A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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domingo, 26 de abril de 2009

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos e notas)

1ª série
A Primeira Volta ao Mundo, Famalicão, Edição do Autor, 1940
Breve História do Linho, Famalicão, Edição do Autor, 1940
A Vida de Edison, Famalicão, Edição do Autor, 1940
A Vida e a Arte de Goya, Famalicão, Edição do Autor, 1940
Uma ascensão nos Himalaias, Famalicão, Edição do Autor, 1940
O pensamento de Epicuro, Famalicão, Edição do Autor, 1940

Para além de todos os dados factuais que em cada Caderno Agostinho da Silva colige, e que denotam uma vasta investigação da sua parte[1], há sempre um encadeamento romanesco, o mesmo é dizer, uma “história”, que culmina numa reflexão de pendor moralizante. Ou seja, em suma, em todos os Cadernos há sempre – ou, mais, exactamente, quase sempre – uma “moral da história”.
No primeiro deles, A PRIMEIRA VOLTA AO MUNDO, a “moral da história” é a de que valeu a pena a viagem, não obstante o sacrifício de mais de 200 homens: “Mais de 200 homens tinham morrido na viagem, mas ninguém se lembrou dos sofrimentos e desastres ante o que se tinha conseguido obter; a pimenta que se vendeu pagou todas as despesas da expedição e pôde ainda marcar-se um lucro de 500 ducados de ouro; era uma promessa de magníficos negócios, que o pró­prio rei coroaria, vendendo mais tarde as Malucas aos portugueses por 350 mil ducados. Poucos atentaram nos resultados científicos da expedição de Magalhães; e, no entanto, ficava plenamente assegurado que a Terra era redonda, que a América era um continente isolado, que o imenso Pacífico a separava da Ásia, não mais se podendo afirmar que a massa de continentes era superior à massa dos oceanos; nenhuma outra viagem teria como esta tão grande importância para o pro­gresso da ciência geográfica.”[2].
No segundo deles, BREVE HISTÓRIA DO LINHO, mais do que uma “moral da história”, há uma aposta – na tecnologia, para o “alívio das fadigas que o processo traria à gente do campo”: “Hoje, grande parte do trabalho do linho poderia, portanto, ser feito por máquinas; certo é que há con­veniência em serem realizadas nos campos todas as operações até à produção da filaça, visto que, dando o linho pouca filaça em relação ao seu peso bruto, a despesa de transportes agravaria muito o preço; mas a fiação e tecelagem deveriam ser realizadas em fábricas, como se faz para o algodão; cada fábrica centralizaria o trabalho do linho produzido em determinada região. O que se perdia em pitoresco e tradição ficava ampla­mente compensado pelo maior rendimento e pelo alívio das fadigas que o processo traria à gente do campo.” (p. 26)[3].
No terceiro, A VIDA DE EDISON, exalta Agostinho da Silva a consciência de uma vida bem vivida, para quem, nessa medida, a morte aparece “como um descanso bem merecido”: “sente que deu tudo o que podia, que nunca nenhuma tarefa o achou sem coragem e sem força de ataque; fez bem ao mundo e o mundo foi, para ele, com todas as suas reacções, boas ou más, um magnífico ambiente de trabalho; teve a dedicação de quatro ami­gos e a simpatia de milhões de homens; todas as suas horas foram cheias de uma alta vibração de energia e de bondade; encara a morte com serenidade, quase com prazer, como um descanso bem merecido”[4]. O mesmo acontecendo no quarto, A VIDA E A ARTE DE GOYA: “a morte aproximava-se; os amigos sentiam-na, mas Goya batia-se pensando e traba­lhando; não o havia de colher como um vencido; a sua última hora havia de ser de vitalidade e de triunfo; e assim aconteceu: Goya morreu de alegria ao saber que o iam visitar o filho e o neto que já não via há muitos anos; era o dia 16 de Abril de 1828. Com ele morria um dos maiores pintores e um dos maiores homens que têm aparecido no mundo; se a influência da sua maneira foi enorme na pintura do século XIX e do século XX, a humanidade conta Goya como um dos espíritos que melhor a guiaram pelo caminho da ener­gia, da tenacidade, do contínuo renascer, dia após dia.”[5]. Aqui, há uma clara continuidade com as Biografias, nas quais, essencialmente, Agostinho exaltou percursos individuais – ainda que, na maior parte dos casos, como então salientámos, em prol da colectividade, do “bem comum”.
No quinto, UMA ASCENSÃO NOS HIMALAIAS, celebra-se, desta vez, não um percurso individual mas colectivo, o de um grupo que tentou subir o Evereste – e que triunfou, ainda que o não tenha conseguido: “Em Darjeeling, donde tinham saído, considerou-se terminada a viagem; não tinham conseguido vencer o Evereste, mas os conhecimentos topográficos e científicos que se tinham recolhido valiam bem o esforço e o dispêndio que se fizeram; de resto, não os tinha movido nenhum desejo de glória pessoal: só os satis­fazia terem cumprido o seu dever de avançar mais um passo sobre o que se sabia e de terem facilitado o trabalho aos que viriam após eles.”[6].
O sexto Caderno, O PENSAMENTO DE EPICURO, é, a esse respeito, destoante. Não exalta propriamente um percurso – de um colectivo ou de um indivíduo –, mas de um pensamento, de uma filosofia: a de Epicuro[7]. Esta é apresentada de forma positiva, de tal modo que Agostinho parece lamentar o seu declínio face ao cristianismo: “Com o aparecimento do cristianismo decai a popularidade de Epicuro; a nova religião não podia deixar de lhe ser hostil; a ideia de deuses que se não interes­sam pelo mundo, a negativa da imortalidade da alma, um ascetismo que se não apresentava como um martí­rio do corpo, eram completamente incompatíveis com as doutrinas cristãs. Só no século XVI se assiste ao renascimento do epicurismo, embora haja notícia de discípulos de Epicuro durante toda a idade média: o interesse pela antiguidade e a reacção contra a vida medieval, no que ela tinha de desprendimento da terra e do culto exclusivista do espírito, fazem que certos escritores voltem ao estudo de Epicuro, timidamente a princípio, depois com mais segurança; há epicurismo em Montaigne, e Vanini, nos princípios do século XVII, é supliciado em virtude das suas ideias epicuristas; mais tarde Gassendi e Hobbes renovam Epicuro, e Spinoza sofre a sua influência, que se prolonga, por intermédio de quase todos os «enciclopedistas» franceses, até Ben­tham e Stuart Mill, já no século XIX.”[8].
Veremos que, quatro anos depois, em CONVERSAÇÃO COM DIOTIMA, a perspectiva já será diferente…

