Gostei de ler o texto Europa Europas, sendo um assunto que me interessa muito particularmente. Mas do meu ponto de vista, os três pilares indicados por Gheorghe Ceausescu não são suficientes para sustentar a Europa. Falta-lhe um pilar absolutamente fundamental: o Egipto e a sua civilização.
Relembro que o faraó Amenófis IV, mais conhecido como Akhenaton, realizou uma autêntica revolução espiritual ao instituir uma religião monoteísta, facto claramente indicador de que a religião egípcia já continha a semente do monoteísmo. Esse mesmo monarca é tradicionalmente considerado como o fundador da que hoje se conhece como a Ordem da Rosa Cruz, a qual tem desempenhado, através de diversas personalidades e organizações, um papel inequívoco no desenvolvimento da civilização ocidental.
Para além disso, não tenho dúvidas de que a vida de Joseph (filho de Jacob) no Egipto, onde assumiu inclusivamente o cargo de vice-rei, assim como a instalação do povo hebraico naquela terra, tiveram uma influência inegável na própria religião dos judeus.
Por último, Alexandre o Grande foi considerado pela hierarquia sacerdotal egípcia como o sucessor legítimo do trono do faraó, tendo dado assim início à última dinastia, a ptolemaica, toda ela liderada por gregos. Ora, na batalha de Áccio (31 a.C.) decidiu-se o destino do mundo (Oriente ou Ocidente, cultura greco-egípcia ou greco-romana), pois o facho da civilização, então nas mãos dos Egípcios-Gregos ou Gregos-Egípcios (parece-me aqui impossível evitar a noção de "fusão cultural"), passou das mãos de Cleópatra (rainha de sangue grego e chefe da religião egípcia) para as mãos de Octávio, que veio a ser o Imperador César Augusto, Pontífice Máximo. Ora, o Papa, chefe da Igreja Católica (i.e. "universal") Romana, herdou o título espiritual do antigo imperador de Roma, Pontifex Maximus. O império de Alexandre, a monarquia egípcia e o ecumenismo helenístico nela centrado foram a inspiração para império romano.
Parece-me que Hegel e os seus partidários conseguiram fazer-nos esquecer de que no "ser-se grego" está implícito, a partir de um certo momento, "ser-se também egípcio". Ou então a cultura grega acabou quando Alexandre foi reconhecido como filho de Amon-Zeus...
Julgo que uma "consciência europeia plena" só se poderá alguma vez realizar quando os "europeus" compreenderem de uma vez por todas que o "Ocidente" não começa na Grécia mas sim no Mediterrâneo. Pessoalmente, creio que o projecto da "União do Mediterrâneo", proposto por Sarkozy na última presidência europeia da França, poderá ser talvez uma porta para uma nova consciencialização do que significa "ser europeu". Europa é filha de Agenor, rei dos Fenícios, e o Mare Nostrum tem muitas praias...
Só um pequeno pormenor, para terminar, uma vez que também sou classicista e dado que no texto se fala tanto de língua e cultura latina: a pergunta "Quod vadis Europa?" ficaria bem melhor se "quod" fosse substituído por "quo".
Se a Acrópole está para a civilização grega, o Capitólio para a Romana e o Gólgota para a cristã, que símbolo poderá estar para a civilização egípcia?
Estão aqui quatro civilizações. O símbolo da quinta já todos sabemos qual é...
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9 comentários:
Caro João Beato
Antes de mais, grato pelo reparo: na revista, o texto sairá sem a gralha...
Quanto ao mais, pergunto-me se, ao quereres desconstruir a mitificação da Grécia, não estarás a mitificar demasiado o pilar egípcio...
Quanto, por exemplo, dizes que a religião egípcia já continha a semente do monoteísmo: atrevo-me a dizer que todas as religiões, na medida em que se aprofundam, é para aí que tendem...
Voltarei ao assunto...
Abraço
Caro Renato, não pretendo desconstruir a mitificação da Grécia, mas sim alertar para a existência de um pilar muito frequentemente ignorado e que mantém uma estreita e importante relação com os pilares grego, romano e cristão. Um ocidental reconhece com bastante naturalidade que "é grego, romano e cristão". Mas quanto a reconhecer que também "é egípcio" já não me parece tão natural, quando, a meu ver, deveria ser.
