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“…mesmo o trabalho constituía para ele um elemento indispensável na vida: adorava a luta dramática que trava o sábio com a natureza para lhe arrancar o seu segredo, as longas horas de laboratório, com os homens que se movem silenciosos e serenos, absorvidos no seu meditar; nenhum jogo era mais apaixonante do que montar uma experiência, vê-la progredir na incerteza, no desconhecimento do que vai surgir, ou esperar ansiosamente que o resultado venha confirmar a teoria que se arquitectou; ali; se sentia puramente que o prazer do jogo supera o de ganhar ou perder; a experiência inútil ou falhada dava-lhe horas de vibração tão intensas como a experiência com bom êxito; e era ainda mais do que a segunda, excitante e tónica; na vitória havia sempre um sabor de desalento, um vago sentir que se passou a ser inútil, já que se atingiu o objectivo; mas no erro que se cometeu, que promessas de novas horas de profundo interesse, de aparelhos a imaginar, de montagens elegantes, de outro violento palpitar perante a decisão; era seguro que nenhum artista vivia tão intensamente como ele; e no viver intensamente encontrava Pierre Curie o meio de suportar os próprios males da vida.”[1].
[1] A vida de Pierre Curie, Lisboa, Edição do Autor, 1940, p. 11-12.
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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1 comentário:
Para quem, alegadamente, não gostava do "trabalho", não está nada mal...
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