A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Dos Arquétipos do Ideal Português às Instâncias da Realização de Si - II

Oriente

Manência, procedência e abertura, a ex-istência é saudade da Origem sempre instante. A Origem simbolizada no Oriente, crepuscular alvorecer de um puro advir no seio do nada ou do primo e irredutível indiferenciado, alheio a qualquer entificação, divina, humana ou outra. Oriente não geográfico, sempiterno, sem Oriente nem Ocidente, ou seja, sem nascimento, duração, declínio e morte. Sol sempiternamente nascente e poente. Treva a iluminar-se, luz a entenebrecer-se. Caosmos.
Símbolo da matriz de todo o possível, da virtualidade inesgotável e infinita, onde toda e cada coisa é um poder ser tudo, o Oriente orienta, polariza e magnetiza a saudade de todo o ex-istente. Pois tudo o que aparenta tornar-se alguma coisa, tudo o que se de-termina e limita, aspira a transgredir-se devindo tudo o que pressente jamais ter deixado de ser. Mas só se pode devir tudo reconhecendo-se nada. Não o nada como não ser, mas enquanto “nulla res nata”, origem latina do “nada” português e castelhano: não manifestação onde nada se reifica e tudo é possível, sempre e a cada instante. Só o grau zero do ser é plenipotente matriz de todas as possibilidades, que nela são acto, antes de qualquer actualização parcial. Só o vazio é absolutamente pleno. Por isso a Origem, sem que em si o seja, se converte num fim e numa orientação, um fascínio que move ao seu reencontro tudo quanto dela se extravia, ou seja, tudo o que nela é e a é ignorando-o e ignorando-se pela identificação ilusória com o ser isto ou aquilo que o esquece e vela como o nada que é tudo. A Origem reorienta tudo o que a encobre encobrindo-se. Tornando-a e tornando-se Encoberto.

4 comentários:

Casimiro Ceivães disse...

Paulo:

"Mas só se pode devir tudo reconhecendo-se nada".

Esta frase é ponto central no seu texto: julgo que a partir dela alguns leitores reconhecerão o apoio para o salto da grande conclusão final, mas outros a verão como a afirmação do que ficou por demonstrar; aqui, e a partir daqui, muitas das nossas in-concordâncias (já lhe estou a apanhar o jeito)

Ora, isto lembrou-me aspectos fundamentais da mística cristã: o cristão pode sentir-se "um nada" diante da majestade divina, ou pelo menos um "minúsculo absoluto", se assim podemos dizer - depois, virá ou não aquele misterioso processo que levou S. Paulo a dizer: "já não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim".

Pergunto-lhe (por ser o autor do texto mas principalmente por não ser interiormente cristão, conhecendo embora esse caminho) se acha que este "nada" é usado, em ambos os casos no mesmo sentido ou em sentidos diversos. Quanto mais o leio, mais fico na dúvida.

Note que não pergunto se considera incompleto ou insuficiente ou qualquer coisa parecido o caminho cristão; só me interessa saber se, vendo-o de fora como o vê, entende que os cristãos que referem esse "nada" falam de uma outra coisa (que deveremos aqui talvez nomear por uma outra palavra). E não inclua aqui o Eckart, ou não reduza tudo a ele, se não tudo fica complexo demais :)

Agora deixe-me fazer a habitual amistosa provocação:

Adivinho que os próximos vocábulos se vão reconduzir a esse Nada ante-porta do Tudo ("só o vazio é completamente pleno"). Como eu lhe disse já há muito tempo, e não me tinha ainda apercebido de tudo o que está em causa, há realmente um Nada centrípeto :)

Tudo isto é o absoluto reino do misticismo, e desse ponto de vista calo-me e assim digo tudo. Não é em nome das crenças ocidentais num Deus que quis a Criação, e portanto um algo que não apenas um nada, que insisto nesta conversa. É apenas porque, se ela tem cabimento aqui, é porque esse caminho pode (deve? tem de?) ser um caminho colectivo ("arquétipo do ideal português") especial para nós portugueses.

(A Igreja Católica reconhecerá que a cada belga, e a cada irlandês, está aberto o caminho para a re-unificação com Cristo: mas precisamente não faz, ou se faz não o devia, o salto para o "cada Nação é um Menino Jesus")

Assim sendo, a alternativa mais simples (no sentido de Ockam) é ver esta proposta de caminho como uma pura manifestação daquilo a que, sempre no maldito Ocidente (mas no mais encoberto do Ocidente), é a famosa Revolta dos Titãs, ou a razão da Queda da Atlântida: o querer, pela força, restaurar a Idade do Ouro.

