Embora tenha passado ao lado de quase todos os cidadãos, pelo menos a valer-me do testemunho do milhar e meio que passam pelo meu local de trabalho, a maior e a mais moderna livraria do país encerrou as portas. Refiro-me à Livraria Byblos, que chegou a ser elogiada no estrangeiro pela sua tecnologia de Identificação por Rádio Frequência, única no mundo (não me perguntem o que é, o que me agrada nos livros é precisamente a ausência de tecnologias estranhas: papel, tinta e cola; para quê complicar?).
Mal soube da abertura desta planeei uma visita, a verdade é que fui protelando e acabei por não visitar nenhuma vez as instalações da maior livraria de Portugal, nem lá fui em ocasião da apresentação da revista “Nova Águia” (na qual vou colaborando de quando em vez). Por norma, para contenção de despesas nestes tempos negros, evito passar nos arredores de livrarias já que nunca resisto à tentação de entrar e sair com, pelo menos, um livro.
Muito se podia apontar o dedo aos donos da Livraria Byblos, pessoalmente chocou-me a escolha de localização já que os transportes para as Amoreiras (não há estação de metro, coisa muito importante para a mobilidade do moderno cidadão sedentário) deixam a desejar e o estacionamento ainda menos, é raro o dia em que não ando meia hora às voltas até encontrar estacionamento quando vou trabalhar – se fosse para comprar um livro desistia passados dez minutos. Fora isto há quem lhes aponte o dedo (o Pacheco Pereira, por exemplo) à escassez de títulos originais, sim a coisa era grande mas tinha mais e mais do mesmo, repetido e em grande, pois.
Pessoalmente a maior falha que lhes detecto – aos administradores ou o que é – foi a ousadia que tiveram em abrir uma livraria gigantesca num país em que ninguém lê. Em que estavam a pensar? Teriam maior sorte se tivessem investido na Maior Casa de Frangos Assados do país, mas numa livraria?
Referi anteriormente noutras publicações (na extinta “VoxBlogs Magazine”, pelo menos) que o luso povo tem vindo a sofrer um processo de estupidificação flagrante, para o provar recordei as dezenas de títulos de revistinhas em banda-desenhada que existiam na minha juventude e na minha infância, podem rir se quiserem mas tenho veementemente a certeza que o gosto pela leitura é algo que se desenvolve por hábito e as aventuras do Pato Donald e do Tio Patinhas são certamente muito mais atraentes que começar logo pelos “Lusíadas” ou pela “Mensagem”.
E as revistas mencionadas já eram sinal de decadência, Portugal teve em tempos criação bdófila própria e grande em abundância e qualidade (de momento recordo apenas as revistas “Camões” e “Major Alvega”, mas muitas outras houve).
De quando em vez receio mesmo que o nosso futuro se assemelhe ao do filme “Idiocracy”, uma comédia tão chocante quanto alarmante que aconselho – desconheço se já terá passado no Cineclube da Horta, mas deixo aqui a dica. A comédia, para não vos estragar a história, trata de um mundo futuro, daqui a centenas de anos, em que as populações se foram estupidificando de geração para geração até culminar numa idiocracia… coisa que prefiro não descrever.
Flávio Gonçalves
27 de Fevereiro de 2009
Tribuna das Ilhas
1 comentário:
Também só lá fui uma vez. No lançamento da NOVA ÁGUIA...
Enviar um comentário