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“ensinava uma doutrina de transmigração das almas, o que era apenas talvez uma forma poética de afirmar um parentesco entre os animais e os homens; adoptava e fazia adoptar uma série de proibições alimentares, em parte por considerações higiénicas, em parte por motivos místicos; mas a originalidade de Pitágoras esteve em juntar às purificações vulgares a purificação pela ciência; parecem não ter outra origem os estudos de aritmética e geometria, com a atenção especial dada às combinações numéricas e a possível descoberta da incomensurabilidade da diagonal e do lado do quadrado; houve também estudos sobre os intervalos harmónicos e daqui se teria passado à ideia de que todo o mundo podia ser reduzido a números, mais tarde identificados com figuras geométricas, com disposições de pontos extensos no espaço. A cosmologia de Pitágoras é obscura, parecendo que vem dos discípulos a ideia de que a terra não é o centro do universo; haveria e meio um fogo, que não é o sol, à volta do qual girariam os planetas, sendo a terra um deles; os eclipses eram explicados pela existência de uma anti-terra. Tanto para Pitágoras como para os discípulos, a alma não era um princípio espiritual, mas uma harmonia dos elementos do corpo, não podendo, portanto, existir sem eles; a falta de textos impede-nos de saber de que modo ligava Pitágoras esta ideia com a de transmigração; mas o mais importante fica estabelecido: o espiritual não entrava ainda nas considerações dos pensadores gregos; facilmente podia ter aparecido neste momento, quer pela afirmação duma alma, quer pela da constituição numérica do universo: mas fechavam o caminho a atribuição de extensão aos pontos e o considerar-se a alma uma simples harmonia dos elementos do corpo.”[1]
[1] Filosofia Pré-Socrática, Lisboa, Edição do Autor, 1942, pp. 9-10.
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