A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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domingo, 14 de setembro de 2008

Último texto para o 2º número da Revista


O Padre António Vieira, a Lusofonia e o Futuro do Mundo

Manuel Ferreira Patrício

I

Aceitemos que cada uma das componentes do tema desta reflexão é um pilar. Teremos de confessar que cada um destes pilares é de uma dura complexidade.

O Padre António Vieira é, só por si, mais do que um mar; é um oceano.

A lusofonia é uma realidade do mundo: a língua portuguesa a ser falada nos quatro cantos do mundo, fenómeno forte e surpreendente, atendendo à pequenez do povo que começou a falá-la, que a inventou (ou seja, que a trouxe para dentro dos ventos que sopram pelo planeta, de uma ponta à outra) e, como no milagre da multiplicação dos pães a pôs, nos dias de hoje, em mais de duzentos (200!...) milhões de bocas. O facto em si e o traço de união das bocas que falam a língua portuguesa - falada assim ou falada assado, mas sempre língua portuguesa -, na sua unidade viva, constituem o que chamamos” lusofonia”.

E quanto ao futuro do mundo?... O futuro é o que há-de vir. O futuro é o porvir. Se dissermos o "porvir", desde logo anunciamos que o porvir há-de vir, tem de vir. Mas o porvir, mesmo no entendimento do por-vir, pode não vir. Então, o futuro do mundo pode ser o fim do mundo. Ou seja o futuro do mundo é deixar o mundo de ter futuro. Ou seja, mais alto: o futuro do mundo é o mundo deixar de ser mundo. Não quero dizer que deixar de ser mundo seja passar a ser nada, passar a ser não-ser. O mundo pode deixar de ser o mundo que é, para passar a ser outro. Em termos ontológicos, pode passar a ser outro com a mesma dignidade ontológica, pode passar a ser outro com inferior dignidade ontológica, pode passar a ser outro com superior dignidade ontológica. Os políticos que prometem mundos e fundos pensam normalmente dentro da primeira hipótese. Os pessimistas e catastrofistas, e sobre eles todos os apocalípticos, pensam na segunda. Os visionários pensam na terceira.

O primeiro visionário que me vem à mente é Platão. Parece-me que ele pensava sob duas hipóteses: a primeira e a terceira. Pensava, pois, como politico e como visionário. Santo Agostinho, com A Cidade de Deus, pensava nuclearmente como visionário. O mesmo vieram a fazer Joaquim de Fiora e, entre nós, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. Como visionário pensou também, e superiormente, o Padre António Vieira, ainda que, ao que me parece, tenha pensado também, à imagem de Platão, compositamente como político e como visionário. Não vejo mal em que se pense compositamente assim. Não sei mesmo se o próprio Santo Agostinho não pensou compositamente assim, por difícil que fosse fazê-lo na hora da derrocada do Império Romano. A esta luz, foi bem pior a situação em que viveu e pensou do que a de Vieira ou qualquer dos visionários portugueses. O futuro do mundo talvez seja, como entreviu Junqueiro, O Caminho do Céu. Mas não foi assim que, entre os maiores, todos o entreviram? Ainda que o desgosto do que se passava na terra, aqui, a todos consumisse bem dolorosamente. É como se um ponto fulcral de descrença, ou talvez de suspeita, em todos residisse no fundo da alma.

Que língua se falará nesse mundo futuro que fica para além deste mundo, nesse Céu em que todos pensaram, ainda que só alguns o tenham confessado por palavras, como sucedeu plenamente com Santo Agostinho, creio eu que também com Vieira, e obliquamente com Junqueiro? Falar-se-á português? Falar-se-á hebraico? Falar-se-á árabe? Falar-se-á inglês, castelhano, chinês? Na senda de Vieira - e de Pascoaes, e de Pessoa, e de Agostinho da Silva - , o português seria a ponte, o caminho, para o Céu. Aquela língua que é a da inefabilidade é, certamente, no pensamento dos nossos visionários, a que se falará no além-mundo, que é mais trans-mundo do que meramente além-mundo, que sobretudo é supra-mundo. Aí falar-se-á a língua do espírito, que é aquela a que conduzirá a língua portuguesa. Assim, a construção da lusofonia será veridicamente a construção, a edificação, pela língua portuguesa, da estrada e da ponte para o supra-mundo, para o mundo espiritual, o mundo do divino.

