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Há um cemitério e as cruzes são de todas as cores e estão molhadas.
Parece que vão derreter,as cruzes.
E ali debaixo há alguém que se matou.
Alguém que tentou escrever um livro e não conseguiu.
Alguém que tentou tocar violão e não aprendeu.
Alguém que matou a esposa,
Passou a vida inteira preso e um dia,
Sem mais nem menos,
Morreu.
De todas as idéias geniais: OSSOS.
De todos os grandes amores: OSSOS.
De todas as pessoas boas, de todas as pessoas más: OSSOS.
Ossos fortes e duros
Cheios de cálcio e escuridão.
Ossos de crânio, fêmur, dentes.
Ossos de Jackson Pollock nos Estados Unidos.
Ossos de Fernando Pessoa em Portugal.
Ossos de Federico García Lorca perdidos em algum lugar de Espanha.
Ossos branco, cinza, pretos, mas nunca vermelhos.
Debaixo da terra.
Enquanto aqui em cima a água escorre pelas tumbas e o cemitério não ofende a ninguém.
Na rua,
Paralela às cruzes molhadas,
Um senhor passa dentro de um carro,
Vai levar o netinho à escola.
Ao lado do cemitério
Construíram uma escola verde,
Onde, neste momento,
As crianças entram em algazarra.
Há um pé de laranja lima perto do pátio.
3 comentários:
Todos viram ossos: criadores, criaturas, entratanto pés-de-laranja-lima brotarão por milênios ainda que em cima de ossos e mais ossos.
Excelente poema!
Beijão.
A etiqueta «Renascimento Lusitano» não somos nós a querer renacionalizá-lo... :) Esta etiqueta é reservada, no caso da criação literária (porque também se aplica a textos de teor filosófico e político), a prosa de ficção e a poesia que, de algum modo, se possam inscrever no ideário estético da Renascença Portuguesa, no qual o Saudosismo e o Romantismo tardio (por vezes com nuances «nocturnas e mórbidas») se inscrevem.
Obrigado, Daniel, um abraço.
Ei Klatuu, esquenta não. Tá tudo certo sempre.
Abraço,
Daniel.
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