[1] Ver, a esse respeito, as indicações bibliográficas que aparecem em todos os CADERNOS.
[2] A Primeira Volta ao Mundo, Famalicão, Edição do Autor, 1940, pp. 21-22. Sublinhe-se aqui a exaltação do “progresso da ciência” – no caso geográfica. De resto, neste mesmo CADERNO, Agostinho salienta que “ao contrário de muito que se tem dito a respeito da viagem de Magalhães e, dum modo geral, das nave­gações dos portugueses, o capitão não parte à aven­tura; sabe tudo quanto é possível saber-se pela ciência do seu tempo” (p. 6).
[3] Breve História do Linho, Famalicão, Edição do Autor, 1940, p. 26. Veremos que essa “aposta na tecnologia” manter-se-á. E sempre sob esse enfoque: a libertação do homem.
[4] A Vida de Edison, Famalicão, Edição do Autor, 1940, p 18.
[5] A Vida e a Arte de Goya, Famalicão, Edição do Autor, 1940, p. 18.
[6] Uma ascensão nos Himalaias, Famalicão, Edição do Autor, 1940, pp. 20-21. Sublinhe-se aqui o sentido da historicidade – ou a valorização de um passo dado em prol de um avanço futuro, não imediato.
[7] Ainda que este seja também exaltado, desde logo pela sua coerência: “ao contrário do que acon­tece com outros filósofos, sobretudo nos tempos moder­nos, Epicuro não se limita a apregoar a sua doutrina: vive-a também e é um exemplo de todas as qualidades que preconiza; quem ia aos seus jardins ou lia os seus escritos infalivelmente sentia a influência do homem puro e bom, embora muitas vezes lhe não aceitasse facilmente as ideias” (O pensamento de Epicuro, Famalicão, Edição do Autor, 1940, p. 17).
[8] Ibid., pp. 17-18.

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