A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

“Ser humano vale a pena”

    Profissão: leitor

    Privilégio é a palavra que melhor define
    o exercício de desembrulhar as frases
    uma a uma, letra a letra, constatando-lhes
    o gosto, o peso, o conteúdo, o continente.

    Adivinhar em cada uma os mil silêncios
    lapidados, os gritos que jamais
    serão escritos, os sorrisos navegantes
    à espera do milagre que os amarre
    no porto de algum peito marinheiro.

    Despojar cada sentença da placenta que a recobre
    e no fundo descobrir o esconderijo da esperança,
    camuflado no ritmo sem compasso da verdade nua e crua,
    oculto no alarido arrítmico do mutismo trepidante,
    ausente na cerimônia fúnebre dos amores fracassados
    e prima-dona no acontecer do encontro tão sonhado.

    Depois de saciada a sede de metáforas
    é chegada a hora de acariciar o eco das estrofes
    degustando o significado vital de sua essência
    cheirando a sonoridade mágica da mensagem
    bebendo a consistência semântica dos dizeres
    e agradecendo a vivência codificada que nos legam.

    Decifrar e entender as entrelinhas
    — sejam da vida ou do poema —
    é prerrogativa de duendes encantados,
    de gênios, de fadas, e também de feiticeiras;
    nós outros, apenas o tentamos
    e o tentamos e insistimos e tentamos
    ainda que nem sempre o consigamos,
    mas claro que nem por isso desistimos
    pois ler poesia é ser poeta
    e ser poeta é declarar de viva voz
    para todos os ouvidos
    e perante todas as audiências
    que ler poesia, assim como escrevê-la,
    é buscar palavras que sejam degraus
    da mesma escada, e descobri-las;
    é procurar agulhas nos palheiros, e encontrá-las;
    é entender que ser pensante gratifica
    e finalmente constatar que ser humano vale a pena.

    Por tudo isso e outro tanto que ora fica no tinteiro
    a resposta que merece pergunta tão freqüente
    deve ser, sem titubeio, em voz alta e com orgulho:
    profissão?... leitor! com muita honra!
    Bruno Campel

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Vale a pena ser humano. Valerá a pena querer ser isso? Não vale a pena querê-lo porque todos os humanos o são. Mas há muitos seres humanos adiados. Que desesperam na espera.
A espera, se for aquilo que se guarda com mais fervor na palavra esperança, é a entrega ao inferno. E não há nada mais versátil e fecundo do que os círculos infernais. Cada homem pode encerrar-se dentro de um, emparedar-se no medo e no egotismo. E aí o fogo lento que não consome a carne quando devora a gordura mais gelatinosa de sermos nós a que geralmente chamamos alma, torna-nos a vida insuportável.
E emparedados na cela translúcida do impossível, exilamo-nos da vida, do palpitar que anima tudo e tudo une no amplexo de fogo que nos atinge, explosão irremissível, desde o âmago do que, por excesso de vocabulário, chamamos mundo.
Mas vemos e julgamos. Quase sempre julgamos que vemos. Raramente vemos o que julgamos ver.
O acto de julgar, se impedir que queiramos calar-nos de dentro, esfacela tudo. Tal como ao açougueiro é impossível remontar as peças que desmanchou, assim as mentes demasiado judiciosas ficam a braços com um massacre, quando desejariam apenas compreender. A poesia é o oposto disto. Deixa intacta a realeza que há nos seres e nos que deles se abeiram.
A realeza de não terem que ser o que a mente judiciosa procura para se aquietar. Insaciável, nunca encontra a quietude.
Por isso há mais, muito mais, nas palavras do que imaginamos. E a própria imaginação tem modos que transfiguram as palavras e o mundo, largado e alargado nelas e por elas.
Por isso as Línguas não têm fronteiras, embora a fala possa ter margens, entre as quais jorra o silêncio e a impermanência, o outro do tempo, essa fluidez da permanência. O tempo é o que não passa, a sua fluidez é a presentificação do esquecimento.
A eternidade é impermanente, o reflexo do que não se atém, não se agarra a um mesmo. E só o que é eterno é identitário, a fugacidade do amor, a tenacidade da dor, a vacuidade da saudade, a autenticidade da vida humana. Que, no fundo, não é autêntica ou inautêntica. Mas há que embarcar nela, daí poder falar-se dum viver na autenticidade, um viver embarcadiço.
Só assim estaremos bem firmados na vida, teremos um viver afirmativo, assente na aceitação do que há de próprio e sem a necessidade de negar o que em nós e nos outros é inegável, o facto quase absurdo, na sua verdade, de nós seremos nós e os outros serem outros, embora não sejam os outros de nós. O espírito negador, luciferino, nega-se afirmando-se. Ataca, desatacando-se. E ninguém consegue correr bem e ir longe sem apertar os atacadores. Os seus. Os dos outros devem ser-nos indiferentes. Até por vezes nos dá jeito que estejam desatacados.



Sodade - Cesaria Evora (ft. Eleftheria Arvanitaki)

1 comentário:

lara disse...

La Palisse, Pascal, Nossa Senhora dos Remédios e o velho padre catecista com pelos no nariz, que já não lembro o nome.