A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Quando o único amigo é um cão (texto que me chegou, que ilustra como amor transcende a falsa fronteira das espécies)

Quase todos os dias nos cruzamos com animais abandonados, famintos, de olhar triste, que nos seguem na esperança de serem adoptados.

Foi o que me aconteceu, há tempos, em Lisboa, quando ao longo de vários dias fiz o mesmo percurso. Um cachorro saltava à minha volta e, de início, não percebi se pedia festas, comida ou alguém que tomasse conta dele. Ao terceiro dia convenci-me de que se tratava de um cão desprotegido.

Alimentei-o e decidi entregá-lo numa instituição que recolhe animais abandonados. Tinha conhecimento de que era um local onde seria bem cuidado e onde quase todos os dias apareciam pessoas dispostas a adoptar alguns dos que, diariamente, vão sendo recolhidos pela cidade. O cachorro que encontrara na rua facilmente arranjaria dono: era novo, meigo, e aparentava ser saudável.
À entrada da instituição cruzei-me com uma senhora que vira sair de um Mercedes, conduzido por um motorista fardado. Trazia uma cadela Cocker Spaniel presa a uma trela.


Enquanto aguardávamos atendimento os nossos cães cumprimentaram-se e nós trocámos algumas palavras de circunstância. A cara daquela mulher não me era estranha. Depois de algum esforço consegui identificá-la: era um membro do governo.


Quando a funcionária se aproximou justificou o abandono da sua Ritinha: o marido não gostava de cães e ela não tinha vida para a aturar. Os filhos teriam um grande desgosto, mas haviam de recuperar.

Percorri aquele espaço que ainda não conhecia. Cerca de mil cães e centenas de gatos. Muitos deles velhos, cegos, coxos e doentes. A minha aproximação suscitou alguma agitação. Todos pediam festas, todos queriam uma pequena atenção. Evitei fixar os seus olhos tristes.
Foi durante aquela visita que me cruzei com Maria do Rosário. Sentada num recanto, a senhora de oitenta e nove anos, tinha a seu lado um cão de porte médio, castanho, tão velho como ela. Partia bolachas ao meio e metia-lhas na boca. Entre cada bolacha acariciava-lhe a cabeça, passava-lhe a mão trémula pelo dorso e falava com ele.

Fiquei uns minutos a olhar, discretamente, aquela cena ternurenta. Não queria perturbar a intimidade daquele momento, mas aproximei-me.
- O Bobi é o meu único amigo e tive de me separar dele. Vivo num terceiro andar sem elevador e nem as minhas pernas nem as dele aguentavam andar para baixo e para cima sempre que ele precisava de fazer as necessidades. E também já não podia cuidar dele como devia ser. Somos os dois muito velhos e doentes. Não tenho família e quando se chega aos oitenta e nove anos perde-se tudo até os amigos. Venho visitar o meu Bobi todos os Domingos. A cidade está mais calma. É a altura em que todos ou quase todos os passageiros viajam sentados nos transportes públicos. Já não aguento a confusão dos outros dias. Ninguém imagina o que eu e este animal estamos a sofrer, mas não encontrei outra solução para as nossas vidas que estão a chegar ao fim.
Os seus olhos baços, marejados de lágrimas, olhavam-me em jeito de súplica.
Uma voluntária da instituição, minha conhecida, aproximou-se e ofereceu-se para levar Maria do Rosário a casa. Despedi-me à pressa. Não me sentia com coragem de presenciar a separação daqueles amigos.

O olhar de profunda dor de uma mulher velha, solitária e tão abandonada como aqueles animais, foi uma visão horrível da qual não me consigo libertar.
É porque há tantas Marias do Rosário, tantos Bobis e tantos olhos marejados de lágrimas que fui obrigada a partilhar esta vivência que já não cabia no meu coração.

Maria Leonarda Tavares

10 comentários:

Renato Epifânio disse...

A solidão humana não é boa conselheira...

Paulo Borges disse...

Não te resta sensibilidade para dizeres mais nada perante este relato!?...

Aqui a solidão é o que resulta da interrupção forçada de um amor real, trans-especista. Eu não me sinto só e esta história traz-me lágrimas aos olhos, porque sei o que é amar um animal e me sinto no lugar da senhora e do cão.

Renato Epifânio disse...

Paulo

Não julgues a minha sensibilidade. O que verifico (sei que não é o teu caso) é que muitas vezes as pessoas transferem para os animais a falta de afecto que têm dos humanos. Mais ainda: muitas vezes, as pessoas que mais gostam de animais são aquelas que mais deixaram de gostar dos humanos. E nem sempre pelas melhores razões...

P.S.: Eu gosto sobretudo de animais selvagens, não domesticáveis.

Paulo Borges disse...

O facto de uma pessoa que goste de animais ser suspeita de não gostar de humanos só traduz o preconceito e hábito especista de se amar apenas os humanos. Porque não se há-de gostar sobretudo de todos os seres?

