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Januário Torgal Ferreira
Morreu no último fim-de-semana [29 de Junho de 2003] o Prof. Eduardo Abranches de Soveral, catedrático aposentado do departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi um dos iniciadores da restauração daquela instituição do ensino superior, em 1962. Assinalo o triste acontecimento em homenagem à sua pessoa, tentando quebrar o silêncio, tão habitual em certos momentos.
Fez da vida a dedicação ao pensamento, com a originalidade, a teimosia e a desvalorização por parte de alguns. Neste particular, é normal a diferença. É comum até a oposição. Que seria do saber se tudo se reduzisse ao rés do chão ou ao primeiro andar da cultura!
O que se não pode entender são os julgamentos sumários, as ambiguidades da crítica, também os aproveitamentos e as subserviências.
A dignidade e o sentido de um viver impuseram-se com o tempo. Experimentou também a amizade, despojada e livre, que nunca pode ser de muitos.
Numa altura em que se fala da arte de pensar, da troca de ideias, do diálogo entre grupos e correntes, é fundamental defender a cultura e o ambiente e carreira do ensino superior. O mal-estar de antagonismos, as lutas pelo poder, a lógica concorrencial… não são as melhores companhias. As únicas armas a brandir são as das ideias e do seu combate. Quaisquer outros processos voltam-se contra uma instituição, onde a normalidade mais normal deveria ser a do respeito pela inteligência e liberdade de investigar, a da competência do mérito, a da observância das prerrogativas de cada ser humano.
Para além da imortalidade da vida, resta a documentação de uma obra. Discutível como tudo, menos na independência com que foi construída, permanece fito da sabedoria. Convoca à meditação e à paz, símbolos de uma existência.
In “Falta de diálogo”, O Comércio do Porto, Porto, 6 de Julho de 2003, p. 16.
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1 comentário:
Ainda para o próximo volume da Colecção NOVA ÁGUIA...
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