A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Diálogo com Casimiro Ceivães

"1) Na Clavis Prophetarum - na sua "atenuação", digamos assim, do papel de Portugal - percebe-se em Vieira o desenvolver da ideia de que a consumação do Reino era afinal uma tarefa comum da cristandade; (digo isto tendo presente que, na espiritualidade cristã, a consumação do Reino é sempre, em última análise, uma tarefa divina - isto é, não se trata de um projecto "titânico", "mágico" ou "voluntarista" - tal como já o não tinha sido a vinda do Messias: o que não quer dizer que não fosse importante "aguardá-lo guardando-o no coração"."

> Vieira era um cristão apostólico-romano convicto. É impossível separar o "homem religioso" que habitava em si do seu pensamento e de cada palavra por si escrita. É assim necessário contextualizar qualquer "consumação do Reino" ou "Quinto Império cristão" advogado pelo jesuíta. Apesar de ser necessário suprimir essa variável "cristã" do pensamento vieirino de forma a atualizar a noção de "Quinto Império" para os tempos modernos, a verdade é que continua perfeitamente válida o pressuposto de que Portugal se deveria anular e ultrapassar a si mesmo, para que esse "Império" pudesse ganhar forma e substância no mundo real. Nenhum país poderá jamais assumir a "cabeça" ou "liderança" de tal império, sob pena de destruir a sua própria possibilidade de existência. Não poderá haver um "Quinto Império" recorrendo às mesmas formas de dominação humana, material ou militar, seguindo as mesmas bitolas de dominação do Um pelo Outro utilizadas até à exaustão pelos impérios assírios, babilónicos, persas ou romanos, o "Quinto Império" terá que ser uma nova forma de organização social e estatal, profundamente diversa de qualquer outra forma anterior. Sem o cumprimento deste requisito, não haverá jamais um "Quinto Império".

2) Se for assim como digo, isso seria um "regresso" à ideia comummente aceite pela cristandade, a de todos os cristãos ou homens de boa vontade serem por igual chamados: quero dizer com isto, se posso brincar um pouco, que o Francisco I de França não teria afinal que se queixar - além da queixa que formulou, face a Tordesilhas, de ter sido "excluído do Testamento de Adão" - de ter sido reservado ao seu reino o papel de figurante destinado a absorver-se passivamente em Portugal...

> Ou seja, mesmo em Vieira, o "Reino de Cristo" poderia incluir "homens de boa vontade", isto é, não-cristãos quer nascidos antes da Revelação (um tema várias vezes abordado pelos Padres da Igreja) poderia fazer parte deste "Quinto Império". Não importa neste conceito que sejamos budistas, islamitas ou cristão, ou até ateus... Para que o Quinto Império se possa concretizar no mundo, não temos que converter todos os seus habitantes aos cristianismo. Temos contudo que realizar naqueles que a ele queiram aderir (porque a adesão forçada será a própria negação suprema do Quinto Império) aquela "revolução interior" a que aludir Agostinho da Silva, e esta revolução não tem que ser cumprida em nenhuma religião em particular, estando todas elas na devida distância até essa realização.

3) Mas assim sendo, então em rigor nada nos fica dito quanto ao papel das diversas Nações neste período intermédio da História de preparação para o Advento... De modo que temos que reanalisar esse problema sem nos deixar entusiasmar, por assim dizer, pela exaltação "quinto-imperial" portuguesa.

> O Quinto Império não tem que ser necessariamente cumprido por Portugal. Na verdade, não pode sê-lo. Portugal já não é o farol da lusofonia, nem demograficamente, nem culturalmente, nem sequer economicamente. Essa farol assenta hoje os seus fundamentos no Brasil, e de forma extraordinariamente sólida. É contudo certo que o Quinto Império não poderá avançar sozinho, realizando-o apenas no Brasil (ou em Portugal). Se esta nova forma de organização estatal e social deve existir, terá que ser pela força do exemplo da união política de dois países, separados pela geografia, mas aproximados pelo coração. E neste contexto, nada melhor, nada mais viável, do que uma união entre os dois países lusófonos que mais próximos estão, sob todos estes critérios: Portugal e o Brasil.

4) A ideia de que as Nações têm um diferente papel meta-histórico - e que, sempre na tradição judaico-cristã, assenta creio eu naquela referência bíblica à luta entre o "anjo de Israel" e o "anjo da Pérsia" foi por exemplo muito forte em França em diferentes épocas, "fille ainée de l'Église" (também em principio tudo isso reforçado pelo caso extraordinário de Joana d'Arc);

> Se até agora, todas as formas de organização estatal "imperial" se firmaram sobre o terreno instável da luta de opostos, o "Quinto Império" terá que se erguer sobre a sua concórdia. Não se trata de "tolerância de opostos" (Agostinho rejeitava aliás a necessidade de "tolerância" preferindo o termo "aceitação"), trata-se da construção de uma nova forma de organização capaz de integrar em si mesmo, de forma pacífica e frutuosa, diversas tendências e visões interpretativas da realidade e do mundo. A diferença entre indivíduos não deve ser motivo para a sua separação ou de desavenças constantes, deve ser raiz de uma criatividade que só ela pode justificar essa imensa benesse que é a existência humana.

