A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Vidas Portuguesas: António Sérgio (1883-1969) 125 Anos



“(...) o que eu peço todos os dias aos meus mais jovens compatriotas, não é que abandonem as suas ‘ideias’ (os seus credos, partidos, fés): é, sim, que busquem ser inteligentemente (civilizadamente, europeiamente) aquilo mesmo que dizem ser. § Sei (ou julgo sabê-lo) como se barbarizou esta Nação, e que haveria a fazer para a tirar de bárbara; e repito que a reforma mais importante – condição preliminar de todas as outras – é sempre A REFORMA DA MENTALIDADE; e que a disciplina mais necessária para termos a ordem a que todos visamos, não é a disciplina que provém da espada, da ditadura, da realeza ou da polícia, - mas a ordem, a honestidade e a disciplina intelectuais”.
António Sérgio, Explicações ao Ex.mo Sr. Professor Martinho Nobre de Melo sobre as Doutrinas Morais dos meus Ensaios

“Numerosas pessoas que nestes últimos tempos se têm dado a repetir a minha divisa: ‘reforma da mentalidade’, lhe atribuem um significado não só diverso, mas até contrário, ao que por essas palavras eu tentei exprimir. O que elas chamam ‘reforma da mentalidade’ é uma substituição no conteúdo das convicções; é deixar de acreditar em certos dogmas políticos para acreditar nos dogmas que lhe são opostos. Ora, o que eu quis significar por aquela máxima não é uma modificação no conteúdo das crenças, e sim na forma do pensamento dos homens, isto é, a passagem da mentalidade catecismal e dogmática (que se encontra igualmente nos dois campos opostos, entre homens da direita e entre homens da esquerda, entre vermelhos e azuis) para a atitude de espírito indagadora e crítica, - para a do livre exame, para a da correcção incessante, para a da discussão aberta, para a da investigação contínua”.
António Sérgio, Introdução Geográfica-Sociológica à História de Portugal



Apontamento Biográfico
António Sérgio de Sousa Júnior, mais conhecido como António Sérgio, nasceu na cidade de Damão, na antiga Índia portuguesa, no dia 3 de Setembro de 1883.
Descendente de uma linhagem de oficiais da Marinha, passará a infância na Índia e no Congo devido às funções de Governador que o seu pai exercia nesses lugares. Só no fim da sua meninice é que se fixa em Lisboa. Nesta cidade, estuda no Colégio Militar, na antiga Escola Politécnica e, devido à influência que a vocação familiar exerce na sua vida, envereda, tal como o seu pai e os seus avós, pela carreira de Oficial da Marinha. Deste modo, entre os anos de 1903 e 1904, frequenta a Escola Naval. É lá, curiosamente, que conhece Leonardo Coimbra (1883-1936) – do qual foi professor de remo. No entanto, logo depois da Implantação da República, António Sérgio abandona a carreira militar e passa a dedicar-se a um trabalho de cariz mais intelectual e, por vezes, itinerante.
Assim, em 1912, depois de passar por Londres, viaja para o Rio de Janeiro, cidade na qual vive por cerca de um ano. Para além de se dedicar aos seus estudos e aos seus trabalhos, ajuda também no negócio do pai da sua mulher – Luísa Estefânia Gershey da Silva (1879-1960) –, com a qual se tinha casado há pouco tempo. No início de 1914, deixa a cidade brasileira e ruma para o continente europeu: detém-se por alguns meses em Nice e Genebra. Voltará a esta última, entre 1915/1916, para frequentar a Escola de Educação do Instituto Jean-Jacques Rousseau. Regressa a Lisboa mas, em 1919, volta novamente ao Rio de Janeiro, onde se demora por mais de dois anos.
Em 1922, depois de deixar a América do Sul, passa por Paris, pela Suiça (onde se cura de uma crise psíquica ganha à custa de muito trabalho e do excessivo calor que o atormentava na cidade do Rio) e pela Alemanha. Em 1923, já plenamente assentado em Lisboa, começa a dedicar-se à Seara Nova (revista que havia sido criada em 1921 e, para a qual, desde o seu início, Raul Proença (1884-1941) o havia convidado para colaborar). O ideólogo dos Ensaios nela permanecerá até 1939, afastando-se apenas porque não concordava com a administração danosa de Luís da Câmara Reys (1885-1961). No fim do ano de 1923, e por curtíssimo tempo, exercerá funções de Ministro da Instrução.
Perseguido pela Ditadura Militar, António Sérgio vê-se obrigado a exilar-se, em França, durante seis anos. Em 1926, depois de uma curta estada em Madrid, fixa-se em Paris. Só regressará a Lisboa em 1933, depois de um período como leitorado na Universidade de Santiago de Compostela. Voltará ao exílio madrileno entre 1935 e 1936.
A partir desta altura, e, em certa medida, como já vinha a acontecer desde a sua demissão da Marinha, António Sérgio terá sempre uma vida finaceira um pouco periclitante. Eram as edições e as organizações de livros, as traduções, o trabalho na Paramount, e algumas aulas que dava, que lhe permitiam viver e dedicar-se à sua obra intelectual. Uma obra imensa que, ainda hoje, só uma parte é que está disponível ao grande público.
Depois da morte da mulher (verdadeiro baluarte da sua vida), em 1960, António Sérgio sofrerá grandes depressões e não produzirá muito mais, acabando por falecer, em Lisboa, no dia 24 de Janeiro de 1969, com 85 anos.

