Intróito: apenas sobre Portugal. Nos restantes países europeus, podemos decerto vislumbrar algumas afinidades (alta taxa de abstenção, subida dos extremos, consolidação dos partidos de centro-direita, por contraste com os de centro-esquerda, etc.), mas, depois, analisando à lupa, cada caso é um caso...
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1. O primeiro facto a salientar é, obviamente, a taxa de abstenção: 62.95%. Ou seja, quase dois terços do eleitorado não votou. Isso, por si só, distorce os resultados reais de cada partido. Como o Eurico já aqui assinalou:
Partido // Votos Relativos // Votos Reais
PPD/PSD // 31,68 // 13,63
PS // 26,58 // 11,43
BE // 10,73 // 4,61
CDU // 10,66 // 4,58
CDS-PP // 8,37 // 3,6
Outros // 11,98 // 5,15
2. O “partido” dos abstencionistas é, contudo, pior do que um albergue espanhol. Cabe lá tudo. E, por isso, como o Casimiro aqui bem assinalou, daqui não se pode retirar nada de muito sólido...
3. Os que votaram em branco cresceram bastante: de 87.702 em 2004 para 164.829 agora. Dava para eleger, com grande folga, um deputado. Para mais, somando os nulos: 71.135. A questão é que quem votou em branco fê-lo por razões diversas, ainda que, será razoável dizê-lo, não tão diversas quanto aqueles que se abstiveram. Pelo menos, manifestaram vontade de participar: o que, face aos abstencionistas, já não é pouco, ou é um pouco mais do que nada…
4. Quanto aos partidos do sistema:
a) O PS perdeu por causa do desgaste do Governo (o facto do cabeça de lista ter tido uma campanha desastrada não terá sido, a meu ver, muito relevante; até com um "Obama" teria perdido...)
b) O PSD beneficiou do efeito de alternância e da boa campanha que fez (em particular, do cabeça de lista)
c) O BE continua a crescer e continuará a fazê-lo até entrar no Governo: depois, começará a decepção (com as consequentes cisões), como aconteceu em Lisboa…
d) O PCP resiste bem (teve uma boa campanha, com uma boa cabeça de lista), mas não tem margem de progressão…
e) Idem para o CDS (mudando apenas: com um bom cabeça de lista).
5. Quanto aos outros, à excepção do PPM (dadas as cisões internas), todos subiram: PCTP-MRPP (+5 mil votos); MPT (+ 10 mil votos); PH (+ 4 mil votos); PNR (+ 5 mil votos). Até o POUS: quase mais mil votos! Saliente-se, aqui, a subida do MPT (Movimento Partido da Terra), o único que fez uma real campanha europeia, contestando o Tratado de Lisboa.
6. Quantos os “novos”: o MMS (Movimento Mérito e Sociedade) teve mais de 20 mil votos, mas isso não lhe servirá de nada: o que faz impressão, dado o muito dinheiro que gastaram na campanha (pura e simplesmente, não têm base social). O MEP (Movimento Esperança Portugal) é outra história: teve mais de 50 mil votos. Nas legislativas, dará para eleger pelo menos um deputado. O que não surpreende, dada a base de apoio que tiveram à partida: é gente que veio dos movimentos pró-vida, com ligações à Igreja e a outras “espiritualidades”. E a Laurinda Alves, até pela sua experiência na "Revista X", conseguiu agregar muita dessa gente…
7. Posto tudo isto, 2 notas finais:
a) em termos de paradigma, não houve uma real alternativa nestas eleições aos federalistas (todos os partidos do sistema, à excepção do PCP do CDS, que, apesar de tudo, ainda foram defendendo uma perspectiva mais “soberanista”, ainda que de forma inconsequente). Os que contestaram mais abertamente a União Europeia (à esquerda, PCTP-MRPP e POUS, e à direita, MPT e PNR), não apresentaram nenhum paradigma alternativo – nomeadamente, o de uma maior aposta no espaço lusófono (como o MIL defendeu, no Comunicado emitido a respeito destas Eleições). Ora, sem real alternativa, é natural que o federalismo continue, por inércia, a ganhar…
b) penso que há espaço para se lançar um novo movimento político, mas não devemos entrar em aventuras; é preciso consolidar bem primeiro uma base de apoio. Em política, como na vida, não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão. Isso é bem mais importante do que o dinheiro: ver o que aconteceu ao MMS e, por contraste, ao MEP…
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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17 comentários:
Caro Renato:
Concordo com quase tudo (pontos 1 a 6). Quanto ao 7, as pessoas não sufragam projectos globais de transformação do mundo. Se não fosse assim, haveria o partido nietzsheano, o movimento husserlista e o bloco aristotélico... Mesmo no tempo dos marxistas não se votava nas teses últimas do Capital, mas na derrota pontual dos capitalistas.
