A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 9 de novembro de 2008

Móbiles em Chamas


Para Ricardo Mansur: um corpo irreal inferido pela realidade objetiva.

I

Oh! Fina flor de sexo amamãezado!
O que sangra dos corpos continentais
covardemente justapostos
— ali onde a fúria da genitália solúvel se deixa entornar,
ali onde a saliência de Vênus se deixa penetrar —,
remete o meu tênue canto à inexatidão das órbitas.
Teus auto-falantes de carne anêmica
dizem tudo para quem nem mesmo
sabe de quê se valha.

Brumas enlutadas regurgitam,
levedadas em cheiros-verdes de miragens;
me impõe o espanto dos milhares de soldados
loucoassustados dos fronts mui-globalizados
e esconde e esconde da gélida rendição
seus trôpegos velórios de colisão
e rebeldia – ri do clitóris da garganta.

Indo embora
me lamento a hora. Minha seiva expele
fogo e gemidos... Aprende, a cada suspirar,
que barro e sapato em caligrafia esculpida aos pés
da consciência alimentam a parábola da candura
onde levantes procriam
como móbiles em chamas.

II

Para vós,
que sois a gérbera circunspecta,
vos oferto a exuberância dos testículos encabulados.
Faço-vos isso, porque usais as vestes do instante
que não seduz
e abençoais a crua realidade sadofixada hoje
no bíceps da cidade: porque chocas o meu soluçar,
e desprezas o óvulo da friagem – renegas o poema
à mercê de sua própria loucura
- e amareleces até que ovário da flor seja a um só sopro:
perfume incipiente
e mormaço atroz.

Delirando, aprendo, a cada soslaio,
que o nu da beleza freqüenta a sacristia do verbo,
toma jeito de Deus, incita o orvalho à bebida;
entorna cadinho de glória,
de modo que o seu orgasmo elimine a gordura
das manhas e manhãs dos tempos
oprimidos... Ao menos excite o eterno sussurro
das mãos.

III

Altares em prantos
descansam em mim e os seus ardumes de vidro
cerceiam o perigo.
(A pureza do corte já não é essencial)
Exceto o que ouço grunhir nas favelas,
minuto a minuto, dou ouvido às esquinas:
Decerto se uma certa cerração
escondesse (do segredo) o cobertor e o frio,
talvez um quase-poema (âmago da partida)
corresse meia volta sobre a esfera.

Então os flancos das bocas ocas
jazeriam na tez da saliva
esteticamente encarcerados qual uma tortura de prisioneiro:
- Perímetro nenhum receptaria os beijos que me traem...
- Pluma nenhuma me vestiria de cata-vento
e infinitamente pousaria no óvulo de festim.

Então o barro e o sapato se transformariam em espadas,
em excrementos de dois velhos verdugos
e poriam fim a tudo:
- Como se o ato da mana morte
purificasse os seus mortos redivivos...
- Como se as tumbas velassem fomes não identificadas
e de joelhos, silenciosamente,
guerreassem para alimentar, eternamente,
os seu lutos misteriosos.

IV

Oh! Não, não.
É de assustar amar o medo
e as frias eloqüências dos torpes amplexos.
Desfolhar as laudas belemitas das mangueiras multifacetadas,
é antes (de tudo) masturbação e glamour: acinte da ventania,
pavor e aderência de quem se gala!

De viés, fotografo musculosos olhares
e encho os ouvidos de lubricidade.
Um poema atira-me à luz!
Vivo o sintoma do meu tempo,
e mais que um extraterreno fora do ar,
envelheço ungido e desvivido!

Ai! Comparo-me a um corcel metafísico,
ejaculação de palavras
mediunicamente embevecida qual um mamar
e babar de seios...
Ai! Renovo-me em candeeiros de coitos sem gritos
– que, de armas em punhos,
sarcasticamente sorriem com desdém da aurora
que me mortifixa.

© Benny Franklin

Foto: Daniel Kongos

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