A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 26 de outubro de 2008

Dos Arquétipos do Ideal Português às Instâncias da Realização de Si - IV

Demanda

Andar em demanda é viver ferido e movido da fome e sede de todo o ex-istir. Fome e sede de ser e de supra-ser, fome e sede de todo o possível e do impossível que nele há, saudade funda de ser e sentir tudo de todas as maneiras e de a isso mesmo superar, sem deixar nada de fora da plenitude de o não haver, de não haver dentro nem fora. Demandar é não se saciar com menos que o Infinito que se é na Encoberta Origem-Oriente de si e de tudo. Por isso a demanda é questa: pôr radicalmente em questão todas as falsas seguranças, prazeres e riquezas da ex-istência, todas as ilusões de serem ou poderem ser jardins de delícias as duras e sempre efémeras terras de exílio, todas as ficções de serem pátrias e lugares naturais de habitação e convívio os modos quotidianos de ser, sentir e pensar.
Demandar é partir. Demandar-se na Origem é exilar-se do exílio dos hábitos mentais e emocionais, dos hábitos sociais, culturais e civilizacionais, dos hábitos. É expatriar-se, desancorar-se, dessedentarizar-se. Passar pela escura noite do abandono de todas as referências, apoios e portos de abrigo, ser deserto e oceano e neles peregrinar ao Deus dará da libertação de todos os rumos. Abrir mão de todas as opiniões, crenças e doutrinas. Deixar cair tudo, reconhecer que nunca se esteve, nunca se está e nunca se estará senão nu, irremediavelmente nu. Por mais ficções que se inventem, por mais ademanes de boa consciência, por mais camadas de artifícios e maquilhagens em que ilusoriamente nos escondamos. Todas são transparentes. E a nossa nudez também. Tão transparente e luminosa que nos revela o Rei e o mundo que somos a descoberto. O rei vai sempre nu. É essa a sua implacável majestade, que onde irrompe dissipa todo o medo, disfarce e hipocrisia. O fazer de conta que se é o que nunca se foi e jamais se pode ser. Um ser existencialmente correcto num mundo de convenções. Num mundo de legalidades à margem da única Lei da Origem, a Liberdade-Plenitude de nada-tudo ser. Isso que se é, sem dever nem direito: não parte, mas todo; não fatia, mas bolo; não finito, mas Infinito.
Demandar é partir. Do próximo para o distante, do conhecido para o desconhecido, do que nos presumimos para o que somos sem presunção de o aprisionar no conceito sequer de ser. Desorbitar-se do que se pensa ser para o que se devém sem pensar. Largar amarras do repouso no ser sediado, sitiado e sedentário para a odisseia do vagar disponível pela infinita abertura dos possíveis. Desenquistar-se do crer-se um e um eu para o desfraldar-se metamorfose e Viagem na vertiginosa sucessão de todas as paisagens.

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