MYSTERION
Não é de agora (disse o mármore) essa escura
e insidiosa imagem da sustentação das coisas
nelas próprias. Da fria dissolução das coisas
nelas próprias. Blasfema e última avidez
do nada, senhorio pálido do fim, mentis:
lepra e ferrugem na palavra e nos metais.
Não, não é de agora a prostração das coisas,
mas na penumbra e na água (disse) o verde
aguarda. Canta na solidão do vitral o fogo
e aguarda. O puríssimo vermelho é a memória
do mocho, a vigília áspera do mocho. Insubmissos
o bronze e o falcão. Nem o veneno na pedra
nem a secreta (disse) crispação vulcânica
dos anjos são de agora. Mas no mais íntimo
do assombro assenta a fundação da esmeralda,
ao mistério velado ascende o coração do mundo
e cria. Não é de agora a ruína nos arcos,
a rendição na voz. Mas o adorável silêncio
dos sapos é o verbo, a floração árctica
da urze é o verbo e sabe, o corvo sabe.
Imperial e oculta (disse) elevação do musgo.
Casimiro Ceivães
2 comentários:
Belo poema Casimiro!
Abraço e parabéns.
E vai já para o quarto número...
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