A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Somos todos ciganos


Antunes Ferreira

Em tempo salazarento Portugal era o País dos três efes: Fátima, Futebol e Fado. Hoje, Portugal é o País dos três efes: Fundos, Finanças e Futebol. A História, por mais que queiram que ela mude constante e permanentemente, bem ao contrário vai avançando com bastas repetições, mas, sobretudo, com muitas adaptações.

Somos, aliás, uma raça de adaptados – e de adoptados. Costumo dizer que somos ciganos. Não os dos tiros, das desordens, das feiras, dos roubos, da droga – que os há, como é sabido. Se calhar, também possuímos um qb destes nos cromossomas a que temos direito. Porem, aqui, é outro o conceito. Para constatar que somos uma mistura aciganada, basta que miremos a nossa genealogia.

Os residentes sem cartão mas residentes, começaram, segundo dizem, por ser os protoibéricos. Na fila (antigamente eu usava bicha, mas hoje…) encontramos de seguida os ibéricos, os lusitanos, os romanos, os vândalos, os suevos, os alanos, os visigodos, os mouros, e diversos outros que não menciono para não esgotar as listas de registo e as respectivas certidões. Mesmo assim, convém não esquecer os fenícios e os gregos. Muitos.

nos primórdios da nacionalidade, conta-se com um bolonhês e cruzados das mais diversas origens, tonalidades e defeitos, sem certificados de qualidade e de proveniência. Isto tudo misturado – miscigenado para usar palavra erudita que fica sempre bem em escrito – foi originando o Português. E vieram os Descobrimentos. Mais achas para a fogueira. Pretos, indianos, malaios, chineses, coreanos, tailandeses, chinês, japoneses, timorenses. É obra.

Bom, já o tenho escrito, nós colonizámos sobretudo na cama. É esta comezinha constatação, no meu mais do que modesto entender, que pôde justificar a afirmação de que a nossa colonização foi diferente de outras, ou, mesmo, das outras. Não terá sido completamente assim. Mas quem é o escriba para assim perorar, se a mulher com quem casou de igreja e tabelião, é… Goesa?

Acrescento só mais uma pequena «ocorrência». O nosso terceiro e último filho nasceu em Luanda. Quando já nos reinstaláramos em Portugal, findos os anos de Angola, fomos registá-lo na Conservatória dos Registos Centrais. O zeloso funcionário encarregado de fazer o assento, perguntou o nome do rapazito: Luís Carlos etc. Natural de? Luanda. Filho de? Henrique torna e deixa, natural de Lisboa, freguesia de São Sebastião da Pedreira (há uma caterva deles). E de Raquel tal e modos, natural de Raia, concelho de Salcete, antigo Estado Português da Índia. Abreviando: as duas testemunhas arregimentadas à porta conservatorial, eram, um moçambicano, e o outro, damanense. Palavra de honra.

O agente administrativo apontou tudo cuidadosa e conscientemente, à mão, naturalmente, no livro de registos monumental, leu o escrito e deu para assinar. Finalmente, fê-lo ele próprio. Só por pura curiosidade e face ao fácies, perguntei-lhe de onde era. Do Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde.

Saímos, agradeci às testemunhas e paguei-lhes o combinado, já que nunca nos tinham visto, sendo que um era amigo de um primo da Raquel, da Beira e outro conhecido do meu sogro que fora director da Alfândega de Damão. E foram à vida deles. E nós, à nossa. Um slogan então muito na moda referindo a banca, saltou de imediato do Paulo o meu do meio: «Olha, agora és nacionalizado, nosso»…

E logo o Miguel, o primogénito, plantou uma alcunha no pimpolho com os seus quatro anos: «a partir de hoje, és o tuti-fruti».E depois, digam-me lá se somos ou não somos ciganos?


(Também publicada no
www.sorumbatico e noutros, vários...)

2 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

«Bolonhês»?!? Quem? Não será borgonhês?

SAM disse...

Como não poderia deixar de ser, texto muito bem escrito. Gostei muito, Antunes!

Beijo