não te vejo
além do fim e da piedade das ondas de depois do fim
as preces dormentes habitam o interior dos rochedos
o avesso da inquietação de não ser um com o que não há
as contas do rosário de estar aqui
são feitas de sementes de girassol
rodam-me nos dedos em compassos acesos de não ter nascido
abro as asas do esquecimento e fico a pairar de cabeça para baixo
sobre o abismo de não me querer
há um céu invertido que entra pelo chão e toca as fímbrias do impossível
lá onde rios de lava arrefecem a temeridade de querer estar morto e sentir todas as penas dos infernos inclementes
é a minha cegueira
a parede de lonjura que cerceia o horizonte
aqui me recuso à sedentária parição do amanhã
aqui só quero da noite a consumição do desespero
lençóis de linho em alvas solturas de estar enfermo de totalidade
pasto do vento e da continuação
aqui
o chão demora a tornar-se completo
fermentação do que não acaba
1 comentário:
Grande foto e poema, Paulo! Auspicioso ressurgimento.
Abraço
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