A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sábado, 13 de junho de 2009

Fradique Mendes, a pele... o casaco, a palavra...

«Lisboa, Abril.

A E. STURMM, ALFAIATE

Meu bom Sturmm. – A sua sobrecasaca é perfeitamente insensata. Ali a tenho,
arejando à janela, nas costas de uma cadeira; e assenta tão bem nessas costas de pau,
como assentaria nas do comandante das Guardas Municipais, nas do Patriarca, nas de
um piloto da barra ou nas de um filósofo, se o houvesse nestes remos. Quero, pois,
severamente dizer que ela não possui individualidade.
Se V., bom Sturmm, fosse apenas um algibebe, embrulhando a multidão em pano
Sedan para lhe tapar a nudez – eu não faria à sua obra esta crítica tão alta e exigente.
Mas V. é alemão, e de Conisberga, cidade metafísica. A sua tesoura tem parentesco com
a pena de Emanuel Kant, e legitimamente me surpreende que V. não a use com a mesma
sagacidade psicológica.
Não ignora V., decerto, que ao lado da filosofia da história e de outras filosofias,
há ainda mais uma, importante e vasta, que se chama a filosofia do vestuário; e menos
ignora, decerto, que aí se aprende, entre tanta coisa profunda, esta, de superior
profundidade: que o casaco está para o homem como a palavra está para a ideia.
Ora, para que serve a palavra, Sturmm? Para tornar a ideia perceptível e
transmissível nas relações humanas – como o casaco serve para tornar o homem
apresentável e viável através das ocupações sociais. Mas é a palavra empregada sempre
em rigorosa concordância de valor com a ideia? Não, meu Sturmm.
Quando a ideia é chata ou trivial, alteia-se, revestindo-a de palavras gordas e
aparatosas – como todas as que se usam em política.
Quando a ideia é grosseira ou bestial, embeleza-se e poetiza-se, recobrindo-a de
palavras macias, afagantes, canoras – como todas as que se usam em amor.
Por outro lado, escolhem-se palavras de uma retumbância especial para reforçar a
veemência da ideia – como nos rasgos à Mirabeau – ou rebuscam-se as que pela
estranheza plástica ajuntam uma sensação física à emoção intelectual – como nos versos
de Baudelaire.
Temos pois que a palavra opera sobre a ideia, ou disfarçando-a ou acentuando-a.
Vai-me V. seguindo, perspicaz Sturmm?
Tudo isto se aplica exactamente às conexões do casaco com o homem.
Para que talham os alfaiates ingleses certas sobrecasacas longas, rectas, rígidas,
com um debrum de austeridade e ressudando virtude por todas as costuras? Para
esconder a velhacaria de quem as veste. Você encontra em Londres essas sobrecasacas,
nos meetings religiosos, nas sociedades promotoras da moralização dos pequenos
patagónios e nos romances de Dickens. E para que talham eles esses fraques audazes,
bem acolchoados de ombros, quebrados e cavados de cinta, dando relevo aos quadris –
sede da força amorosa? Para acentuar os corpos robustos e voluptuosos a que se colam.
Você vê desses fraques aos Lovelaces, aos caçadores de dotes e a toda a legião dos entretenus.
Disfarçando-o ou acentuando-o, o casaco deve ser a expressão visível do carácter ou do tipo que, cada um, pretende representar entre os seus concidadãos.
Quem lhe encomenda pois um casaco, digno Sturmm, encomenda-lhe na realidade
um prospecto. E nem precisa o alfaiate que aprofundou a sua arte, de receber a
confissão do freguês. As ligeiras recomendações que escapam, inquietas e tímidas, na
hora atribulada da «prova», bastam para que ele compreenda o uso social a que o cliente
destina a sua farpela... Assim, se um cavalheiro de luvas pretas, com uma luneta de ouro
entalada entre dois botões do colete, que move os passos com lentidão e reflexão, e, ao
entrar, pousou sobre a mesa um número do Jornal do Economista, lhe diz, num tom de
mansa reprovação, ao provar o casaco: «Está curto e justo de cinta» – V. deve logo
deduzir que ele deseja aquelas abas bem fornidas, flutuantes, que demonstram
abundância de princípios, circunspecção, amor sólido da ordem e conhecimento miúdo
das pautas da Alfândega... Vai-me V. penetrando, bom Sturmm?
Ora, que lhe murmurei eu, em mau alemão, ao provar a sobrecasaca infausta? Esta
fugidia indicação: «Que cinja bem!» Isto bastava para V. entender que eu desejava,
através dessa veste, mostrar-me a Lisboa, onde a ia usar, sinceramente como sou –
reservado, cingido comigo mesmo, frio, céptico e inacessível aos pedidos de meias
libras... E, no entanto, que me manda V., Sturmm, num embrulho de papel pardo? V.
manda-me a sobrecasaca que talha para toda a gente em Portugal, desgraçadamente: a
sobrecasaca do conselheiro!
Digo «desgraçadamente» – porque vestindo-nos todos pelo mesmo molde, V.
leva-nos todos a ter o mesmo sentir e a ter o mesmo pensar. Nada influencia mais
profundamente o sentir do homem, do que a fatiota que o cobre. O mais ríspido profeta,
se enverga uma casaca e ata ao pescoço um laço branco, tende logo a sentir os encantos
dos decotes e da valsa; e o mais extraviado mundano, dentro de uma robe de chambre,
sente apetites de serão doméstico e de carinhos ao fogão.
Maior ainda se afirma a influência do vestuário sobre o pensar. Não é possível
conceber um sistema filosófico com os pés entalados em escarpins de baile, e um
jaquetão de veludo preto forrado a cetim azul leva inevitavelmente a ideias
conservadoras.
Você, pondo no dorso de toda a sociedade essa casaca de conselheiro, lisa,
insípida, rotineira, pesabunda – está simplesmente criando um país de conselheiros!
Dentro dessa confecção banalizadora e achatante, o poeta perde a fantasia, o dândi
perde a vivacidade, o militar perde a coragem, o jornalista perde a veia, o crítico perde a
sagacidade, o padre perde a fé – e, perdendo cada um o relevo e a saliência própria, fica
tudo reduzido a esse cepo moral que se chama o conselheiro! A sua tesoura está assim
mesquinhamente aparando a originalidade do país! Você corta, em cada casaco, a
mortalha de um temperamento. E se Camões ainda vivesse – e V. o vestisse – tínhamos
em lugar dos Sonetos, artigos do Comércio do Porto.»