Mas o amor aos animais não se deve limitar aos fofinhos. Esta história seria muito mais comovente se em lugar do cão estivesse uma serpente ou uma mosca.

Renato Epifânio disse...

Não falo a partir de preconceitos mas do que vejo à minha volta.

Por isso, repito: muitas vezes, as pessoas que mais gostam de animais são aquelas que mais deixaram de gostar dos humanos. E nem sempre pelas melhores razões...

E concretizo: por acharem os humanos demasiado complexos...

Edson Pelé disse...

No lugar da senhora e do cão... Frase rara!

Paulo Borges disse...

Vê-se mesmo que nunca contemplaste o mistério da vida, no homem ou no animal...

Coisa rara, não é, Pelé?

Rasputine disse...

Existe alguém neste blog, além destes dois marretas? Os outros são mudos ou não aprenderam a falar? Que sorte, se assim é.

Paulo Borges disse...

Boa, Rasputine! Gostei da marretada. E agora retiro-me do palco, sento-me na plateia e aplaudo a rir este teatro cómico.

Rogério Maciel disse...

« Eu não me sinto só ...»
Não se sente só , mas também não se sente acompanhado ...as suas respostas "intelectuais" e agressivas , mostram o ser amargurado e infeliz que se esconde por detrás das palavras ...

«Vê-se mesmo que nunca contemplaste o mistério da vida, no homem ou no animal...»

Esta resposta retrata o seu menosprezo pela humanidade , desrespeito pelo Conhecimento de outros e a presunção arrogante de se achar um iluminado ... não sei porque "luz" , mas deve andar muito enganado .
O verdadeiro iluminado , é simples e amoroso , não só com os animais , mas com todos os seres , mas mais ainda com o sofrimento humano .
O Iluminado , não aparece , não se dá por ele , e a sua manifestação está cheia de Compaixão ( algo que o Buda também ensinou , e foi pela Compaixão que Ele veio ensinar á humanidade , o Amor por todos os seres ) .

« Na literatura budista, o sentimento de 'karuna' é uma qualidade determinada que move os seres iluminados a amenizarem o sofrimento na Terra. Esses seres, na tentativa de auxiliarem o processo de reencarnação individual, enviam uma quantidade ilimitada de energia curativa aos seres encarnados de forma a ajudar os ciclos de vida e limitação kármica.

Sogyal Rinpoche, conhecido escritor tibetano, autor do "Livro Tibetano da Vida e da Morte", define o sentimento de compaixão da seguinte forma:



"Não é apenas um sentimento de simpatia ou de cuidados pela pessoa que sofre, não se trata apenas de um calor do coração para com uma pessoa que se vos depara, ou de um reconhecimento, nítido e claro, das suas necessidades e sofrimentos, mas também uma determinação, prática e sustida, de fazer tudo o que for possível e necessário para aliviar o sofrimento dos outros". »

Ele é o mais humilde , mas o mais forte ,o mais forte mas o que não luta , porque a sua luta é a ausência de luta , e no entanto , quando é necessário , fá-lo activamente ...
Você assume-se como "budista" , achando que tem a posse da verdade , mas na verdade , enferma do mesmo mal de todos os que se assumem seguidores de ISMOS ... o achar-se melhor e mais inteligente que todos os outros , o querer arrebanhar tudo e todos para aquilo que julga ser a verdade .
Eu não estou preso ( se assim se pode dizer ) pela amizade , ou pelo menos alguma partilha de valores , ou acontecimentos consigo , como o Renato , que lhe responde com a Fraternidade possível de não o querer ofender ...
Mas o Paulo não se coibe de o fazer , em nenhum momento .
O Paulo ofende as pessoas , senão respondendo , então nem respondendo (não confunda Sabedoria com a Arrogância) ...
Não , nada me prende a si ( a não ser a humanidade), e por isso lhe digo isto :
Uma pessoa que responde da maneira que responde , a uma frase Cheia de Sabedoria como « A solidão humana não é boa conselheira...» , só pode andar perdida na sua suposta sabedoria .

« Boa, Rasputine! Gostei da marretada. E agora retiro-me do palco, sento-me na plateia e aplaudo a rir este teatro cómico. »

E esta resposta mostra á saciedade , não só o cinismo que ocupa o lugar da Compaixão na sua vida , o facto se achar melhor e mais inteligente que todos os outros , mas principalmente a imensa solidão sofredora que ocupa esse corpo que é o seu ...

Não , não é a agressividade que me move a dizer-lhe isto , mas sim o facto de já estar farto de ouvir e ver uma pessoa inteligente , e bastante presente nesta Nova Águia , descarregar tanto fel , tanta amargura e frustração em cima de outros , principalmente num local público de troca de sentimentos e ideias , como é este blogue .

Rogério