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“Gil Vicente (1465?-1537?) tem ligações mais directas com os poetas satíricos dos cancioneiros provençalescos e do Cancioneiro de Resende e a sua obra, pelo movimento geral, integra-se muito mais na Idade Média do que no Renascimento; as próprias alusões às empresas de além mar são ainda feitas sob o ponto de vista medieval. Os seus Autos, quase sempre satíricos, embora com trechos líricos de excelente qualidade, são simples apontamentos, esboços de obras que ficaram por completar; a construção é bastante defeituosa, nenhum dos caracteres aparece explorado a fundo, nenhuma das situações aproveitada como o poderia ser; o talento de Gil Vicente dispersa-se em improvisos, sem dúvida notáveis, mas que não podem de modo algum competir com as grandes obras do teatro mundial. No entanto, não faltavam ao poeta nem a imaginação, nem a facilidade do verso, nem o sentido do teatro, nem a objectividade, nem até uma certa elevação de pensamento; o meio que lhe permitiu escrever, a corte, prejudicou-o também pela futilidade, pelo carácter breve de divertimento que exigia em tudo, e que não podia ter deixado de marcar Gil Vicente, apesar da sua relativa independência de juízos. Em todo o caso, alguns dos seus melhores trabalhos, o Auto da Índia, a Farsa de Inês Pereira, os Autos das Barcas, Quem tem farelos, Jubileu de Amores, Auto da Feira, o Velho da Horta, o Triunfo do Inverno, têm qualidades inegáveis de força crítica, de inspiração e de originalidade”[1]
[1] Literatura Portuguesa, Lisboa, Edição do Autor, 1944, pp. 6-7.
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".
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1 comentário:
Esta colectânea que o Renato, (e outros em tempos), tem vindo a publicar aqui é de uma grande importância cultural.
Agradecido, Renato.
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