A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Último texto para o 2º número da Revista


O Padre António Vieira, a Lusofonia e o Futuro do Mundo

Manuel Ferreira Patrício

II

Somos, dizem-nos, um país atlântico. No Atlântico esteve, brilhou, fulgurou, o nosso passado histórico. No Atlântico se encontrará o nosso futuro, pois. A Europa encontra-­se no Atlântico Norte. Os Estados Unidos da América – líder do mundo ocidental, líder do mundo – encontram-se no Atlântico Norte. A NATO – fortaleza do Ocidente – é, formalmente, uma aliança, e também uma potência mundial, de vocação hegemónica planetária, e hoje não só. Quem é rico no mundo, quem governa o mundo, quem manda no mundo, é o Atlântico Norte. Dizem-nos e vemos.

Todavia, arriscamos afirmar, Portugal também é um país mediterrânico. É-o culturalmente. É-o espiritualmente. Do Mediterrâneo nos veio a fé, a razão, a língua, a cultura – entendida como maneira íntima de ser. O Atlântico é um acidente físico na nossa história originária mediterrânica. Vindos do Mediterrâneo Oriental, viemos a bater com o nariz no mar, no oceano, e eis-nos atlânticos. Mas morreu em nós com isso o Mediterrâneo? Eis o que homens da envergadura intelectual e científica de Orlando Ribeiro não pensaram. E foi o Mediterrâneo que nós levámos para o Atlântico, inicialmente ainda Norte, logo em seguida Sul, algum tempo depois o Índico, logo em seguida o Pacífico. Nós sulcámos todos os mares. Camões o disse. Camões o disse veramente, definitivamente. Do Mediterrâneo levámos Roma, e Jerusalém, e Atenas. A grande especiaria, mágica especiaria, que levámos nos mares para o planeta inteiro foi o Mediterrâneo. O Atlântico, no seu todo, foi primeiro um acidente físico, foi depois um caminho para a Terra no seu todo e perfeição de redondez, é hoje um sonho de realização material humana, é o sonho maior emergente das entranhas do Mediterrâneo de culminação espiritual da Terra, do Homem, do Cosmos. Foi sempre o sonho de Portugal. Portugal transfigurado naquela sua criação misteriosa que é a língua portuguesa, esse milagre.

Fernando Pessoa declarou-a sua pátria. “Minha pátria é a língua portuguesa” – escreveu. Também escreveu, e é preciso ligar as duas falas subjacentes: “António Vieira, imperador da língua portuguesa”. Portanto, vero imperador da pátria. O sonho quinto-­imperial de Vieira é inseparável desta altificação ontológica da língua portuguesa como pátria. Na verdade da sua prática, Vieira pensou a língua portuguesa como pátria do mundo, como pátria do homem. Seria ela a língua do Quinto Império Consumado de Cristo, não o latim, já então língua morta. Fez dela, como é impossível negar, uma imperecível e luminosa hóstia para ser comungada pela humanidade. Pela nossa mão, os primeiros – por lei e obrigação – a comungá-la. Depois a ensiná-la, assim a pondo na boca do mundo. Éramos um milhão e meio mal contado de portugueses e realizámos esta maravilha. Na celebração eucarística que foram afinal as navegações pusemos a humanidade a sonhar o caminho do céu pela comunhão da língua portuguesa. É um trabalho iniciado, não concluído. O povo que a fala é hoje um conglomerado de povos que habitam na sua quase totalidade o hemisfério sul, só nós os portugueses originais habitando o hemisfério norte. E no hemisfério sul habitam quase todos terras que se confrontam com o Atlântico Sul, poucos o Índico, menos o Pacífico, mas todos o Sul.

O nosso futuro não se encontra, pois, no Atlântico Norte. Mais importante é para nós o Atlântico Sul. Nele molha os pés, e nele navega, anda, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, dos Países onde vivem os Povos de Língua Portuguesa (CPLP). Ele é o Oceano Moreno, das palavras e do visionarismo mundial de Adriano Moreira. Atravessando segundo o sentido da latitude a América do Sul pelo Chile em direcção ao Pacífico, o que um acordo entre o Brasil e o Chile facilmente viabiliza, e a África segundo o mesmo sentido desde Angola a Moçambique, em direcção ao Índico e por este ao Pacífico, com acordo semelhante, parece aberta e fácil a possibilidade de fazer o anel planetário da língua portuguesa e com ele cingir e abraçar o planeta. Pelo Sul, não pelo Norte. O Sul é o caminho para o Norte, e não ao invés. É no Sul que começa hoje o sonho quinto-imperial de Vieira, imperador daquela língua – a língua portuguesa – que ele via como sendo a arca da aliança que unificaria o sentimento e a crença, e a monarquia (mono-arquia) da humanidade na viagem da Cidade Terrestre para a Cidade Celeste. Tratou-a como tal. Qual ourives do ouro material, ele foi ourives do ouro espiritual que esta língua era desde nascença. Com esse ouro a recebeu de D. Sancho I, de D. Diniz, de Fernão Lopes, de Gil Vicente, de Samuel Usque, de Luiz de Camões. Com esse ouro vieram a recebê-la, e trabalhá-la, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castello Branco, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Machado de Assis, Rui Barbosa, José Régio, Vergílio Ferreira, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Josué Montello, Luandino Vieira, José Craveirinha, Herberto Helder, António Lobo Antunes...

(a continuar)

2 comentários:

Casimiro Ceivães disse...

Texto interessantíssimo.

Mas faço um reparo - com a excepção da figura enevoada de Corte Real, não sulcámos o Atlântico Norte. Não chegámos à mítica passagem do noroeste. E não fizemos o caminho do Norte Europeu, do grande Norte Euroasiático.

Talvez isso tenha sido impedido pelo falhanço da projectada aliança com o "portugalois" Carlos de Borgonha; quem sabe? Alguém devia aqui recordar essa história, e posso eu talvez fazê-lo se um dia tiver tempo.

No fundo no fundo nunca cruzámos o "mar espanhol" que nos separa da Europa, essa terra que ficou por descobrir. E não sei se poderá ser o Brasil - o visível ou o invisível - a fazê-lo por nós.

A Europa é agora a terra incognita dos novos mapas. E não me refiro só aos cientistas do CERN e ao seu ouroboros quântico.

Digo isto também à atenção do Renato Epifãnio, que já me recordou uma promessa incumprida sobre "alianças" :)

Renato Epifânio disse...

Não esqueci a promessa...
Podes aliás começar a pensar escrever um ensaio sobre o tema. É bem possível que o quarto número da Revista seja precisamente sobre "A Europa", já que, em 2009, passam vinte anos sobre a queda do Muro de Berlim...