Apontamento Crítico
Os críticos mais efusivos e os discípulos mais dilectos de António Sérgio já caracterizaram a sua figura, a sua vida e a sua obra das maneiras mais variadas possíveis. De filósofo a historiador, de pedagogo a político, de polemista a racionalista inveterado, de matemático a economista, de poeta a tradutor. Cremos, contudo, que os epítetos de filósofo e ensaísta são os que melhor lhe assentam.
Embora se interesse pela Filosofia, já no fim da adolescência, quando lê pela primeira vez a Ética de Espinosa, a sua vida intelectual ficará incontornavelmente ligada ao ensaio filosófico. É por meio dele, através do seu método e da sua linguagem, que Sérgio se exprimirá quase sempre, mesmo quando trata de literatura ou de história, por exemplo. O seu viés platónico, espinosista e neo-kantiano acaba por estar presente em praticamente tudo aquilo que escreve.
Racionalista convicto, chega até a dizer que, se antes dele, não tivessem existido racionalistas, ele seria o primeiro, António Sérgio questiona a inexistência de um cariz estritamente filosófico e racionalista nos pensadores portugueses, na sua generalidade, e propõe uma reforma da mentalidade portuguesa. Se, a posteriori, tal transformação é de natureza cultural, educativa, política e social, a priori, ela é de natureza filosófica. Para o autor dos Ensaios, à semelhança de Platão, a Filosofia é a base da sociedade. Ora, é por este motivo que se empenha numa reestruturação das mentalidades dos portugueses, e, de igual modo, que critica o posicionamento intelectual que os saudosistas propunham. Ora, é na altura da fundação do movimento da Renascença Portuguesa, portanto, que António Sérgio polemiza com Joaquim Teixeira de Pascoaes (1877-1952) e com todos aqueles que se insurgem a favor de um neo-lusismo. O ensaísta, por sua vez, propõe um racionalismo crítico (e místico), uma ideia de progresso, uma evolução da ciência que, na sua concepção, não era compatível com os ideais que o saudosismo defendia. Nesta perspectiva, aproveita ainda para questionar os contornos que a História de Portugal acabou por assumir ao longo do tempo, sobretudo a decadência em que o país mergulhou depois de Alcácer-Quibir e a relevância que os movimentos sebastianistas assumiram na construção do estado psicológico do país. Segundo aquilo que pensa, um país que se pretende novo, progressista, futurista, científico e filosófico, não pode relevar os erros do passado nem pode carpir mágoas e saudades. Deve, antes, olhar para o Futuro. Para tal, é necessário preparar-se o presente e valorizar-se, em certa medida, aquilo que de melhor Portugal foi e produziu durante o seu período medieval.
Quando se fala do racionalismo crítico que está subjacente a toda a obra sergiana, dever-se-á ter em conta um conjunto de noções que, em alguma medida, o sustentam e promovem: a saber, cultura, espírito, liberdade e cristianismo ético. Sem estes conceitos, não se consegue compreender a verdadeira dimensão da proposta crítica que António Sérgio faz durante quase cinquenta anos e que, muitas vezes, tem sido interpretada erroneamente: ou porque lhe é atribuído um racionalismo puro, sem contactos ou mediações com outras interpretações gnosiológicas (esquecendo-se que o racionalismo sergiano também é místico e se integra num humanismo integral); ou porque se sobrevaloriza a sua vertente polemista em detrimento da sua vertente filosófica. Se, de facto, a polémica é um matiz, relativamente forte da sua obra e até da sua personalidade (em certa carta escrita ao seu amigo José Régio (1901-1969), Sérgio afirma que a polémica se tornou numa maneira de ser da sua própria vida espiritual porque nasceu com uma conformação intelectual contrária à moda do seu tempo), não se deverá permitir que ele camufle tudo o resto. E a divulgação e a compreensão da obra de António Sérgio, mais do que a de Raul Proença (que também foi um polemista, por exemplo), sofreu preconceitos que ainda hoje duram porque a sua veia polemicante se destacou.
Numa altura em que se passam 125 anos do nascimento de António Sérgio convém relembrar que, mais do que um cruzado da Razão, como lhe chamou Eduardo Lourenço (1923), e do que um detractor do pensamento lusíada, como o definiram (e definem ainda hoje!) os seus inimigos intelectuais, o ilustre seareiro foi um dos homens que, na primeira metade do século XX, mais se empenhou em reformular o modo de pensar da sociedade portuguesa.

