A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 31 de maio de 2009

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos e notas): 6ª série

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No primeiro Caderno desta série, O TRANSFORMISMO, radica Agostinho da Silva esta visão evolucionista do Universo nos gregos: “Foram os gregos, como sucede em quase todos os ramos do conhecimento humano, pelo menos no es­tado actual da nossa erudição histórica, os primeiros que se libertaram das concepções religiosas primitivas e defenderam que as espécies vegetais e animais pro­vinham, por evolução, de tipos recuados, um ou vários, que em nada se pareciam com os exemplares actuais”[1]. Ainda que só muitos depois, com Lamarck, esta se tenha consolidado: “Como em todos os movimentos humanos, os pre­cursores foram numerosos, mas coube a um só homem, por características próprias e por ter chegado no mo­mento oportuno para a síntese, dar da doutrina a pri­meira exposição coerente e sólida; é na Philosophie Zoologique de Lamarck (1744-1829) que o facto da evolução é afirmado sem qualquer espécie de dúvidas e se apre­sentam, para o explicar, hipóteses apoiadas em resulta­dos da observação”[2]. Cabendo depois o golpe final a Darwin: “o grande golpe ao fixismo vem de Darwin; nascido em 1809 e depois de estudos que não foram brilhantes, embarca em 1831, no Beagle, para uma via­gem à volta do mundo que lhe fornece uma documentação abundante sobre assuntos de história natural e, pela observação de certos factos de paleontologia, o leva para o campo transformista”[3]. Em particular, com a seu livro a Origem das Espécies, que “foi tido por todos os seus contemporâneos como um evangelho do transformismo” – de tal modo que, ainda segundo Agostinho, “1859 marca a data a partir da qual foi impossível, cientifica­mente, defender as doutrinas fixistas; daí por diante todas as discussões se vão travar entre partidários das várias escolas transformistas”[4].
No segundo Caderno, A VIDA DE FLORENCE NIGHTINGALE, dá-nos, Agostinho da Silva, um retrato muito impressivo do trajecto desta mulher italiana, salientando a sua vocação para a acção*: “a ela levava-a acima de tudo um desejo de batalha contra o mal e tinha a certeza de que a sua vida seria a mais feliz de todas, mesmo entre tudo que para os outros pareceria uma desgraça, se estivesse realizando qualquer tarefa, grande ou pe­quena, em que pudesse verdadeiramente melhorar o mundo; não tinha melancolias duradouras, nem re­núncia perante o poder adversário; cada vez mais forte o desejo de intervir, cada vez mais robustas, pela meditação e pelo estudo, as energias que a impeliam para o alvo que indistintamente se marcara. Pensou em escrever, mas não a satisfazia nem a glória, nem a acção do autor: no escrever sentiria sempre um meio inferior ao de agir no mundo e só ficaria satisfeita com um livro quando ele fosse um reforço da acção; cria que só se escreve quando se não pode viver, que um livro é também de certo modo uma concessão que o escritor faz ao seu próprio gosto da comodidade e do sonho; ora o sonho só lhe parecia defensável quando é um projecto, jamais quando se apresenta como uma evasão, como um paraíso artificial em que se refugiam os fracos; sonhar, para ela, era pensar fazer, não criar uma outra vida ao lado daquela que nos fugiu ou que tememos; depois, as energias que se empregaram para escrever um livro, que nunca se sabe que resultados poderá dar, foram energias que se per­deram para realizar na vida aquilo que na vida pode­ria ter sido indiscutivelmente bom”[5]. De tal modo que, mesmo no plano religioso, “a contemplação* não lhe surgia como uma forma superior da vida de espírito”[6].
No terceiro, O ISLAMISMO, apresenta-nos, Agostinho da Silva, uma perspectiva positiva desta religião, salientando mesmo a “coragem” de Maomet, nomeadamente no seu repúdio das crendices vulgares: “a oposição dos habitantes de Meca manifestou-se, ou nas troças do povo, que o tratava como a um doido ou na pressão dos poderosos que o ameaçavam de morte; Maomet, corajosamente, continuou o seu trabalho, não temendo ir ao encon­tro, no que era fundamental, das crendices vulgares; frequentemente lhe pediam que fizesse milagres; replicava que não os podia fazer e que acreditar-se num milagre é marca de espírito inferior; o mundo inteiro era um milagre: olhassem, se queriam extasiar-se com milagres, para a terra e para o céu, para o mais humilde, para o mais apagado dos homens”[7].
No quarto, AS ABELHAS, impressiona a quantidade de factos por Agostinho da Silva coligidos na sua investigação, salientando, por um lado, a multiplicidade da variedade de abelhas e, por outro, o que é comum a essa variedade: “Todas estas variedades de abelhas têm nas suas colónias três tipos de indivíduos: a abelha mestra ou rainha, as obreiras, os machos ou zângãos. A abelha mestra, que se não deveria chamar rainha, porque não exerce nenhuma acção de governo, é a única fêmea completa de cada colmeia normal; uma família sem mestra, uma família órfã, desaparece por completo quando, por qualquer motivo, as obreiras não podem criar outra mãe; a pluralidade de mestras, que é tam­bém fenómeno excepcional, traria igualmente a decadência e a morte da colónia, pela desordem que produziria”[8].
No quinto, A VIDA E A ARTE DE CELLINI, desenha-nos, Agostinho da Silva, um impressivo fresco histórico, no âmbito do qual viveu este “homem que profundamente penetrara no século, que tivera com o seu desejo de domínio, a sua agressividade, o seu amor das belas formas, a sua imaginação, todos os defeitos e todas as qualidades do Renascimento*”[9].
No sexto e último, LITERATURA LATINA, dá-nos, Agostinho da Silva, uma vez mais mostra da sua extrema erudição relativamente à época clássica* – o que, neste caso, não surpreende, dada a sua formação –, falando-nos, em detalhe, do principais autores até Marco Aurélio, após o qual, como defende, se inicia um período de “decadência”, apenas revertido com o advento do cristianismo*: “Depois de Marco Aurélio entra-se em plena deca­dência da literatura latina; os poemas de Ausónio, (séc. IV) com toda a sua facilidade e toda a sua ele­gância, o Rapto de Proserpina de Claudiano (séc. IV), a narrativa da viagem que escreveu em verso Rutilio Namaciano (séc. V), os livros de Avieno (séc. IV) sobre o Universo, a História Augusta que narra a vida dos imperadores que vão de Adriano a Carino (117-284), os trabalhos de Amiano Marcelino sobre história ro­mana, o Sonho de Cipião de Macróbio (séc. IV-V) e as Saturnais do mesmo autor, são obras sem inspira­ção, sem grandeza, sem reais contactos com a vida, embora alguns dos escritores possuam certo talento técnico; só o advento do cristianismo*, pregando novos ideais, poderá provocar o aparecimento de autores que não tratem retoricamente puros temas retóricos”[10].

[1] O Transformismo, Lisboa, Edição do Autor, 1942, p. 4.
[2] Ibid., p. 8.
[3] Ibid., p. 12.
[4] Ibid., p. 15.
[5] A vida de Florence Nightingale, Lisboa, Edição do Autor, 1942, pp. 6-7.
[6] Ibid., p. 8.
[7] O Islamismo, Lisboa, Edição do Autor, 1942, p. 7.
[8] As Abelhas, Lisboa, Edição do Autor, 1942, pp. 4-5.
[9] A vida e a arte de Cellini, Lisboa, Edição do Autor, 1942, p. 18.
[10] Literatura Latina, Lisboa, Edição do Autor, 1942, pp.20-21.

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