apenas mais um estranho em um mundo estranho de coisas estranhas. Fitou a Lua com uma expressão que jamais havia se esboçado em seu rosto. Uma expressão de amor explosivo e travou com ela, pela primeira vez em sua existência, um diálogo verbal inflamado. Seu amor foi além das possibilidades humanas.
Vendo o concreto diluir-se entre seus dedos, o ancião chegou ao seu ponto final. Flamejante de lágrimas pôde ver tudo em vão, porque o destino da vida é perpetuar o mistério de seu próprio fenômeno. A vida é o mistério de si mesma. Fechando os olhos, sereno, sussurrou: “vejo agora o lado oculto da Lua que ela mesma nunca foi capaz de desvendar”.
O ancião teve seus olhos e pensamentos eclipsados repentinamente. Um eclipse eterno de sombra eterna.
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