Bibliografia Indicativa
Rimas (1908)
Notas sobre os Sonetos e as Tendências Gerais da Filosofia de Antero de Quental (1909)
Da Natureza da Afecção (1913)
Educação Cívica (1915)
Ensaios I (1920)
O Desejado. Depoimentos de contemporâneos de D. Sebastião sobre este mesmo rei e sua jornada de África (1924)
Sobre a Política de Camões (1924)
Tréplica a Carlos Malheiro Dias Sobre a Questão do Desejado (1925)
Ensaios II (1929)
História de Portugal (1929)
Método Científico, História, Política e Tradição (1929)
Ensaios III (1932)
Diálogos de Doutrina Democrática (1933)
Democracia (1934)
Cartas despretenciosas a um anti-intelectualista bergsoniano (1934)
Esclarecimentos e interrogações de um idealista (1934)
Ensaios IV (1934)
Ensaios V (1936)
Cartesianismo ideal e cartesianismo real (1937)
Um problema anteriano (1943)
Ensaios VI (1946)
Alocução aos Socialistas (1947)
Confissões de um cooperativista (1948)
Cartas de Problemática dirigidas a um grupo de jovens amigos, alunas e alunos da Faculdade de Ciências (1952-1955)
Cartas do Terceiro Homem (1953-1957)
Ensaios VII (1954)
Ensaios VIII (1958)
Correspondência para Raul Proença (1987)
Correspondência para Castelo Branco Chaves (1989)
Correspondência para José Régio (1933-1958) (1994)

2 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

Seja bem-revinda.

Os melhores cumprimentos.
P. S. Oportuno, muito oportuno...

Renato Epifânio disse...

Bom esforço, Romana, bom esforço. Mas...