5) Neste ponto, poderemos ir buscar a ideia do "Portugal, gente conversável" do Agostinho, mas permanece o problema de saber se se trata de jogo e predestinação de uma qualquer Providência, ou se é só um acaso, um pouco à semelhança daqueles suiços do Borges que "tomaram a estranha decisão de ser racionais".


> Não se trata de uma predestinação pura. Não no sentido genético do termo, pelo menos. A especificidade da portugalidade não se esgota em Portugal nem nas suas estreitas fronteiras terrestres e marítimas, estando agora plenamente transferida para todas as sementes que os portugueses souberam ir plantando pelo mundo fora, de Macau a Timor, de Goa ao Brasil. Contudo, em todas elas está vivo o espírito que forjou a nacionalidade nos idos de antanho onde os sangues mouros (norte africanos) se misturaram com os louros visigodos e estes com os latinos e pré-romanos e de permeio com muitos outros. Do cruzamento destas gentes tão diversas em temperamento e com expressões culturais tão diferentes se haveria de soltar o português, forma única, porque o cruzamento que lhe deu origem foi também único de um ser humano fadado a um destino universal e universalista, como universal e universalista é a matriz étnica e cultural que lhe deu origem.

6) Ainda que não haja essa predestinação ou papel meta-histórico português (se a houver é irrelevante que lhe dicutamos o fim) parece-me possivel nesta fase do raciocínio chegar a uma espécie de bifurcação: por um caminho, defender que a valia histórica de Portugal (o simples facto de ser nação lhe não traz nenhuma, à semelhança da pobre Dinamarca) consistiu em ter sido visivel para nós, que nos habituámos a ver a História como a História das Nações, a possibilidade prática da conversabilidade: não é uma utopia de filósofos, mas uma coisa que aconteceu aqui neste lugar do mapa e neste ponto da seta do tempo. Se aconteceu uma vez, diz-nos o bom senso que pode voltar a acontecer: em princípio, não há milagres. MAs então Portugal cumpriu-se, de facto, e falta já não faz nenhuma (falta faz a "conversabilidade", ela mesma). Como a antiga Grécia, que ainda hoje nos inspira já não existindo.
[NOTA: estou ciente de que o pressuposto explicito no Manifesto da N.A. é o da "não-entificação"]


> Essa é a minha visão. Se Portugal parece ser em tantos domínios uma espécie de "Estado-falhado", surgindo tão frequentemente nas posições inferiores de tantas listas ordenativas da Europa, tal deve-se ao facto de Portugal, ter sido sempre muito mais uma "ideia de nação" do que uma nação. Portugal, na sua mais pura forma de existência, não foi uma nação que teve um império ultramarino. Portugal era a sua presença no Ultramar e quando este foi solto na sua devida liberdade, o tronco de onde emanavam essas ramos, mirrou e secou, incapaz de existir sem esses seus prolongamentos. A "opção europeia" que lhe inventaram para o tornar um país dedicado a vender o Sol aos ricos do norte da Europa, vivendo de turismo, praia e "serviços" não pôde nunca servir de alternativa a uma vocação ultramarina atávica e constitutiva da própria essência da portugalidade.

7) Mas por outro caminho dir-se-á que a constatação da "vida conversável" em Portugal mostra a importância da manutenção de uma Nação - a conversa começa geralmente a dois, ou a poucos, embora depois, como aqui, progressivamente se vá alargando. Por este caminho dir-se-á que não é a Nação o obstáculo, mas o "maquiavelismo" (e agora, infelizmente, mais um conjunto de problemas com que D. João III nem sonhava); e poder-se-á continuar defendendo que a libertação das ilusões do "mundo moderno" é mais eficaz quando realizada num quadro comunitário, ou nacional.

> Se é o "Centralismo" o maior adversário ao cumprimento de Portugal, então terá que passar pela sua supressão o advento do Quinto Império, forma plena de Portugal na sua História e do seu devir. É no Portugal descentralizado nos municípios livres e semi-independentes do Portugal medieval, pré-maquiavélico, onde o Rei buscava o essencial do seu apoio para afirmar um Estado jovem e vigoroso contra os impulsos feudais da nobreza e do clero. O ideal da "vida conversável", só pode ser alcançado quando as partes que dialogam, são paritárias, isto é, quando nenhuma delas se arroga a uma situação superior à outra e isso é incompatível com um Estado centralizado ou com uma organização piramidal da sociedade.

