A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Museu da Língua Portuguesa: Pífio "Padrão Global"





Crítica


Museu da Língua Portuguesa: Pífio Padrão Global

Não acredito em arte Que não seja libertação
Manuel Bandeira

Como todo cidadão comum, tomei um ônibus na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, linha Estação da Luz, e lá fui, com a musa-vítima açodada pela propaganda, ver o tal Museu da Língua Portuguesa na Praça da Luz, centro velho roto e abandonado de São Paulo. Expectativa enorme, claro, muito mais para um poeta que estuda a língua-mátria, como diz o Caetano Veloso. Fui na onda midiática do momento. Fui interessado lá – comprovante número 5202 de 29/04/06 - ver o tal Museu da Língua Portuguesa, torcendo para vibrar com o sucesso aventado, crendo que iria adorar. Pobre e ledo engano. Infelizmente.
Desci no lado da Cásper Líbero (ponto final da linha do péssimo serviço de transporte coletivo urbano piorado demais pela má ex-gestão Serra) e, SURPRESA!. Desci e fiquei sem saber pra que lado era o tal lado do tal não apresentável estético Museu. Nenhuma placa, nenhum sinal, nenhum aviso, nada de nada. Incompetência estrutural, inclusive para incautos Turistas desavisados. Entrei na Estação perdidinho. Gente de monte, sujeira, correria, uma loucura – a pobre gente brasileira e a nefasta propaganda enganosa tucana – e nada de placa, sinal, aviso, gerenciamento. Quase atropelado fui em busca de uma só possível autoridade vigiadora ou informante local. Lá pelas tantas, um guardinha muito mal humorado, cara de azedo deu a dica com um humor risível irônico:
- A filona é ali, sapecou ele, rindo do trouxa perguntador e curioso de uma figa. Sim, interessados em cultura, ao lado, sentido da Praça da Luz, num local lotado de camelôs verdadeiramente achacando eventuais clientes-patos, a fila enorme e vergonhosa. De dar dó. Ao lado carros mal-estacionados, ônibus de excursões sem estrutura, montoeira de vendedores de tudo quanto é bugiganga.
Nenhum fiscal, policial, sequer os da indústria de multa. Descaso público total. Crianças, jovens, idosos, estatutos ético-humanistas à parte, foram na fiuza da propaganda enganosa e ali estavam perdidos e entregues aos desmandos generalizados, mais o preços-roubos dos vendedores mal-encarados em contrabandos informais ou no neoescravismo das terceirizações invadindo cafundós, filas, ermos e sombras. E os direitos humanos dos fileiros interessados em cultura? Vão sacando.
Quase uma hora na fila da incompetência estrutural. Sol de rachar mamona, calor doentio, perdição de tudo quanto é tipo, poluição humana dos piores elementos mercadores possíveis, mau cheiro de fedô e chega gente perdida, sai gente frustrada, quando, a bem da verdade, nem poderia em tão pouco tempo e pouco espaço organizacional ter ônibus do interior em tamanha bagunça técnico-administrativa. Deveria ser proibido. Era pegar ou largar. Desordem e reclamos. Chegando ao lugar do filtro com catraca, fila mal arrumada pra pegar um bendito tíquete, quando uma moça nervosinha da silva e amadora para o contexto também pouco funcional, queria tirar-me a bolsa de mão na marra, como se fosse mochila. Tive que, cidadão-contribuinte peitá-la sob o vezo ético. Degradante. Constrangedor. Não sabia a diferença entre uma coisa ou outra. Cabide de empregos desproposital? Aliás, não podia nada quando tudo é cultural e educação faz gosto. Ver pra crer.
Aí era esperar o elevador-dinossauro. Sem ascensorista, um guardinha que ia e vinha, coitado, entre atropelos, avisou depressinha e sufocado pela mixórdia generalizada que era para irmos direto e reto pro primeiro andar que o segundo e terceiro estavam lotados. Acredite se quiser, mas o bicho velho subiu diretinho rangendo o peso morto exatamente para o terceiro andar e ninguém apertou nada. Inaugurar obras de supetão para mostrar que é o que não é, é ridículo. Os desgovernos tucanos nunca fizeram nada pela cultura, nem pela educação, porque aquela obra populista e eleitoreira então?
