A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Saudade Barroca

SAUDADE BARROCA

Distanciei-me tanto de mim em busca da perfeição e do mérito! Porém, um dia, ao voltar para casa, encontrando-me casualmente na esquina da rua onde morava e costumava virar á esquerda, resolvi seguir em frente; e ao andar aproximados dez metros, dobrando à direita, chegava inesperadamente ao coração do povoado.

E aí, me lembrei, ao encontrar a refrescante fonte, jorrando tão cristalina água, que há muito tempo não via nem escutava o seu melodioso cantar.

E até levei um grande susto, ao ver estar assim, tão envelhecido, por não ter olhado para mim. Tão esquecido andava, que nem reparei na vidraça da casa que fazia esquina, com o largo da fonte, e agora me servia de espelho.

Descobri, naquele momento, que o tempo passa muito mais depressa do que a gente imagina! E não espera os nossos cabelos eternamente castanhos e sedosos, sem um fio branco, sequer; nem a pele lisa sem rugas conserva pelo tempo que nos aprouver.

E então prometi para mim mesmo, que na próxima vez em que me encontrasse, caso precisasse novamente afastar-me de mim, buscando qualquer artifício, iria preparar o espírito a fim de não levar nenhum susto.

Se bem que a ilusão já sofrera forte abalo, naquela única vez em que me encontrei de surpresa, após o longo período em que andei afastado do centro de minha digna e original moradia!

E a partir de então tomei algumas providências, e até podem parecer supersticiosas, mas adotei o hábito de sair e retornar para casa sempre por lados opostos, aos anteriores.

E é tal que hoje chegando à fonte, por onde inevitavelmente terei agora de passar, em vez de seguir em frente e dobrar à esquerda subindo uns dez metros para chegar a casa, sigo por uma ruela, andando por ela uns trinta metros.

E aí dobro à direita descendo uns vinte, chegando finalmente em casa, que agora fica à esquerda dos meus sentimentos, mas à direita do meu pensamento.

Adotei também o hábito de olhar com mais freqüência pra velha vidraça que serve de espelho, verificando como anda a alma, nestes dias de grandes atribulações.

A menina dos olhos, como se a costuma chamar, volta e meia pisca para mim e eu meio sem jeito desvio timidamente o olhar dela, por não compreender a mensagem que ela insiste em passar-me.

Mas não é isto o que mais preocupação tem-me causado, nos últimos tempos, senão uns fluidos lacrimais que involuntariamente descem pela face esquerda; e eu interpreto, pelo fato de ser pela esquerda, como um sinal de que as coisas externas do coração andam meio conturbadas...

Ainda muitas campanhas da sociedade se fazem necessárias para aplacar a fome de crianças pobres, num país absolutamente rico!...

Quando então descem esses mesmos líquidos lacrimais pela face direita, e aí, também pelo fato de ser à direita, eu não tenho dúvida de que um pedido de socorro clama dos côncavos vales, onde estão erguidas e ilhadas de saber as escolas, que juntamente com alguns professores, alguns bons professores gritam por socorro.

Mas a escola sucumbe mesmo à margem esquerda da estrada, por onde outrora felizes - embora às vezes até alguns descalços - caminhavam alunos pela manhã fresca, de encontro à bafejada aula, que ensinava a ler, a escrever e fazer contas, num primeiro momento, na infância inocente e feliz.

E num segundo álgebra, educação moral e cívica, boa gramática e correlações do gênero humano, científico e não ideológico...

E até a alma de uma povoação de alunos bem arejada e feliz cantava o hino nacional, e empunhando a bandeira da Pátria galgava as arcadas de uma escola tradicional, simples e antiga...

Sim, aquela escola sem medo ou receio do que ensinava, sente hoje vergonha, talvez porque o esquecera. Mas ainda alguns poucos e bons professores choram, descendo as suas lágrimas ora por minha face direita, ora por minha face esquerda, com o clamor da infanta fome de pão e de escola.

Bem que o povo experimentou um pobre e sem escola para promover riqueza e educação, mas também não deu certo; nem poderia que a casa onde nasceu não lhe ofereceu luz, exemplos, meios nem parâmetros éticos nem morais...

Nasceu, abriu os olhos passou fome e fugiu... E aí, onde há fome, quem se importa com ética? E assim da expansão de garoto esperto e “aético” ao maioral, maioral mesmo, não mudou nada nem tem...

As mesmas coisas que faltam nos governos das corruptelas dos pequenos, médios e grandes municípios, bem como na mesma ordem nos estados e demais células, de uma riquíssima de bens materiais e de espírito empobrecida nação, devido aos vermes, devido às desmoralizações.

Mas como a maioria de seus legisladores e executivos também sem escola não possua brio nem vontade para distribuir do que se apropriam - e que nunca lhe pertencera - é que rolam as lágrimas de infortúnio, por uma fortuna imensurável, moída...

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