
William Penn (1644-1718) foi um dos grandes inspiradores da Constituição dos Estados Unidos da América, pelos princípios que implementou no Estado da Pensilvânia.
Na sua Biografia, Agostinho da Silva salienta sobretudo o seu sentido de missão, dir-se-ia mesmo divina: “ganhara a convicção de que Deus nunca realizava directamente nenhum dos trabalhos do mundo; fazia-o sempre por intermédio de homens, escolhendo cada um para a tarefa que lhe competia, mas sem uma cega escravização que fizesse do homem um simples instrumento das intenções divinas; era como se Deus, ao mesmo tempo no que é liberdade plena e no que é actividade dirigida a um fim, estivesse no íntimo de cada alma e lhe pusesse um objectivo e lhe fornecesse as circunstâncias, mas sem a obrigar a nenhum curso inevitável; quem quisesse podia recusar a tarefa e Deus escolheria outro homem para a realizar; mas Deus então podia enganar-se e escolher mal o executor da sua vontade? Tudo era bem difícil e bem confuso; só uma coisa havia de seguro: o mundo não marcha ao acaso, há um plano no universo; o plano, realizam-no os homens, ponto por ponto, avançando sempre, no meio de todos os desânimos; e parecia-lhe ainda que a força invencível da vontade humana totalmente aplicada a um objectivo não podia vir de modo algum do próprio homem; além de tudo, como se explicaria o acordo das vontades individuais? Quem sabe se, ao contrário do que se ensinava nas igrejas, Deus não está dentro de nós e não deve ser todo o nosso trabalho preparatório de qualquer tarefa, o de chegar ao encontro desse Deus, o de sentir na nossa consciência, em toda a sua pureza, os mandamentos do Senhor? Com esta ideia, nenhuma igreja era precisa, porque deixaria de haver intermediários entre Deus e o homem; ou antes, só poderia haver uma igreja que fosse a congregação dos homens que pensavam do mesmo modo, num plano de absoluta igualdade, e se juntassem para se comunicarem as suas experiências, para sentirem a força comum e trabalharem segundo um plano que a todos tivesse parecido ser o melhor.”.Para a concretização dessa “missão”, todos poderiam dar o seu contributo, mesmo os mais “simples”: “tudo o Senhor ia utilizar, quando chegasse a ocasião própria, na tarefa que nenhum outro homem poderia realizar tão bem como ele. Certamente que os mais simples tinham menos conflitos e que as tendências contraditórias despedaçam a alma enquanto, pela consciência da missão, se não vêm como de acordo e como indispensáveis para o trabalho que há a realizar; mas podia chegar a ser o mais simples de todos os simples quando viesse o dia da plena tarefa, porque então até se esqueceria da sua existência e seria no mundo uma inteira revelação de Deus, tal como o compreendia agora: um nada, uma existência indefinida, mas ao mesmo tempo uma possibilidade de tudo; aquilo a que chamava agora as suas qualidades e os seus defeitos, trabalharia no mundo pela obra de Deus e seriam apenas como que ferramentas nas mãos do melhor dos operários; ele era um instrumento de desígnios superiores e fora formado exactamente como era preciso que fosse; a batalha consigo só estava atrasando o momento essencial para que todo o mundo pudesse avançar um pouco mais.”. Foi, sobretudo, com esse sentido de “missão” que William Penn fundou o Estado da Pensilvânia (ex-colónia inglesa), o mesmo sentido de “missão” que, na sua perspectiva, se deveria estender a toda a América: “competia à América ir mais além, dar a verdadeira fórmula de uma cultura europeia; tudo o que pudesse fazer agora incitando ao aparecimento de emigrantes só poderia auxiliar o futuro, ajudar na construção de uma América livre e forte, que por sua vez se unisse ao resto do mundo e trabalhasse por estabelecer, para todos os homens, uma vida de amor, de inteligência e de perpétua paz”.
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