(Cartas Inéditas de Fradique Mendes)

9 comentários:

Renato Epifânio disse...

Um dia destes, na esteira deste texto, escreverei algo sobre os "rótulos"...

João de Castro Nunes disse...

Afinal, todos temos um pouco de "conselheiros", a começar por quem aponta o dedo ao próximo... como se fosse o único a não sê-lo!

Ruela disse...

Aqui poderão ver as casacas, temos à medida e para todos os gostos.

João de Castro Nunes disse...

Então vossemecê é o Sturmm da carta de Fradique Mendes?!...

Rasputine disse...

Então este post foi roubado do bar do Ossian!?...

Shame on you, se assim foi!...

João de Castro Nunes disse...

Homem, troque isso... por miúdos!

António José Borges disse...

Caro Rasputine,

a minha dignidade intelectual exige-me que eu lhe exiga um pedido de desculpa, pois este post veio de uma pasta dos meus documentos, bem organizados em temas, percebe?

Aliás, folgo em saber que há mais gente com bom gosto literário e também com o espírito atento. Acabei de visitar o blogue referido.

Acredito que a sua humildade lhe vai ditar as palavras que lhe quero ouvir. E assim tudo ficará bem, caso contrário sinto-me muito ofendido, acredite, e isso não tolero.

Aguardo.

Rasputine disse...

António José Borges,

Um homem com uma consciência tão acentuada da sua "dignidade intelectual" devia conhecer o sentido da conjunção condicional "se" e saber ler... Poupava-se assim o incómodo de ficar tão "ofendido" com tão pouco e de o não tolerar, além do incómodo de fazer exigências que não poderá ver satisfeitas.

Claro que o meu comentário é provocador, mas só explodem os balões inchados... de coisa alguma.

António José Borges disse...

Rasputine,

se são as suas últimas palavras, fica registada a sua falta de humildade. Não compreendi o porquê. Já releu o seu primeiro comentário? O "se" vem no final!

E neste último comentário continua a provocar... É bom que discuta assuntos, mas que não ponha em causa, repito, a HONESTIDADE intelectual!

Custa-lhe muito pedir desculpa? SE ASSIM FOR, isso mostra o seu carácter.

Gostaria que ficássemos por aqui.

Cumprimentos cordiais, ainda que não os merecesse.

Continuo a aguardar a palavra que só está ao alcance das pessoas sensatas. Só não se arrepende que não aceita a precipitação e é humilde.