A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 10 de abril de 2009

Esfera Armilar - Consumismo: a nova religião

"Outra leitura para a crise"

A mentalidade antiga formou-se numa grande superfície que se chamava catedral; agora forma-se noutra grande superfície que se chama centro comercial. O centro comercial não é apenas a nova igreja, a nova catedral, é também a nova universidade. O centro comercial ocupa um espaço importante na formação da mentalidade humana. Acabou-se a praça, o jardim ou a rua como espaço público e de intercâmbio. O centro comercial é o único espaço seguro e o que cria a nova mentalidade. Uma nova mentalidade temerosa de ser excluída, temerosa da expulsão do paraíso do consumo e por extensão da catedral das compras.
E agora, que temos? A crise.
Será que vamos voltar à praça ou à universidade? À filosofia?

- José Saramago, in O Caderno de Saramago.

Há algum tempo que abordo esta questão, de modo mais desenvolvido, nas aulas de "Filosofia da Religião". Na verdade, crentes ou descrentes, raros são os que se furtam a uma nova religião inconsciente: o consumismo. Novos sacerdotes, em complexos, múltiplos, obscuros e ocultos níveis hierárquicos, concebem e produzem as novas e sedutoras divindades, produtos, bens, serviços. A revelação e o anúncio da salvação é feito pela nova profecia e pelos novos profetas, publicidade e publicitários. Como recompensa do sacrifício do tempo, do trabalho e da conta bancária, e primeiro que tudo da inteligência, trocada pela crença de que assim se vai ser feliz, as novas divindades, completamente patentes e disponíveis, sem qualquer mistério, descem dos novos altares, as montras, ecrãs e catálogos, para oferecerem o êxtase imediato e efémero da sua posse. Que logo deixa o devoto insaciado e cada vez mais sequioso, como se bebesse água salgada para se dessedentar. Porque ignora não ser isso que no fundo busca e não ser aí que o pode encontrar.

Outros comportamentos e sucedâneos neoreligiosos facilmente se constatam, no futebol, na política, no rock. Tudo, tal como nas religiões tradicionais ou nos espiritualismos new-age, por se imaginar que algo falta possuir, ou que algo falta acontecer, para se ser o que todos queremos ser: felizes.

É demasiado evidente para se reparar nisso. Como é demasiado evidente que, enquanto este novo e mais profundo obscurantismo dominar as mentes e as multidões, haverá sempre um tipo de poder e de economia, de degradação do mundo e da vida humana que impossibilitará qualquer transformação profunda a nível social e político. No fundo para que trabalhamos todos nós, todos os dias, senão para sustentar e reproduzir isto? E quem chegará ao poder senão por e para sustentar e reproduzir isto? Quem poderá mudar isto do exterior, por decreto? E quem poderá mudar esta mentalidade, a nível colectivo? Quem reconhece e desmonta a ilusão que tudo move?

16 comentários:

Casimiro Ceivães disse...

Muito bom este texto.

Talvez nos seja dada uma mudança mais funda do que ousa supor Saramago e voltemos um dia não apenas à Praça e à Universidade (nesta aliás nunca esteve toda a gente...) mas à catedral (e ao mosteiro).

Receio, Paulo, é que seja optimista dizer que os novos sacerdotes 'concebem' as novas divindades; antes assim fosse, como imaginaram os materialistas do século XIX. De certa forma, Frankenstein surge 'antes' do Dr. Fulano que se imagina médico-feiticeiro, tal como a sombra existe antes do necromante.

Como se (não vou exprimir isto muito bem...) nem toda a ilusão pressupusesse um (humano) ilusionista.

Abraço

Paulo Borges disse...

Casimiro, estou inteiramente de acordo consigo. Na verdade não disse tudo o que penso. As novas divindades geram-se num fundo mais obscuro, a que os novos sacerdotes apenas dão a forma que mais nos atrai. E esse fundo mais obscuro está dentro de nós, nos inumanos recônditos da nossa humanidade e da nossa ilusão. Não sei se pensa num ilusionista não humano ou numa ilusão sem ilusionista. Vou mais pela segunda hipótese, mas não faço dela uma entidade metafísica exterior a cada uma das nossas mentes. Que também não considero meramente humanas.

Quanto à mudança mais funda que Saramago não supõe, penso o mesmo. Ela passa inevitavelmente pela catedral e pelo mosteiro, exteriores, interiores ou as duas coisas. Nem houve alguma vez mudança mais funda que não viesse daí.

Um Abraço

Casimiro Ceivães disse...

Grato pelo comentário. Também assim penso.

Quanto ao ilusionista e à ilusão, talvez um dia possa procurar uma formulação mais adequada; em qualquer caso, não penso no ilusionista 'criatura' tal como nos é legado habitualmente pelo cristianismo, nem na nossa mente (que também penso não ser 'meramente humana') como lugar único da ilusão.