Poderá ser assim? Poderá vir a ser assim? Essa é a fé dos que essa fé têm. Ou desejam ter. Fé que é a da unanimidade humana, a da unanimidade fraterna humana, onde a justiça já nem é precisa porque o laço que a todos liga é o amor. Fernando Pessoa deixou para nós escrito que o próprio do português é ser tudo. Eu creio que o que para nós um juvenil grupo anarquista escreveu durante o período revolucionário de 75 na parede de uma famosa cervejaria, curiosa ou sintomaticamente chamada Portugália, é mais profundo: “Queremos tudo”. Ao “ser tudo” de Pessoa contrapuseram eles, decerto sem disso terem consciência, mas com infalível instinto, o “querer tudo” do atávico sentimento anarquista do português. Ora “querer tudo” é “querer o Céu”, “o supra –mundo”, “ o mundo do divino”.

Todavia, temos de construir a estrada e a ponte “aqui”. “Aqui” é “a Terra”, o que já inclui uma parte do sistema solar e não sabemos que mais poderá vir a incluir. “Aqui” é o lugar da “vida temporal”, como escrevia Santo Agostinho.

Que fazer? - perguntou Lenine. Que fazer? - perguntamos nós. Que fazer? - perguntaram as multidões e os cobradores de impostos a João Baptista, como se lê ipsis verbis no Evangelho segundo São Lucas, mais ou menos dezanove séculos antes de Lenine. Que fazer? Pergunta decisiva.

(a continuar)

7 comentários:

Unknown disse...

Poria antes talvez dessa pergunta outra: Que ser?... Pois sem se saber o que se é, como se pode saber o que fazer?

Atentamente.

Paulo Borges disse...

Querer tudo é querer mais do que ser... Belo texto, o do Professor Manuel Patrício.

Unknown disse...

Caro Paulo,

Por isso é que eu acho que aquela conversa do Agostinho de perguntar continuamente: "O que entende por [certa palavra]" faz muita falta em quase toda a comunicação do Homem.
O tal discutir ideias sem haver discutido plenamente o sentido das palavras que as expressam.
Os significados, apesar de estarem geralmente identificados, quando se trata de discutir a fundo alguma coisa torna-se necessário explicitá-los completamente.
O que o Paulo entende como "Ser" ou "Pátria" será por certo muito diferente de mim, ou por exemplo, do Renato, ou mesmo para mim a cada momento. Daí que sem chegar a uma definição intermédia das palavras o que se conversa fica sujeito a ficar aquém do que se pretenderia, por se estar afinal a falar línguas distintas, pois que as palavras nada são senão o que nós as virmos ser.

Com Amizade.

Paulo Borges disse...

Inteiramente de acordo! Um contributo: "ser", em português e castelhano, vem do latim "sedere", estar sentado, assente, em repouso num fundamento. A nossa ontologia, a teoria do ser, é implicitamente sedentária: implica a ideia de alguém que se experimenta assente num fundo. Ora querer tudo pode ser querer viajar, ir além, perder o pé e a-fundar-se: ser livre de ser e de si e, nisso, realizar-se plenamente, realizar-se como potencialidade sempre em aberto, jamais cristalizada em forma ou determinação alguma... É o que Pessoa chamou o caminho da Serpente e que bem viu ser o caminho profundo do espírito e, simultaneamente, de Portugal. Com efeito, não entendo Portugal senão a esta luz... O nosso segredo é o de Proteu, a arcaica divindade do mar e da metamorfose, o que não é nem não é, devém...

Unknown disse...

E quando a pessoa se sente a ser quando é tudo? É o quê? Já não está a ser o que é?...

Ou quando a Pátria é a Terra inteira? Já não se pode falar Pátria?...

Paulo Borges disse...

Quando isso acontece acabam as perguntas e as palavras.

Unknown disse...

:) E então sim talvez... "Que fazer?"

Viver.