Destiny, de John Williams Waterhouse (1849-1917)
Quem quer que ame antes de mais a aproximação do amor jamais conhecerá o encontro do amor (...).
Só estou disposto a salvar aquela que aceita ordenar-se em volta do pátio interior, da mesma feição que o cedro se edifica em volta da sua semente, e fica a dever o seu desenvolvimento aos seus próprios limites. Estou disposto a salvar aquela que, em vez de amar a Primavera, ama a ordenação desta ou daquela flor em que a Primavera se encerrou. Quem não ama o amor, mas sim este ou aquele rosto particular que contraiu o amor.
É por isso que essa esposa dispersa na tarde, de duas uma: ou a expulso ou a congrego. Disponho à volta dela, como outras tantas fronteiras, o fogareiro, a cafeteira e a bandeja de cobre, para que pouco a pouco, através deste conjunto, ela venha a descobrir um rosto conhecido, familiar, um sorriso que só pode ser daqui (...).
Porque eu sou aquele que constrói a urna à volta do perfume, para que ele permaneça.
Ruy Belo (na tradução de Citadelle de Antoine de Saint-Exupéry)
3 comentários:
Compreendo a perspectiva, que corrige muito falso amor, pretensamente universal e meramente abstracto, mas pergunto se não poderá haver uma conciliação e se não será mais amplo e divino amar-se o próprio amor infinito, trans-pessoal, no amar-se, pessoalmente, quem se ama, sem deixar de nele se amar o universo?
Com variantes semânticas (como o "transpessoal" que para os cristãos não será adequado) assim o afirma um grande número de religiões.
Mas - e volto a citar Saint-Exupery:
"É que não foram poucas as vezes que vi a piedade enganar-se".
São estas as primeiras palavras da Citadelle. Et pour cause...
Mesmo no cristianismo - teologia negativa e mística - Deus é trans-pessoal.
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