Sei bem que isto conduz a fundos paradoxos. No fundo, como se aquele movimento a que Leonardo chamou 'floração' ou desdobramento (no sentido em que o panteísta pode considerar uma simples flor e por ela e nela encontrar caminho e rosto da unidade) fosse por vezes invertido, e invertido desde a origem. E a sua manifestação é o oposto de um vento, digamos assim; um 'aspirar' e 'absorver', oposto à imagem do sopro fértil do Espírito Santo.

Não, portanto, o ocidental demónio que quer simplesmente reinar na criação decaída, ou sequer o deus-pan-baco da desordem 'silvestre', mas um abismo que se ssforça por in-criar.

Mas não quero afastar-me demasiado da excelente reflexão que nos trouxe.

julio disse...

E o mais grave, permita-me palpitar, parece ser mesmo o esparramar-se isto por todos os corredores, por onde vá gente.

Tudo se vende e compra, num mercado cego, por mais abertos pensem ter os olhos, os oportunistas e vendilhões, cujo lucro é seu Deus.

E até Deus se transformou em objeto de compra e venda, e com todos os argumentos do terror velado contra quem não aderir a esse vil mercado geral.

Se quisermos ser bem realista, veremos nisto uma forma de desmonte universal, muito para além do óbvio, de Saramago.
São os rebanhos a reboque dos espertos.

Mas que ao fim, para que serve tanta esperteza?

É sem dúvida a reafirmação do estado vazio...

E este como é representado noconcreto e tem forma, precisa esta ser adornada, com jóias, e até com santinhos!
Ou Ferraris, Jatinhos, Barcos e tal...
Mas segurança absoluta só mesmo quem em paz andar com a sua consciência.
E pobre daquele cujo Deus estiver fora, que aí pode sair do lugar, ou ir embora (rsrsrsr).
Mas até de quem sabe estar Ele dentro de si pode sair, e ir embora.

Mas a felicidade, o respeito, a humildade, a consciência, o esclarecimento e o contentar-se com o seu o mantém dentro, certamente.

Ariana Lusitana disse...

Agir, falta agir. De diagnósticos estou farta, são todos iguais.

Paulo Borges disse...

Pois o que fazer então, no plano colectivo? Individualmente, conheço o caminho.

Casimiro Ceivães disse...

'que farei eu com esta espada?'

Ariana Lusitana disse...

Chama-se exercício da cidadania ou luta política.

Ariana Lusitana disse...

Conhece o caminho? pensava que para dentro era de escorrega.

António José Borges disse...

A economia, como ramo da sociologia, deveria ser organizada no sentido de satisfazer as necessidades das pessoas, mas o que se passa neste pré e prolongado domínio do capitalismo é que este mesmo cria necessidades nas pessoas para depois satisfaze-las, sempre com o lucro como base de sustentação da sua actividade, ou escudando-se com o progresso como palavra de ordem.

Entretanto, convém não esquecer uma condição recentemente crónica da mentalidade humana: a de que o dinheiro é Deus.

Paulo Borges disse...

Para dentro de escorrega!? Vê-se que nada percebe de vida e combate interior.

Ariana Lusitana disse...

Não sou religiosa. Dos meus combates sei.

julio disse...

"Que farei com esta pistola na mão apontada às pessoas?"

Casimiro Ceivães disse...

No seu caso, caro Julio, pouse-a muito devagarinho. Respire fundo.

julio disse...

Mas eu não treino tiro ao alvo!
Nem tenho já desafetos, nem meu foco são figuras humanas.

Meu foco é mesmo luminoso, sem todavia deixar que a luz me cegue, nem a presunção de mim se apodere.

Não sou escravo das minhas emoções nem raivas,
nem a intolerência com ninguém me faz agir como alguém dotado de algo que com ele a outrem venha a corrigir... (Pobre, mas nem tanto!)

Que é feio e de muita pequenez alguém atribuir-se o que nega ou escarnece nos outros.

Vivo pela regra de igualmente deixar viver.

Mas compreendo quem treina tiro e se faz arma em punho com palavras, na falta de balas, e as dispara a todos. rsrsrsrsrs (riso)
A alegria é um dom divino do qual não abro mão, meu caro Casimiro.

Venham as balas de que lado vierem...

Mas pessoas há que se transformam em esponjas e absorvem da prática do que fazem...

E os atiradores se fazem balas, e
os pescadores se fazem peixes, etc.

Casimiro Ceivães disse...

Ah, se a sua pistola é a alegria então meu caro Julio desejo que o tiro seja certeiro. É um dom divino, sim.