Segundo afirmou o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, o Acordo Ortográfico vai entrar em vigor em Portugal ainda durante o primeiro semestre de 2009.
Com esta entrada em vigor, que deverá traduzir-se numa primeira fase pela edição do Diário da Republica segundo as novas normas de ortografia, Portugal começa finalmente a honrar os seus compromissos assumidos no acordo assinado em 1990 e o Acordo, que consideramos ser uma importante ferramenta para aproximar a ortografia e logo a expressão cultural nos diversos países da Lusofonia, entra na primeira fase da sua aplicação. Odiado por muitos, desprezado por quase todos, o Acordo Ortográfico promete ser polémico e impopular pelo menos enquanto as primeiras gerações que saírem das Escolas não tomarem como naturais as suas disposições. Como Teixeira de Pascoaes, muitos intelectuais portugueses não o irão adoptar e no Brasil e em Angola também não faltam opositores aos seus termos… Não sendo um instrumento perfeito, é aquele de que agora dispomos para unificar (esquecendo por agora as duplas grafias) a escrita da língua portuguesa, travar possíveis divergências da língua e da sua forma escrita e manter a conformidade teórica entre o português do Brasil, que pela sua força económica e demográfica poderia sentir-se tentado a divergir num rumo isolado, atraindo os países afrolusófonos e deixando Portugal isolado neste canto extremo ocidental da Europa. O Acordo é a forma que Portugal pode participar no processo de ortografia da língua portuguesa, a partir de dentro e não de fora, como sucedeu em 1911 quando unilateralmente decidiu abandonar a norma ortográfica única que até então existia com o Brasil. Honrar os compromissos internacionais assinados pelo governo em 1990 é a única maneira de reparar esse acto isolado e autista de 1911 e assentar uma pedra essencial no caminho do aprofundamento da CPLP até à União Lusófona que é um dos pontos essenciais da declaração de princípios e objetivos do MIL.
Fonte:
Jornal SOL
Petição: "Por uma
mais rápida
implementação do Acordo Ortográfico"
5 comentários:
Salvo erro (alguém poderá esclarecer?) não havia propriamente uma 'norma ortográfica' até 1911 (até à República), a não ser como um hábito de escrita imposto pelas classes superiores - mais ou menos como agora acontece com a pronúncia e a ideia de que é 'errado' falar à moda do Porto ou à moda de Lamego e 'correcto' falar à moda de Lisboa.
Longa vida à ortografia única. E às outras coisas todas únicas.
"Com a implantação da república em Portugal (5 de Outubro de 1910) foi nomeada uma comissão — constituída por Aniceto dos Reis Gonçalves Viana, Carolina Michaëlis, Cândido de Figueiredo, Adolfo Coelho, Leite de Vasconcelos, Gonçalves Guimarães, Ribeiro de Vasconcelos, Júlio Gonçalves Moreira, José Joaquim Nunes, Borges Grainha e Augusto Epifânio da Silva Dias (que pediu escusa) — para estabelecer uma ortografia simplificada a usar nas publicações oficiais e no ensino, que foi oficializada por portaria de 1 de Setembro de 1911.
Esta reforma da ortografia — a primeira oficial em Portugal — foi profunda e modificou completamente o aspecto da língua escrita, aproximando-o muito do actual, fazendo desaparecer muitas consoantes dobradas, os grupos ph, th, rh, etc. Ela representa um retorno, parcial, à ortografia fonética da Idade Média, de que se diferencia, no entanto, pela uniformidade com que é aplicada.
A adopção desta nova ortografia não se fez sem resistências em Portugal, mas a maior polémica em seu torno estalou no Brasil. Apesar de já existir há longo tempo no Brasil uma forte corrente foneticista, que se batia pela simplificação ortográfica, o não envolvimento brasileiro na reforma portuguesa teve o efeito contrário de reforçar as correntes tradicionalistas, ficando os dois países com ortografias completamente diferentes: Portugal com uma ortografia reformada, o Brasil com a velha ortografia pseudo-etimológica."
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ortografia_da_l%C3%ADngua_portuguesa#De_1911_at.C3.A9_aos_nossos_dias:_reformas_ortogr.C3.A1ficas
Correto, Casimiro. É exatamente como dizes. Antes de 1911 reinava a confusão, nesse aspecto, ainda bem que se regrou aqui que estava desregrado, pena foi, que esse fosse um ato unilateral, virando as costas ao Brasil... Um pecadinho que o Acordo de 1990, vem agora (tardiamente) remediar...
Caro Clavis:
Obrigado pela informação.
A mim vai-me custar, como há muitos anos me custou abandonar o teclado HCESAR nas máquinas de escrever :) (não sei se alguém aqui ainda se lembra). Depois, a gente habitua-se sem dar por ela.
A minha reserva não tem que ver com a ortografia propriamente, mas com o método de uniformizar as coisas todas por via de lei. Por exemplo, julgo que na Inglaterra (Reino Unido) nunca a língua foi 'legalmente' imposta. Em França já deve ter sido (suspeito), porque o velho Napoleão fez tudo o que pôde para tornar a língua de Paris uniforme. Cá em Portugal como lá em França, durante o tempo colonial, crianças de todo o mundo recitavam os 'nossos antepassados' lusitanos ou gauleses :)
Mas, actualmente, as duas grafias (portuguesa e brasileira) eram um disparate. Conformemo-nos e vamos em frente.
PS. O único tipo de excepções à minha reserva à interferência da lei nessas 'uniformizações' é em questões como a de saber se os automóveis andam pela esquerda ou pela direita. Aí, rapidamente os Estados todos impuseram uma regra. Mas é evidente a diferença, e o tipo de razões que estão em causa.
E lembrei-me agora da célebre lei de Salazar a proibir andar descalço na rua. Será de aplaudir?
Cordiais cumprimentos.
Nada melhor do que os factos para arrefecer os delírios.
«Adaptação de cada manual escolar ao novo Acordo Ortográfico poderá custar entre quatro e cinco mil euros»
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1366931&idCanal=58
E ainda...
http://dn.sapo.pt/2009/02/25/opiniao/quartafeira_cinzas.html
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