8) Aqui voltamos ao "patriotismo" e às paixões imoderadas do Vieira. Eu lembro-me, por exemplo, de ler numa crónica dos Descobrimentos a história de um D. Manuel de Lima que, para intimidar com os seus navios o capitão turco de uma fortaleza, mandou encher os mastros de cadáveres de gente que foi passando a fio de espada à medida que cruzava as aldeias vizinhas dessa fortaleza; parece que aterrorizou de tal modo os turcos que se renderam de imediato; mas não pode, obviamente, justificar a sua acção com o "patriotismo" que talvez sentisse. Obviamente, não queremos mais gente desta.

> Afonso de Albuquerque, o grande fundador do Império do Oriente, realizou bastas violências destas... Recordo-me também de uma nau moura (turca?) que encheu com mãos e orelhas cortadas e que lançou para um porto controlado pelos muçulmanos, algures na Índia... Aqui também é necessário contextualizar. Tais práticas eram muito comuns na época e havendo um tão grande desiquilíbrio de forças no Oriente, para que Portugal pudesse sobreviver no Oriente tinha não somente de seguir as mesmas práticas dos outros actores na região, sob pena de ser considerado "fraco" perante potencias locais e internacionais que não hesitavam em recorrer a tais barbarismos, como precisava de instituir um certo "terror" perante a força das suas armas, já que as suas bases (e reforços) se encontravam a um ano de navegação perigosa e incerta e que em todo o Oriente havia talvez pouco menos de 1000 homens de armas e menos de 50 navios de guerra... Isto perante forças locais que podiam ascender ao meio milhão de homens, como aqueles que mais do que uma vez foram lançados (sem sucesso) contra a praça portuguesa de Diu. Se não precisamos de "cortadores de narizes e mãos", precisamos contudo daqueles portugueses de seiscentos que não se atemorizavam perante estas imensas hordas de gentes, nem perante estas circunstâncias aparentemente impossíveis de vencer. É essa convicção na ação correta de que precisamos agora, para podermos sair deste pântano europeu onde nos encastraram e de onde precisamos de sair se queremos regressar a esta ideia de Portugal.

9) Não me parece evidente, neste caso, a vantagem de uma "união luso-brasileira" que não seja PRECEDIDA por um retomar de consciência "local". Posto de outra forma, reconhecendo vantagem no diálogo das línguas, não vejo que o Esperanto seja salvífico: e por isso hesito diante do "refundar Portugal, abolindo-o" como hesitaria diante do "refundar a língua portuguesa, adoptando o Esperanto". O inglês está aí pronto a servir em todo o planeta.

Impôr uma união Portugal-Brasil a uma nação que não sente esta união política como necessária é um ato de violência e um desperdício inútil de recursos e tempo. Estas transformações não se realizam a partir do exterior ou de um topo político ou cultural. Têm que brotar do interior de cada um e de firmar aqui o seu terreno sólido para depois, pela via do exemplo próprio e da sua expressão pública passarem ao exterior e ganharem aqui consistência. Se Portugal deve ser abolido para que se cumpra plenamente o "Quinto Império" tal é porque essa abolição é já hoje efetiva! Portugal não existe mais, não passa de um cadáver adiado que sobrevive fundamentalmente como apêndice europeu e dos fundos que esta Europa do norte - que tão pouco tem a ver com a sua alma verdadeira - alimenta de forma intravenosa. Para que este Portugal reencontre o seu seu sentido e alma, terá que os buscar novamente fora de si, num mundo que ajudou a desbravar e a re-ligar. Por isso, se a abolição de Portugal consiste na sua re-ligação ao mundo lusófono que perdeu, obcecado com um "imperialismo" e um "centralismo" que têm muito de germânico e inglês e muito pouco de "português"; então que morra. E que na sua morte salvífica e fértil possa nascer a sua próxima encarnação: a União Lusófona.

5 comentários:

Casimiro Ceivães disse...

Clavis, estou como uma criança na noite de Natal: já não durmo, mas só posso desembrulhar a prenda mais logo...

Sob o duplo sinal do/da Vieira, desde já um abraço.

lara disse...

Apesar de a igreja que temos banir cada vez mais, ainda me encontro em cristo. Que seria banir o cristianismo de onde se encontra na sociedade e na cultura, e por interesses dos homens? Seria aberrante.

Unknown disse...

Ai o Natal...

o Natal...

Unknown disse...

Há séculos que parecem dias, há dias que parecem séculos...

Unknown disse...

Há rosas que querem quebrar o relógio do tempo... senão fora elas serem ainda ele.