Mas ali estávamos e fomos ver o desboque. Uma ou outra coisa trivial e comum que prestasse, ainda assim mal-e-mal visto de passagem. O inédito e supostamente novo, nem é tão novo, pioneiro, inédito ou de vanguarda assim. Confusões de sons e letramentos como macadames. Gírias imperfeitamente incorretas e politicamente obtusas. Os poemas pintados num corredor demasiado estreito até que ficarem bem, apesar das escolhas poéticas bem suspeitas e também até umas letras de mpb bem jecas totais. Pior: o padrão global tornou pífia a minha expectativa. Já pensou? Tevês e tevês. Nada de novo no óbvio. Pouca tecnologia de ponta que causasse interesse, nem ninguém para ordenar interesses de usuários curiosos. Poemas nos tijolos entre lixões. Coisa bobinha de dar dó. Não acrescentou nada a nada. Plínio Marcos iria morrer de ir.
Pobre Sampa. O tal olho mágico que mostrava o diferente no longe foi razoável, mas, acreditem, algo pueril no lúdico de percurso entre tarecos. O espelho de se ver o texto ao contrário na água foi uma boa idéia pingada ali no contexto todo. Criações em saquinhos pendurados no ar. Não acrescentou interesse aproveitável que fosse. Telas-panos corrigidas do Guimarães Rosa. Por que não as consertadas, páginas especiais, com mais historiação sobre um dos maiores autores brasileiro? Para não dizer que faltou Machado de Assis e grandes poetas em exposições por atacado. Esperava mais. Mas não mais do mesmo. Ninguém para ciceronar. Sons e imagens numa mistura ruim para o ler/ver (pensar/sentir) literatura, palavras, sons. Um achado fraco e o pessoal que criou o tal museu não foi fundo, com suspeitíssimos nomes (artes?...) ali de quem chegou indagora, talvez, num crescendo nem chegará perto do Machado e Guimarães, mas já estava inserido ali de alguma maneira suspeita, e assim também esteve bolando o projeto em que se incluiu. Difícil acreditar, não é?
Tráfico de influência ou intermediação de foro íntimo e interesse próprio, midiático-editorial, via padrão global por isso mesmo no geral rastaquara, bobinho na resultante final, nota seis, se tanto. O espaço até exíguo, assim mesmo exigia mais capricho, coragem limpa, lúcida, criativa. Criação fora de série não faz mal a ninguém. Museu que já nasceu velho. Da Língua indizível que ali foi prostituída de alguma forma. Portuguesa mas nem tanto. Um museu de blefes, chinfrim mesmo. Oswald de Andrade e Mário de Andrade, da semana da Arte Moderna (1922) teriam vergonha. Faltou palavras. É um Museu a la Faustão: grande e vazio, esteticamente sofrível e vernacularmente arigó. Na mídia, mas, só tamanho não é documento artístico-cultural-humanista, nem cult.
Por que a UBE-União Brasileira de Escritores não peitou o açodado projeto, se tem mais cabedal histórico, acervo e lastro?. Eu não gostei. Senti uma frustração geral entre pessoas da classe A e B, com a C e D acreditando mais na propaganda do que na arte e na cultura e na língua propriamente dita. Aconselho os amigos interessados em qualidade cultural, a visitarem a maravilhosa Pinacoteca. O tal Museu da Língua Portuguesa, perto da Pinacoteca é um beco de nadas e ninguéns, um cortiço de toleimas pseudocriativas imprestáveis na geléia geral, grosso modo, um gueto de modernosos que, depois que deixar de ser moda nodal, entrando uma gestão cultural séria, visionária – ai de ti paulicéia desvairada - vai demolir tudo e mandar recomeçar do zero, pois, afinal, depois que vi o ralo e raso e, portanto, claro, não vi algo de nada, fiquei com a impressão que fui logrado por algum motivo, de alguma maneira. Grátis é caro. Entrar na fila quilométrica para ver um amontoado de imagens e palavras que não colam, tudo aquilo com a cara do Fantástico pareceu-me um ledo engodo. Faltou luz criativa ali em frente a Estação da Luz. Será que tem gente que não enxerga no claro?
Em ano de Copa do Mundo, de brasileiro no espaço e de eleições, parece discurso ímprobo jogado fora (como erário é espaço público inaproveitado – e falsa cultura literária também jogada fora), cabeças vazias pensando que são o que não são, jogo de cena para ganhar espaço na mídia com arte que não pára em pé. Bola fora mesmo. Pariram um elefante branco lítero-cultural.
O lixo não pode ser pseudopop com erário público.
E ainda ouvi dizer (ou ouvi sentir, ouvi soar em ouvidos de mercadores) que a sagrada Maria Bethânia podia ser captada na balbúrdia da feira declamando Fernando Pessoa. Será o impossível?
Quem gostou é mal formado.



Poeta Silas Correa Leite, Crítico Social, Jornalista Comunitário. Pós-graduado em Literatura na Comunicação (ECA) em Direitos Humanos e Democracia (USP). Autor de "Porta-Lapsos, Poemas" (2005) e do e-book O Rinoceronte de Clarice. E-mail: poesilas@terra.com.br

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