Quanto à questão da semente, acho que tens toda a razão. O meu objectivo era sublinhar que durante o reinado de Akhenaton a religião egípcia foi oficialmente monoteísta, outro facto histórico a que não se tem dado, na minha opinião, a devida atenção.
Em relação à gralha, eu também as faço, reparei e aproveitei para corrigir, não o tomem como um preciosismo exagerado...
Abraço
Caro João Beato, comecei a comentar também mas isto ficou muito grande; pareceu-me mais adequado publicar como post, embora não tenha tido tempo de o rever.
Abraço
Tudo tem explicação: http://www.asetka.org/
Caro João, acompanho-te na busca de outros pilares para a Europa, mas porque ficar apenas com o egípcio? E o cretense? E o celta? E o fundo pré-indo-europeu? E o fundo indefinível em que assentam e porventura se afundam todos estes pilares?...
Por outro lado, penso ser impossível pensar a Europa sem pensar o mito do seu Rapto. Vejo a Europa como a que tem por essência ser seduzida, raptada, arrebatada a si... Vejo Portugal como uma das formas mais significativas desse arrebatamento...
Tudo isto tem muito que se lhe diga.
Abraço
É engraçado como o comentário/post que deixei ontem converge com o do Paulo, excepto na nossa apreciação de Europa 'feminina' (do Paulo) ou de 'masculinidade ferida' (a minha).
Caro Paulo, vamos ambos ficar sob o fogo de freudianos irascíveis :)
Posso recordar aqui também a curiosíssima diferença entre 'o mar' português (masculino) e o 'la mar' ou 'la mer' de espanhóis e franceses...
Casimiro, não poderá ser Portugal o divino touro que arrebata Europa a si mesma, não já para o limitado mundo mediterrânico, mas para o oceano atlante e universal?
Seja como for, não creio que os pilares europeus do passado o possam continuar a ser do presente, que é o de uma profunda metamorfose. Vivemos um tempo de imprevisíveis e aceleradas mutações e mal de quem não for Proteu, marítima divindade que se evada de todas as formas onde o presumamos apreender.
Pode sim, Paulo. Aguardemos, pois é?
E ai de quem for o Proteu, porque Tethys-a-ardilosa o mandará calar... (e ter-se-á calado, ou metamorfoseado?... curioso 'fim alternativo' para o Poema, agora que penso nisso)
Caros amigos (e aproveito aqui para responder também ao interessante post de Casimiro de Ceivães), se da leitura do que escrevi se depreende que estou a "mitificar demasiado o pilar egípcio" ou que quero "ficar apenas com o pilar egípcio", então ou não me expressei convenientemente, ou fui mal interpretado, ou ambos.
É natural que numa busca de pilares para a Europa é impossível não cair num processo regressivo até ao "fundo indefinível em que assentam e porventura se afundam todos estes pilares", como disse Paulo Borges. E nunca mais sairíamos daqui... Mas dentro do contexto concreto da proposta de Gheorghe Ceausescu, que me parece claramente mediterrânica, a verdade é que não me sinto especialmente mais egípcio do que grego, romano ou cristão. Muito simplesmente, cada um dos quatro pilares tem o seu lugar na minha busca da identidade europeia e não estou a tentar dizer que o egípcio está acima ou primeiro do que os outros, mas que passou a ocupar, para mim, um lugar que antes não ocupava, ou seja, não o via como um pilar até há algum tempo atrás.
Estando de acordo com a perspectiva de Casimiro de Ceivães, é precisamente na "herança" do mito de Ísis, deusa universal, omnicompreensiva, transnacional, transcultural e transreligiosa, que se encontra esta identidade, em mim despertada por Natália Correia no seu romance "A Madona".
Certamente não ando à procura de um número exacto de pilares, se três, se quatro, se cinco, se dez ou se mil, e o tal "quindo pilar" a que aludi não passa de uma brincadeira simbólica. Na verdade, nem ando à procura dos "pilares do passado" mas de outro tipo de coisas, mais do presente.
A questão da cultura celta é absolutamente fundamental e ainda bem que se referiram a ela. De qualquer das formas, em um "pilar" bem peculiar.
Caro Paulo, também acho, raptar a Europa para o oceano atlante e universal. Sem dúvida alguma, nos tempos que correm, ai de quem não for Proteu.
Ariana Lusitana, prefiro dizer, e digo-o frequentemente, que há uma solução para tudo.
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