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Discurso por Ocasião do Simpósio Lusofônico
em Fortaleza, CE.
Por José Fernando Aparecido de Oliveira
“Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que
se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha
língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor,
como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do
deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação.”
Com essas palavras, o escritor português Vergílio Ferreira registrou a razão de ser de uma comunidade internacional pautada sobre a língua portuguesa. Ele conseguiu descrever a essência da Lusofonia quando percebida como um canal, além-mar, para a cooperação humanista. Sobre esse pensamento, meu pai – o embaixador José Aparecido de Oliveira lutou para que todos os falantes lusófonos ao redor do mundo pudessem, por meio da amizade, estabelecer um elo de crescimento e desenvolvimento humano.
Para além das rodas diplomáticas, a Lusofonia deve ser encarada como a chave de comunicação capaz de gerar força na aproximação entre os oito países que compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Alcançar o objetivo máximo a que nos propomos quando falamos de cooperação lusófona internacional leva-nos obrigatoriamente a buscar grande envolvimento de toda a população de Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. E não simplesmente de acadêmicos, diplomatas e apaixonados pelo assunto.
A cooperação, a concertação político-diplomática e a promoção e difusão da língua portuguesa estão estabelecidos nos estatutos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa como os três objetivos da CPLP. A partir da orientação destes três pilares, definidos quando da criação da instituição em 1996, devem surgir as ações comunitárias. Entretanto, dois novos pressupostos vêm, mais recentemente, se conformando de forma a alargar os objetivos comunitários: a promoção da cooperação econômica e comercial; e a cidadania e circulação de pessoas no universo geográfico dos países de língua portuguesa. Por si só, a população dos países falantes do português está acomodando o significado de ser parte de uma comunidade lusófona internacional. No que diz respeito à promoção da cooperação econômica e comercial, o crescente envolvimento do Brasil com os três países da CPLP da África Ocidental ( Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo-Verde ) – sob uma perspectiva comercial e econômica – tem se fortalecido em meio a uma região que historicamente sofre forte influência, dessa natureza, proveniente da França. Quanto à cidadania e à circulação de pessoas no universo geográfico dos países de língua portuguesa é notável citar o intercâmbio de pesquisadores e estudantes universitários; e o acesso facilitado de profissionais, entre os países lusófonos, com fins de transferência de conhecimentos.
Os interesses da sociedade civil de cada Estado-membro da Comunidade dos países de Língua Portuguesa é que são responsáveis pelos avanços da CPLP. Isso acontece por meio da convergência daquilo que internamente definiram como sendo seu interesse nacional. É o consenso que dita a ação dentro da comunidade lusófona. Apesar de se reconhecerem na tradição política e institucional do direito romano e da própria religião católica, todos eles vivem realidades bastante díspares. Assim, é relevante também mencionar que a votação dos Estados-membros dentro da CPLP é consensual, dá o direito de veto a qualquer um dos componentes e, portanto, leva o grupo a, obrigatoriamente, pensar nos benefícios a serem gerados para toda a Comunidade – e suas diferentes populações –, enquanto consideram os próprios interesses.
Em função do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa – feito entre diferentes nações lusófonas, a sociedade civil se mobilizou. Somente ele é pouco. São necessários o “Acordo Educacional da Língua Portuguesa”, o “Acordo Anti-Corrupção da Língua Portuguesa”, o “Acordo da Fome da Língua Portuguesa”, o “Acordo de Desenvolvimento da Língua Portuguesa”, o “Acordo da Paz da Língua Portuguesa”, “Acordo de Promoção Cultural da Língua Portuguesa” entre tantos outros. É necessário que lancemos mão da língua portuguesa para construirmos um mundo melhor. E ela é forte. Da nossa língua, vê-se o mar.
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Ao ensejo desse esforço conjunto coordenado pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, aproveito para lançar a idéia de um novo espaço. Com ele, acredito que a aproximação dos imortais escritores dos oito países de língua portuguesa, seja também a aproximação das idéias, dos esforços e, sobretudo, da história de todos os povos lusófonos. Disponho-me, fraternamente, para que trabalhemos na fundação de uma Academia Lusófona de Letras.
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
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5 comentários:
Pela minha parte, não poderia estar mais de acordo. Se sempre defendi o Acordo Ortográfico, foi em prol de um Acordo mais vasto, que se estenda a todos os planos - não apenas cultural, como igualmente social, económico e político...
E ver (o mar) é ser.
Se ver o mar fosse ser, estariam justificadas, em nome do urgentíssimo Não-Ser, todas as frentes ribeirinhas :)
De resto, e no que interessa: grande discurso, grande post.
Saliento (poruqe mais ninguém o fará aqui):
"Apesar de se reconhecerem na tradição política e institucional do direito romano e da própria religião católica..."
É urgente a instalação de estruturas da CPLP em cada uma das capitais Lusófonas. Isso é urgente.
Eu destaco: "É necessário que lancemos mão da língua portuguesa para construirmos um mundo melhor. E ela é forte. Da nossa língua, vê-se o mar". Como destaco que "a voz do mar foi a da nossa inquietação". Faço-o pensando ainda nas palavras de Miguel Real, quando declarou que a Lusofonia só fará sentido se dela resultar um "choque cultural" para o mundo. A minha recente experiência em Nova Iorque o confirmou: é só contaminando-o da nossa inquietação que o mundo se abrirá à Lusofonia e aos valores que na sua língua e cultura se expressam. Para isso precisamos de a ter. Inquietação.
Bem dito.
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