O que aliás quadra bem com a hiero-Gâmica cena da Tethys na Ilha dita "dos Amores", ela que era precisamente uma das mais poderosas Titãs, filha do Oceano...

Preocupante quadro, para quem partilhe das minhas íntimas crenças (o que aqui é, diga-se, irrelevante)

[NOTA: por ter já visto essa confusão aqui, nomeadamente num post da Anita Silva, recordo que Tethys e Thetis são personagens diferentes com funções e significados diversos: mas a maior parte dos nossos camonistas não se apercebe deste ponto)

Quero dizer com isto que Portugal deixa nesta perspectiva de ser o Menino Jesus para se transformar no Lúcifer ou no Atlante das Nações: o que - e isso eu espero um dia poder referir aqui, com vagar - explicaria bem o fascinio atlante do "pensamento português" a partir da geração do Pessoa (até à Dalila e tantos outros), caso que, a verificar-se, teria apenas por consequência estar eu de novo na margem oposta a eles (ao Pessoa já me vou habituando, da Dalila tenho mais pena): mas eu é que fiquei onde o pensamento português estava (e está) antes da inversão pessoana. Não o contrário.

É que a fascinação propriamente "oceânica" do chamado pensamento portugueses ("o mar sem fim é português") é recente, e não creio que possa filiar-se em Camões ou Vieira ou qualquer outro contemporâneo dos portugueses que conquistaram o mundo embarcados e que por isso viam o mar como o primeiro adversário: a História Tragico-Maritima é o oposto do delicioso Holandês Voador.

Aliás, também por isso é importante distinguir, como o faz Camões, entre Neptuno que é o deus "olimpico" do mar (partilhando com o seu irmão Zeus/Jupiter a racionalidade ou a ordenação dos mundos sob sua guarda), e o primordial e nadificante Okeanos: ora o Poeta diz-nos que Neptuno "obedeceu" aos portugueses, mas nada diz, nem pode, sobre o misterioso Titan (que eu saiba, nem os Gregos clarificaram a relação entre os dois: Zeus teve a vantagem de poder sepultar os titãs revoltados e ficar sozinho a reinar)

PS. "Caosmos" é brilhante! Desejo-lhe um bomedonho fim de semana...

Paulo Borges disse...

Casimiro,

Não tenho tempo para honrar o seu comentário como ele merece e por isso limito-me ao seguinte:

1 - Uso "Nada" não no sentido de "não ser", mas como expressão-limite do inefável, para indicar o absoluto ao qual não convêm quaisquer predicados ou atributos. Assumo assim a mais pura tradição ocidental, que vai pelo menos de Plotino, que fala do Uno como "ouden" (nada), até Hegel, que nele vê o avesso do Ser (cf. "Ciência da Lógica"), Heidegger, Pascoaes, Pessoa e Agostinho da Silva. Pelo meio ficam muitos autores cristãos, como o pseudo-Dionísio, que não diz que Deus é nada, mas diz que não é nada do que dele possamos pensar, incluindo ser Deus! Já Escoto Eriúgena chama a Deus o "Nada" por excelência. Tudo antes de Eckhart.

2 - Quanto à Atlântida e ao titanismo, efectivamente vejo Portugal nessa linha, mas faço deles uma leitura positiva, ao contrário da sua. O que penso sobre isso está exposto num ensaio sobre a metafísica e a mitologia do extremo-ocidente atlântico, publicado num dos meus livros, "Do Finistéreo Pensar", e que pode encontrar no meu site.
Não creio que em Pessoa e Dalila haja inversão, mas sim reassunção duma matriz esquecida e oculta da nossa cultura, que vejo figurada nos seus mitos proto-históricos. Com efeito, creio ser na Atlântida, em Ophyussae, Oestrímnia e até na Lusitânia que devemos procurar o sentido profundo de Portugal e da Lusofonia. O meu trabalho passa em boa medida por aí.
Bem sei não ser o rumo de uma certa "filosofia portuguesa", mas quem é que pode presumir ser dono da verdade?

Saudações

P.S. - Porque não escreve para a Nova Águia um ensaio sobre todas estas questões ou outras?

Casimiro Ceivães disse...

Fico contente por estarmos, cada vez mais, a concordar no desacordo - agradeço a referência ao seu trabalho, que só conhecia indirectamente; e nunca tinha encontrado também o seu site. Muito obrigado.

Quanto ao fundo real (?) disto tudo, talvez tenhamos um dia oportunidade de falar em local mais adequado (um blogue não o é, concordo); para um texto na NA seria precisa uma disponibilidade que de momento não tenho, mas quem sabe o futuro...

Saudações

Ariana Lusitana disse...

Vá ao site do homem senão ele fica triste.