Em mais um sinal da desindustrialização e ermamento agrícola de Portugal, em obediente cumprimento das ordens emanadas a partir de Bruxelas, por uma camada de funcionários portugueses (também conhecidos como "classe política") dócil e servil, a produção de cereais caiu 40% apenas na campanha de 2008/2009. É verdade que Portugal nunca foi auto-suficiente em cereais, desde a Idade Média, mas em 2009, vai alcançar-se o patético recorde do país produzir apenas 25% dos cereais de consome. Isso é inédito e devia fazer pensar os nossos governantes, se de tal eles fossem capazes...
Este é o resultado de políticas de duradouras e teimosas de Tercialização da nossa Economia, de desprezo pelos setores industriais e agrícola, de forma a que os países do norte nos consigam inundar com os seus produtos altamente subsidiados e que a China esmague qualquer atividade industrial que exista fora do seu território, esse antioásis de Direitos Laborais e de Respeito ao Ambiente.
O esvaziamento do interior - tradicional bastião agrícola do país - representa o culminar de uma política centralizadora que recua a Dom Pedro I e que cerceou gradualmente as autonomias municipais até as tornar num passivo canal de ressonância do Paço lisboeta. Menos alimentos, são mais importações e um maior agravamento de um já esmagador déficite comercial...
Portugal nunca foi verdadeiramente independente em termos alimentares. Aliás, foi essa crónica deficiência que nos levou a tornar na maior potência comercial do mundo no século XVI. Como qualquer dificuldade ou crise, esta pode ser criadora e potenciar a desenvolvimentos que sem esta seria impossível ver nascer. E esta constante evaporação da nossa área cultivada, ano após ano, não é sustentável a prazo. As políticas de subsídios, sobre subsídios não alteraram o quadro, parecendo até tê-lo agravado nalguns setores. Os minifúndios do norte - economicamente irrealistas, mas muito produtivos, acabaram quase todos sem que se conseguisse criar as cooperativas de produtores que os poderiam ter salvo. A sul, as grandes herdadas forjadas nos anos loucos do Salazarismo, sempre primaram pela ineficiência e pela inadequação crónica ao tipo de solos do Alentejo. O resultado é que estamos num país inundado de leite, numa obsessão incompreensível na produção leiteira, que rouba terrenos a outras culturas mais necessárias, mas menos subsidiadas, como azeite ou a batata, de quem somos também crónicos importadores...
Portugal tem que se tornar a recentrar no Interior, renegar os comandos destruidores que lhe mandam de Bruxelas, reforçar as competências dos seus municípios, reforçando a capacidade económica destes, especialmente pela via agrícola, concedendo-lhes maior autonomia de forma a transformá-los na "federação de municípios independentes" do sonho agostiniano e despertar a ambição fisiocrata que tornava a agricultura o centro de uma economia saudável... Não temos que ser exportadores de alimentos, temos que ser capazes de produzir o mínimo para nos alimentarmos e de libertar a balança comercial do peso desnecessário das importações agrícolas, produzir artigos em que somos bons, como azeite, vinho, cortiça, vegetais, frutos, etc e os demais alimentos em número bastante e idêntico ao que produzíamos há apenas vinte anos... Não é um objetivo impossível. Assim queira Lisboa despertar e repovoar o resto do país. O que é duvidoso, sem a descentralização municipalista que defendemos...
Fonte:
http://aeiou.expresso.pt/portugal-esta-mais-dependente-do-exterior-para-se-alimentar=f529637
2 comentários:
Questão importante...
De facto não são só os cereais, mas toda a agricultura, e todo o modo de vida que ela pressupõe.
Esta questão é absolutamente crucial.
A quem quiser saber mais, recomendo, para contextualizar, a leitura atenta dos inúmeros textos publicados, de há muitos anos a esta parte, pelo Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles.
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