A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Intervalo de Almoço (por Fabrício Fortes)

Cru. Um bocado cru este bife hoje. Os ovos também não estão muito do meu agrado. As gemas moles. Odeio gema mole. Laura, a garçonete, com o mesmo rosto inexpressivo de sempre (exceto por uma ou outra ruga, dessas que aparecem de um dia para o outro), serviu-me usando o mesmo avental de sempre. Há uma mancha amarelada na altura da cintura que venho notando há dias. Ela nunca troca o maldito avental. Peço que me sirva mais um pouco de suco. Está aguado, mas isso já não é nenhuma novidade. Os funcionários do comércio devorando seus pratos feitos, anedotas e gargalhadas para o telejornal. Hoje não vou comer as batatas; parecem mornas e tristes. Na verdade toda a comida já está um pouco fria agora. O bife cru. Cru, e agora frio. Algumas moscas sobrevoando o balcão. Mastigo com certo nojo uns grãos de arroz frios, embebidos no vinagre da salada. Feijão frio. Fico manipulando por alguns instantes um guardanapo de papel e peço a Laura que me arranje uma caneta. Ela costuma atender aos clientes sem falar uma só palavra, deixando-os, por um momento, sem saber se terão ou não seu pedido atendido ou mesmo se ela os ouviu. Ela me traz a caneta. Nem mesmo um olhar. Fico, como de costume, pensando no que escrever. Não pode ser nada óbvio ou trivial. Sem auto-piedade também; não suporto essas coisas. Precisa ser simples e bonito, só isso. Sempre fui bom com frases. Distraio-me rabiscando no guardanapo. O mesmo ponto de interrogação caricato de sempre. Acho que desenho isso desde os meus treze anos. Desisto de escrever. Sinto minha cabeça cansada quando me faltam as palavras. Pago a conta e saio. Preciso enfrentar as duas quadras que me separam de meu apartamento. Muito coloridas as ruas à uma da tarde. Procuro as chaves nos bolsos ainda na subida das escadas. Terceiro andar. Entro. Esquecera ligado o som. Deixo meu casaco sobre a guarda de uma cadeira e, como de hábito, dirijo-me ao meu quarto. Luzes acesas. Havia deixado também as luzes acesas. Sento-me na cama e abro a solitária gaveta do criado mudo, ao lado, retirando o trinta e oito que, como todos os dias, está lá. Verifico o tambor. Uma bala apenas, como sempre. Giro com força, fecho e coloco o cano, rotineiramente, dentro de minha boca. Presto atenção, por mais um possível último instante, nas coisas que me cercam. Os móveis levemente empoeirados, as paredes pálidas, o som, que se debate por todo o espaço disponível. Aperto o gatilho. Mais uma vez, não dispara. Coloco o revólver novamente na gaveta e fecho-a. Tenho compromissos à tarde.


[fabricio.fortes@hotmail.com]

1 comentário:

Quasímodo disse...

Maravilha, Fabrício. Fantástico.
Parabéns.