Continuo a pensar que "espaço lusófono" é uma expressão a combater, ou a evitar. Gosto mais quando me dizes "Seremos, em lusofonia, um lugar em que...". Ah, e quantos albergues espanhóis não temos ainda pela frente. De modo que inteiramente de acordo com a última parte.
Digamos, sem brincar às palavras, que só apostando no espaço lusófono este se poderá tornar num lugar...
P.S.: Quanto aos "projectos globais de transformação do mundo", também não fui tão longe. Falei apenas na mudança de "paradigma". Ou, se preferires, de uma outra visão de Portugal...
Sim :)
Mas, como diriam os ianques: em abordagem bottom-up. Aqui na NA podemos fazê-lo a partir de fundamentos e firmamentos - estamos apenas a conversar (no sentido dos filósofos). Devagarinho teremos que consubstanciar os resultados práticos desse pensamento: E já o conseguimos fazer, por exemplo, na questão da imigração - onde, também por exemplo, se cindem os dois "partidos anti-federalistas".
Há que desenvolver muitas das coisas que o Clavis aqui nos tem deixado... Ainda que à custa de termos por cá menos poesia, ou, para ser mais exacto, menos versos.
Bom, eu fiz parte da campanha do PPM e garanto-lhe que o nosso cabeça de lista mencionou bastas vezes uma aproximação aos Estados lusófonos e ainda a criação duma União Lusitana que incluísse os Estados desses territórios (Brasil incluso)... infelizmente a imprensa cortou essa parte e inclusive a visita à Reboleira, preparada com dias e visitas prévias de antecedência para mostrar o Portugal real levou com um real boicote da imprensa, só apareceu um jornalista da rádio... quando o pacote era nitidamente visual.
Infelizmente o PPM foi muito mal tratado nestas eleições, caricaturado até. A suposta "igualdade" entre os partidos é coisa virtual, no mundo real a imprensa promove apenas as mesmas siglas, rostos e nomes.
Deixe lá, Flávio. O Bloco também passou por isso. Uns anos de trabalho sério que não seja só em campanha eleitoral e tudo é possível.
O senhor Ceivães "ignora" que a NOVA ÁGUIA tem na Poesia a matriz da sua identidade cultural sob o signo de Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa?!...
De resto, que sabe o senhor Ceivães de Poesia para a conseguir distinguir de "versos"?... Não gosta? Coma menos!
Não é que o PPM não tenha boas propostas. O problema é que já há muito passou o prazo para causar boa impressão. Deveria, pura e simplesmente, extinguir-se e diluir-se num movimento mais amplo...
Meu caro senhor Ceivães, permita-me que lhe recorde que, mesmo com letra minúscula, a educação não custa dinheiro. Anda por aí à mão de semear!
Caro João de Castro Nunes,quanto à versalhada tenho andado em jejum rigoroso. Se um dia tiver saudades, o que seria improvável mas não milagroso, tenho sempre o inimitável Castilho, ou até os Árcades, que são genuinamente patuscos. E há a colecção de leques da minha bisavó Maria do Resgate, onde conto em doze sonetos nada menos que trinta e quatro suspiros...
Ainda ao meu caro João de Castro Nunes, penitencio-me mas só agora li o seu segundo comentário, também afinal a mim dirigido.
Senhor Ceivães, muito desce... quem não tem nível!
Por este caminho, rastejando, que futuro tem a NOVA ÁGUIA?... Vossemecê mete-me pena, para outra coisa não dizer. Veja lá se arranja maneiras de pessoa minimamente civilizada!
Fique sabendo, senhor Ceivães, que me estou nas tintas para as suas preferências literárias, mesmo tratando-se dos suspirosos leques da sua bisavó!
A pena, prezado Nunes, costuma ser útil aos poetas e não serei eu quem a corte. Permito-me citar-lhe o incomparável Carlos Amaro, de quem muito me tenho recordado aqui recentemente:
"Pena, pena, bandolim;
pena, pena, e solta um ai"
Não ponho aqui mais, mas assevereo-lhe que rima e tudo.
Vossemecê, senhor Ceivães, não passa de um descategorizado galo depenado. E mais não digo... para não rimar!
Caro João de Castro Nunes
Vamos virar a página...
Para mais, as caixas de comentários servem para comentar: os respectivos textos...
Ó João de Castro Nunes o que o Casimiro sabe de poesia é ser melhor poeta do que você alguma vez há-de ser!
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