A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 3 de maio de 2009

Maio, na fundação das coisas

Por mais do que um modo se nomeava a cidade, na língua latina: civitas e urbs.

A primeira, civitas, equivalente a polis, em grego, admitia um sentido político-jurídico e deu assim raiz a civismo. A segunda, urbs, significava o que hoje significa cidade, como local e população, modo de viver diferente e até oposto a rur - a cidade e a província dos nossos dias (...)

Não nos fixemos demasiado nessa simetria de contrários, porque nem a civitas se definia por esta oposição, sendo ela o verdadeiro pólo de atracção e movimento, nem a urbs ficava retida no confronto com a província e com a ruralidade.

Civitas e urbs têm a sua coincidência essencial, quando a geometria, o espaço delimitado, em virtude dos princípios que delimitam, sagra ou sacraliza a civitas. Nesse momento, ou a partir desse princípio, o espaço trasnforma-se no lugar próprio das pessoas que ali viviam, sob a protecção e abominação dos seres superiores a quem prestavam culto, segundo a lei que o mesmo princípio ditava. Urbs significaria a manifestação visível do que na cidade é invisível.

Mas na cidade de hoje, conforme nos objectaria o senso comum, tudo é ainda mais visível, porque ela se nos apresenta com o volume dos corpos, das construções, dos processos mecânicos de movimento, dos equipamentos de poder, de tantas outras coisas que nos agridem citadinamente em vez de nos unirem civicamente.

Mas o senso comum que não vê senão o que é visivelmente comum, continua a urbanizar ou na total promiscuidade das imagens, ou, quanod muito, segundo razões de ordem social e estética que não têm em conta, como na cidade antiga, um desenvolvimento coerente do direito privado, familiar, às coisas públicas, entre as quais, como seu princípio ou centro, as que o culto protegia como divinas.

Por mais que os tempos mudem, o arquétipo não pode ser alterado. De outro modo, e por muito louváveis que sejam os critérios de sanidade e de manutenção da vida em comum, traçar-se-á um local, mas nunca uma urbe. Esta procura coincidir com a civitas naquele centro análogo dos seres visíveis e invisíveis que a compõem. Será um centro de apoio do movimento que eleva de urbe a orbe.

Não será necessário especificar demasiado nas páginas da história exemplos dessa equidistância espiritual. Grécia e Roma são as que melhor conhecemos porque também lhes pertencemos nesse trânsito expansionista de urbe a orbe.

Aliás, não é por acaso que as duas palavras estão foneticamente tão próximas e que, graficamente, difiram apenas ao completar-se o movimento circular da primeira letra. Os vários significados de orbis confirmam a ideia contida no movimento circular, quer pelo prato da balança da justiça, do escudo na guerra, do anel da aliança, do olho de visão, do espelho da reflexão, da órbita ou do movimento circular.

Perdeu-se em Portugal o conhecimento da relação entre o símbolo e o simbolizado (...)"

Afonso Botelho, Origem e actualidade do civismo (1979)

2 comentários:

Edson Pelé disse...

Ainda tem portugues que não é estúpido, fico feliz, talvez queira dizer - veja Cippola - que não estão decadentes.

Casimiro Ceivães disse...

ainda tem, ainda tem...