A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

ENTRE PORTUGAL E A EUROPA: CINCO NOTAS E UMA INTERROGAÇÃO

I
Gostava de dizer Agostinho da Silva que um português que nunca tivesse ido ao Brasil nunca descobriria o que era ser português. No caso dele, foi de facto assim - foi apenas no Brasil, face ao “espelho atlântico”, que ele começou a questionar-se sobre a nossa vocação: não apenas portuguesa mas, mais amplamente, lusófona.

II
Pascoaes, mais até do que Pessoa – apesar da Mensagem – foi – melhor dito, continua a ser – o grande poeta da portugalidade no século XX. Um poeta e, igualmente, um filósofo – não tivesse ele sido o autor d’Arte de Ser Português, a par de muitos outros textos.
Por isso, continua a ser olhado com suspeita. Pelos mesmos que, em relação a Pessoa, procuram, dos mais diversos modos, escamotear a Mensagem. Mas Pessoa é tão grande que consegue sobreviver a todos os “pessoanos”. Pascoaes também, ou ainda mais – apesar de não existirem muitos assumidos “pascoaesianos”. Ou talvez por isso.

III
Tendo sido um poeta e um filósofo do espaço português – mais do que do espaço, do “lugar” –, Pascoaes não foi, contudo, um poeta e um filósofo do espaço europeu nem do espaço lusófono. O que se compreende, dada a sua procura da nossa “singularidade”.
Talvez isso explique essa aparente imediação entre Portugal e o Cosmos que, quanto muito, se alarga apenas ao espaço ibérico. E não ao espaço europeu – apesar de, como se sabe, Pascoaes ter sido um poeta traduzido na Europa. E não, menos ainda, ao espaço lusófono. Quanto a este, isso talvez se explique, em parte, pela época – na altura, o Brasil estava já longe demais; a África portuguesa era, sobretudo, um local de degredo; do resto do Império nem vale a pena falar. Isto apesar dos republicanos em geral terem procurado defender, o mais possível, as nossas ditas “colónias” – ao contrário do que pretende a nossa historiografia oficial, que procura reduzir o “colonialismo” ao “Estado Novo” (mas essa é outra história).

IV
Aqui a diferença com Agostinho da Silva é imensa. Agostinho, ao contrário de Pascoaes, foi de facto um filósofo do espaço lusófono, diria mesmo, o primeiro grande filósofo do espaço lusófono. Desde logo porque ele conheceu os demais povos lusófonos e os reconheceu como “iguais”. Daí esse seu sonho da criação de uma verdadeira Comunidade Lusófona, que veio a inspirar a actual CPLP, como recordou recentemente Adriano Moreira no Colóquio “O Legado de Agostinho da Silva: quinze anos após a sua morte”, na sua comunicação “Agostinho da Silva, o inspirador da CPLP”. Isto apesar da CPLP estar ainda muito aquém desse sonho agostiniano (mas essa é também outra história).

V
Se Portugal faz mais sentido no âmbito do espaço lusófono – trata-se até, mais do que isso, a nosso ver, de uma questão de sobrevivência histórica –, isso não significa, contudo, um diluição de Portugal nesse espaço. Ou seja: se Portugal será lusófono ou não será, isso não significa que, para ser lusófono, tenha que deixar de ser europeu…

VI
Mas o que pode significar ser europeu numa Europa que, vinte anos após a Queda do Muro de Berlim, de triste memória (o Muro, não a Queda; mas essa é igualmente outra história), se encontra num evidente impasse, senão mesmo à beira da desagregação? Decerto, desde logo, a reafirmação da nossa condição de cidadãos portugueses, mais amplamente, de cidadãos lusófonos. E não apenas, obviamente, no nosso caso. A Europa será a Europa dos Povos e das Pátrias ou não será…

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